Prepare-se para viver sem petróleo
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O petróleo é ainda a fonte energética na base da nossa civilização. Porém é altamente poluente e é a fonte de sustento de regimes políticos que cometem atrocidades contra os direitos humanos. Mas a dependência do petróleo pode estar prestes a acabar.

A Arábia Saudita não é o mais agradável aliado para se ter. O reino do deserto aplicou uma sentença de 1.000 chicotadas a um blogger pela dinamização de um site dedicado à liberdade de expressão. Não é exatamente o tipo de regime que queremos ter no nosso círculo de amigos, especialmente quando percebemos o seu apoio financeiro ao Estado Islâmico e a outros grupos radicais islâmicos.

Mas vai-se para a guerra com os aliados que se tem, não com os aliados que se deseja ter – e na guerra do preço global do petróleo contra a Rússia e o Irão a Arábia Saudita é o indispensável aliado dos E.U.A. Ao continuar a bombear petróleo a uma tarifa intacta os sauditas repetem o truque que utilizaram em meados dos anos 80 - permitir que os preços do petróleo diminuam em resposta ao aumento da oferta ocidental privando, assim, o seu rival (Irão) e outros (Rússia) de receitas – e, neste processo, afundando temporariamente a indústria de xisto dos E.U.A.

Seria bom se pudéssemos escapar deste ciclo – para não falar sobre limitar as emissões globais de carbono. Contudo, o petróleo continua a ser o produto indispensável, sem o qual a civilização industrial recuaria à idade do carvão – ou pior. Assim, estamos presos aos sauditas, presos à Rússia e ao Irão e presos à nossa dependência de um único recurso não-renovável e gerador de poluição.

E se tivéssemos um Homem de Ferro real – capaz de construir “reatores de arco” mágicos e de resolver as nossas necessidades de energia para sempre? Bom, de facto temos o homem que inspirou a versão em filme de Tony Stark – Elon Musk, fundador da Tesla.

Musk e a Tesla não inventaram o reator de arco mas estão a introduzir rápidas e significativas melhorias numa tecnologia mais terra-a-terra – a bateria de ião de lítio. As planeadas “giga-fábricas” da Tesla em Nevada e, possivelmente, Nova Iorque irão aproveitar as economias de escala a um nível sem precedentes, baseando-se em melhorias que reduziram os custos de armazenamento de energia em baterias ao longo das últimas duas décadas.

O gráfico seguinte (do futurista Ramez Naam) mostra como a quantidade de energia que pode ser armazenada em baterias de lítio por 100 dólares aumentou entre 1991 e 2005, dando uma ideia do quão rapidamente desceram os custos com baterias:

Estes dados são de um estudo de 2009, da Universidade de Duke. A eficiência do armazenamento também não parou desde 2005; de acordo com Naam, o custo de baterias elétricas para carros diminuiu 40% entre 2010 e 2013. As giga-fábricas da Tesla estão projetadas para reduzir os custos a um ritmo ainda mais rápido.

Estas quedas, ao contrário da recente queda de 50% dos preços do petróleo, não são temporárias. São impulsionadas pelo aumento da procura, o que estimula o progresso tecnológico – e não pela redução da procura, o que reduz o preço do petróleo. No caso do petróleo, novas tecnologias como o fraturamento hidráulico permitem-nos ter mais petróleo mas sempre a um custo mais elevado do que anteriormente – no caso das baterias a tecnologia só melhora.

Uma análise de 2011 da McKinsey & Co. avançou que os preços das baterias teriam que diminuir cerca de três-quartos para tornar o custo dos carros elétricos competitivo com o preço da gasolina a 2.50 dólares por cada quase quatro litros. Mas isto foi há quatro anos, e os preços das baterias continuam a descer. Poderemos ver carros elétricos com custos competitivos a dominar as estradas em menos de uma década - isto é o quão rápido a tendência do custo se move.

É claro que tal exigirá significativas mudanças nas nossas infraestruturas de fornecimento de energia para transporte – vamos precisar de substituir bombas de gasolina por postos de carregamento. É por isso que o Homem de Ferro – ou Elon Musk – decidiu permitir que outras empresas utilizem a tecnologia patenteada da Tesla, de graça. Quando outras empresas do sector automóvel entrarem no jogo dos carros elétricos – como a General Motors, que anunciou recentemente um novo carro elétrico, o Chevy Bolt – o incentivo para a construção de mais infraestruturas para carregamento elétrico aumenta. Quantas mais infraestruturas para carregamento forem construídas, maior incentivo existe para os consumidores comprarem carros elétricos e assim por diante – um clássico exemplo do efeito de rede.

Os carros elétricos não irão libertar a humanidade da necessidade de petróleo. Também utilizamos petróleo para produzir plástico e outros produtos – e para o aquecimento. O petróleo para aquecimento irá provavelmente ser substituído pela energia solar, claro, para a qual as baterias de Musk também serão úteis (adeus indústria de serviços públicos!). Também utilizamos petróleo como combustível para a aviação – o que não pode ser facilmente substituído por baterias.

Contudo, o transporte terrestre ainda constitui a maior parte da nossa utilização do petróleo. Assim que as baterias avançarem ao ponto em que o petróleo já não será utilizado para carros e camiões os sauditas, os russos e os iranianos estarão a vender o que será, de repente, um nicho de produto. Simultaneamente os E.U.A., o Japão, a Europa e outros países importadores de energia estarão livres do io-io dos preços globais de petróleo.

Por outras palavras: serão menos de duas décadas até que estejamos livres do domínio dos Estados do petróleo e dos seus regimes atrasados. Vai Homem de Ferro! …Hum, quero dizer, Elon Musk.

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