O petróleo e o gás natural norte-americanos são um elemento crucial não só para a economia desse país como para todo o mundo. Será que está a ser extraído de um modo economicamente sustentável?
O Geocientista canadiano David Hughes tem dificuldades em aceitar o aumento da produção de poços dos EUA e antevê o declínio da produção. Ao trabalhar com o Post Carbon Institute (instituto Pós-Carbono, dos EUA) – setor de sustentabilidade think-tank, no qual Hughes analisa meticulosamente a indústria a partir de um conjunto de 65.000 poços de óleo e gás natural, conclui que o método utilizado para extração o fraturamento hidráulico, coloquialmente conhecido por “fracking”, causa muito estremecimento. O processo consiste na perfuração vertical e horizontal, depois são bombeados jatos de água, areia e produtos químicos, injetados a grandes profundidades, e criam-se assim fissuras que permitem ao óleo e ao gás fluir. Hughes revela que os poços perfurados desta forma, diminuíram a produção de combustível em 85%, nos últimos 3 anos “Geralmente, no primeiro ano pode haver uma queda de 70% na produção”, disse Hughes ao VICE News.
“No segundo ano, talvez 40%; e no terceiro 30%. Por isso a taxa de declínio é uma curva hiperbólica. Contudo, ao chegar ao terceiro ano, a taxa já passou de 80% a 85%, na maioria dos poços.”
Esta conclusão põe em causa a viabilidade do desenvolvimento estratégia nacional de energia a longo prazo, que indica que a extração de combustível fóssil continuará nos níveis atuais. Neste momento há vários terminais de exportação de gás natural a serem postos em causa em diversos países. A indústria energética está a ser empurrada para trás, até pelas regulamentações estabelecidas no Congresso Americano de 1970, que tornou ilegal a exportação de petróleo de origem doméstics.Apela-se á construção do oleoduto Keystone XL que vai permitir um maior transporte de petróleo e gás. As linhas ferroviárias do país também são baseados na revolução na produção de energia doméstica.
As elites políticas dos EUA estão a braços com a promessa da independência da energia Americana – e isso para Hughes é um verdadeiro disparate.Para ele estas políticas estão a ser instauradas e sustentadas, por vários políticos, que vão desde a Ex-Governadora do Alasca, Sarah Palin, que na sua campanha eleitoral fez uso do slogan “Drill, Baby, Drill”, ao presidente Barack. Promovem a perfuração dos poços em busca das “minas de óleo” para terem lucros a curto-prazo para a indústria, ao invés de sustentarem um crescimento político nacional de energia sustentável.
Hughes diz: “Não há dúvidas que a revolução do xisto tem sido um divisor de águas a curto prazo” e que “a implicação do meu trabalho para eles, é que não é sustentável a longo prazo”.
Hughes é catastrofista em relação às alterações climáticas, provocadas pelas perfurações excessivas da indústria dos combustíveis fósseis. Trabalha como consultor, de companhias de combustíveis fósseis, como a corporação Imperial Oil, sediada no Canada, e por vezes faz aconselhamento a investidores no campo das energias. É tido em bastante consideração pelos profissionais do setor energético. Analisou durante 32 anos o carvão, petróleo e gás. Fez formações para o Geological Survey, no Canadá, centro responsável por investigar os recursos naturais do país.
Encontrar um campo de xisto, prospero, é conhecido como um “jogo”, é preciso ter a combinação certa de matéria orgânica madura decomposta á milénios, convertida em gás natural ou óleo, e formações rochosas porosas o suficiente para que possam ser separadas, para permitir a extração do combustível fóssil dos poços.
Até há bem pouco tempo, o gás e o petróleo que estava condicionado dentro das formações rochosas de xisto, eram inacessível: os recursos tecnológicos eram insuficientes, e a extração demasiado cara. Em 1990 o panorama mudou, quando Mitchell, pioneira no ramo da energia, deu os primeiros passos no fraturamento hidráulico e demonstrou em larga escala poder extrair uma parte confiável de gás de xisto da Barnett Play no Texas.
Segundo o Departamento de Energia dos EUA, o aumento da extração de óleo de xisto americano na última década disparou de 260 mil barris dia, para aproximadamente quatro milhões por dia, colocando os Estados Unidos apenas atrás da Arábia Saudita e da Rússia na produção total de óleo. Como cerca de 50% da produção de gás natural americano vêm dos campos de xisto.
Contudo as análises Hughes revelam que o crescimento da produção domestica vai decrescer.
“As empresas escolhem sempre as melhores localizações para fazer a perfuração”, disse, “Depois de esgotarem os melhores locais são obrigados a ir para locais cada vez com rochas de menos qualidade, e a fazer mais poços, que mesmo não sendo caros, gastam dinheiro. E fazem mais poços para contrariar o declínio do combustível”.
Hughes explicou que mais de 80% do óleo de xisto vem da formação geológica de Bakken em Dakota do Norte e da formação geológica de Eagle Ford no Texas. Estima-se que a produção nestas regiões no ano de 2019 vá estar nos níveis da produção de 2012. A produção total atingirá o seu pico em 2017.
Estima-se que no campo de Bakken, sejam necessários 1.400 poços novos, por ano, de forma a compensar o declínio da produção actual. Que neste momento, é de 45%, sensivelmente um milhão de barris por dia, ou 450 mil barris por dia a cada ano.
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“Precisa de 1,400.8 milhões de poços para satisfazer as suas necessidades, mas estão a ser perfurados mais do que isso, perfuram-se 2.000 ao ano”, explica que “Sendo assim, a produção em Bakken vai continuar a aumenta. Mas porque, neste momento ainda estão a perfurar terreno fértil. Quando o terreno fértil acabar, eles também vão entrar em declínio.”
O cenário é semelhante nas explorações de gás de xisto, onde 80% da produção provém apenas de cinco áreas. E algumas delas, segundo Hughes já estão em declínio.Dê uma olhadela na exploração de Haynesville, que é a número um do estado de Louisiana no Texas.” Disse Hudge, referindo-se à área de onde se extrai gás natural, desde 2008. “Era a maior reserva de gás natural dos EUA em 2012, quando atingiu o pico mais alto, e agora está 46% abaixo do seu pico.”
Hughes estima que para manter os níveis atuais de produção de xisto, a taxa de deterioração dos poços vai subir, e que por isso vai ser exigida a perfuração de mais 7.000 novos poços ao ano, o que representa um custo anual de 42 bilhões de dólares. E para manter a produção global de óleo de xisto, devem ser perfurados aproximadamente 6.000 poços ao ano, um esforço que vai custar 35 bilhões.
O silencio mortal de Nova Iorque, perante o “fracking”.
Dan Withen, o porta-voz do grupo America's Natural Gas Alliance, quando confrontado com a análise de Hughes, desviou o assunto, e fez uma declaração geral sobre o sector de gás natural dos Estados Unidos.
Disse: “As nossas empresas fazem investimentos nesses poços, porque os especialistas nas taxas de produção estudaram-nos. Até mesmo os poços em decadência podem continuar a produzir robustos volumes de gás natural ao longo de décadas”, disse ainda, “e isto porque os cientistas mais credíveis viram potencial nestes recursos limpo, agora e no futuro.”
A IPPA – Independent Petroleum Association of America, não respondeu ao pedido de comentário, acerca da investigação de Hughes, sobre a viabilidade a longo praxo da produção de óleo de xisto nos EUA.
O relatório de David Hughes, não foi contestado até à data, e segundo o que Jigar Shah, comentador e empreendedor de energias limpas e na criação de soluções orientadas para o mercado disse ao VICE News “o que se fez foi trazer á tona a questão sobre qual é a função do governo, e qual o lugar que ocupa nos lugares como Dakota do Norte. Vai chegar a hora em que o sonho vai acabar.”
Shah apontou para pressão que a industria de combustíveis fósseis impõe ás infraestruturas públicas, como as estradas e redes de serviço publico. Ele crê que o “boom” da energia acabou e os gigantes da indústria já retiveram os lucros, e o estado e os seus contribuintes ficam com a ruina dos sistemas de água e rodovias nas mãos.
“Eu até posso entender, o interesse das corporações” remata Hughes, “Eles fazem o que tiver de ser feito para manter os rendimentos trimestrais, mas não se preocupam com a sustentabilidade da energia a longo-prazo na América”. “Para mim, “acrescentou ele”, “a política a longo prazo praticada, é que o xisto é uma fonte de rendimento a curto-prazo.”