Fundo de cobertura é basicamente um nome chamativo para uma parceria de investimento. É o casamento entre o gestor de fundos, que pode ser muitas vezes considerado o parceiro geral, e os investidores do fundo de cobertura, por vezes conhecidos como parceiros limitados. Os parceiros limitados contribuem com os fundos e o parceiro geral gere-os de acordo com a estratégia do fundo. O propósito de um fundo de cobertura é maximizar os retornos do investidor e eliminar o risco, daí a palavra “hedge” (cobertura de risco). Se os objetivos soarem semelhantes aos dos fundos mútuos, é porque são – mas as parecenças terminam aí.
O termo “fundo de cobertura” surgiu na medida em que o objetivo destes veículos é alcançar lucros independentemente do mercado subir ou cair. Tal é tornado possível na medida em que os gestores podem “proteger-se” a si próprios ao colocar posições longas (long) ou curtas (short) (shorting, ou venda a descoberto, é uma forma de lucrar quando as ações caem).
Principais características
- Apenas abertos a investidores “acreditados” ou qualificados: os investidores de fundos de cobertura têm de atender determinados requisitos de património líquido para investir nos mesmos – património líquido superior a 1 milhão de dólares excluindo a sua residência principal.
- Maior latitude de investimento: o universo de investimento num fundo de cobertura é apenas limitado pelo seu mandato. Um fundo de cobertura pode basicamente investir em qualquer coisa – terra, imobiliário, ações, derivados, moedas. Os fundos mútuos, por contraste, têm de se limitar a ações ou obrigações.
- Empregam, muitas vezes, alavancagem: os fundos de cobertura recorrem muitas vezes a fundos emprestados para amplificar os seus retornos. Como observado durante a crise financeira de 2008, a alavancagem também pode acabar com os fundos de cobertura.
- Estrutura de comissões: em vez de cobrarem apenas uma taxa de despesas, os fundos de cobertura cobram uma taxa de despesas e uma comissão de desempenho. A estrutura comum de comissão é conhecida como “Dois e Vinte” – uma taxa de gestão de ativos de 2% e 20% de quaisquer ganhos gerados.
Existem mais características específicas a definir os fundos de cobertura. No entanto, como são instrumentos de investimento privado que apenas permitem o investimento por parte de indivíduos com capacidade financeira para tal, os fundos de cobertura podem fazer o que quiserem desde que divulguem a sua estratégia, antecipadamente, pelos investidores. Esta ampla latitude pode soar muito arriscada e, por vezes, pode ser. Algumas das mais incríveis implosões financeiras envolveram fundos de cobertura. A flexibilidade oferecida aos fundos de cobertura levou alguns dos mais talentosos gestores de fundos a produzir retornos de longo prazo surpreendentes.
Um exemplo imaginário
Para melhor compreender os fundos de cobertura e porque se tornaram tão populares entre investidores e gestores de fundos, vamos definir um e ver como funciona durante um ano. Vou nomear o meu fundo de cobertura de “Value Opportunities Fund, LLC”. O meu acordo operacional – o documento legal que diz como o meu fundo funciona – determina que irei receber 25% de quaisquer lucros acima de 5% ao ano, e que posso investir em qualquer coisa e em qualquer lugar do mundo.
Dez investidores aderem ao fundo e cada um avança 10 milhões de dólares. Assim, o meu fundo começa com 100 milhões de dólares. Cada investidor preenche o seu contrato de investimento – semelhante a um formulário de criação de conta – e envia o seu contributo diretamente para o meu corretor ou para o administrador do fundo, que irá registar o seu investimento e transferir os fundos para o corretor. O administrador do fundo é uma empresa de contabilidade que fornece todo o trabalho de administração para um fundo de investimento. O Value Opportunities Fund está agora aberto e começo a gerir o meu dinheiro. Assim que encontrar oportunidades atraentes, ligo ao meu corretor e digo-lhe o que comprar com os 100 milhões de dólares.
Passa um ano e o meu fundo subiu 40%, valendo agora 140 milhões de dólares. Agora, de acordo com o acordo operacional do fundo, os primeiros 5% pertencem aos investidores com qualquer valor acima a ser dividido 25% para mim e 75% para os meus investidores. Assim, o ganho de capital de 40 milhões de dólares será primeiramente reduzido a 2 milhões de dólares, ou 5% de 40 milhões, seguindo esse valor para os investidores. Esses 5% são conhecidos como “hurdle rate” (taxa mínima de atratividade) na medida em que é necessário chegar a esses 5% para ganhar qualquer compensação de desempenho. Os restantes 38 milhões são divididos: 25% para mim e 75% para os meus investidores.
Com base no desempenho do meu primeiro ano e nos termos do meu fundo, ganhei 9,5 milhões de dólares de compensação num único ano. Os investidores ficam com os restantes 28,5 milhões de dólares juntamente com os 2 milhões de dólares da hurdle rate, um ganho de capital de 30,5 milhões de dólares. Como pode ver, os fundos de cobertura podem ser bastante lucrativos. Se eu estivesse a gerir mil milhões de dólares, teria recebido 95 milhões de dólares e os meus investidores teriam recebido 305 milhões de dólares. É claro que muitos gestores de fundos de cobertura são vilipendiados por deterem somas tão exuberantes de dinheiro. No entanto, o “apontar o dedo” – normalmente da parte da comunicação social – esquece-se de mencionar que os meus investidores fizeram 305 milhões de dólares. Quando foi a última vez que ouviu um investidor de um fundo de cobertura queixar-se do seu gestor de fundo estar a receber bastante?
Não é para todos
Os fundos de cobertura oferecem benefícios valiosos face aos fundos de investimento tradicionais. Alguns dos seus benefícios mais notáveis incluem:
- Avançam estratégias de investimento que têm capacidade para gerar retornos positivos tanto em mercados de ações como de obrigações, em ascensão ou queda.
- Os fundos de cobertura numa carteira equilibrada podem reduzir o risco e volatilidade global da carteira e aumentar os retornos.
- Uma grande variedade de estilos de investimento em fundos de cobertura – muitos não correlacionados uns com os outros – fornece aos investidores a capacidade para personalizar com precisão uma estratégia de investimento.
- Acesso a alguns dos mais talentosos gestores de investimentos do mundo.
É claro que os fundos de cobertura não estão isentos de riscos:
- Uma estratégia de investimento concentrada expõe os fundos de cobertura a potenciais grandes perdas.
- Os fundos de cobertura geralmente exigem que os investidores bloqueiem fundos por um período de anos.
- A utilização de alavancagem, ou de fundos emprestados, pode transformar o que teria sido uma perda menor numa perda significativa.