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Muitas vezes a realidade política tem consequências fatais para os investimentos efetuados. Muitos investidores podem estar a perder largas somas devido à crise na Ucrânia. Quer perceber como quem perdeu mais foi quem esteve menos atento às notícias?

Michael Hasenstab, pode ter feito o erro mais embaraçoso da sua carreira. A Ucrânia, com cujos bónus ele arriscou bastante enquanto o Presidente Viktor Yanukovych ainda estava no poder, está a começar a falar com credores internacionais sobre a reestruturação do seu débito no estrangeiro. As negociações serão difíceis, e mesmo que o governo ucraniano tente dar a imagem de não terem grandes consequências negativas, Hasenstab poderá perder uma soma significativa no seu investimento.

A Ucrânia pediu já ao FMI que substitua o acordo feito a curto-prazo, e de momento em pausa, no valor de 17 mil milhões de dólares, por um fundo estendido, a longo-prazo, contingente a um plano de reforma que se estenderá ao longo de vários anos. Numa conferência de imprensa, a directora do FMI Christine Lagarde refere-se à proposta como aceite e em andamento. O que são boas noticia para a Ucrânia: fundos do FMI são um salva vidas para uma economia onde a coleção de impostos é uma desordem, os serviços de alfândega não são capazes de travar uma corrupção crónica, e as industrias responsáveis por cerca de 15% do PIB estão encurraladas numa zona de guerra no este do país.

País cheio de dívidas

O país depara-se com um défice orçamental de 15 mil milhões de dólares em 2015 (os Estados Unidos e a União Europeia prometeram até agora uma ajuda de cerca de um quarto desse total) e, de acordo com Standard & Poor, tem uma divida de 11 mil milhões em moeda viva a ser paga até ao fim deste ano, apesar das suas reservas no estrangeiro contabilizarem apenas 7,5 mil milhões no início deste mês. Serhiy Fursa, um especialista em receitas fixas, do Dragon Capital de Kiev, argumentou já que muito dos 11 mil milhões podem ser ligações denominadas do dólar doméstico, mantidas pelos bancos do estado que rotineiramente passam por cima dessas dívidas; de acordo com Serhiy Fursa, a única coisa com que a Ucrânia tem de se preocupar são as redenções do euro bónus no valor de 4,2 mil milhões, dos quais 3 mil milhões são uma dívida com a Rússia vinda de um bónus especial emitido em 2013 para apoiar Yanukovych.

Natalie Jaresko

Na conferência de imprensa publicada no facebook, a Ministra das Finanças ucraniana Natalie Jaresko explicou que, como parte do novo acordo com o FMI, o ministério irá fazer “auditorias” aos detentores da divida ucraniana, para “melhorar a estabilidade financeira a médio prazo”. De acordo com Jaresko, “ os mercados estavam à espera deste passo e devem favorecê-lo porque ele irá providenciar o suporte necessário para a Ucrânia lançar a sua renovação económica rapidamente, e trará resultados positivos para todas as partes interessadas.”

De facto, os mercados têm estado à espera que a Ucrânia caia. A troca de spread na falta de crédito na divida ucraniana está nos 2,755 pontos, mais 40% até agora este mês, o que quer dizer que custa $275.500 por ano para assegurar $1 milhão da falta de pagamento desta dívida. De todos os emitentes soberanos, soa a Venezuela tem um prémio de seguros maior. Se a Ucrânia conseguir oferecer temos decentes aos seus credores – uma maturidade moderada estendida, talvez um cupão de receitas mais baixo- então os bónus Ucranianos, que agora estão a baixo dos 60 cêntimos ao dólar, podem ganhar valor. Esta pequena, e voluntária restruturação não disparará os CDS, e poderia baixar os spread porque a probabilidade de não pagamento a curto-prazo seria reduzida.

A Rússia de novo

No entanto, mesmo um acordo amigável poderia constituir uma má divida, de acordo com a definição de Standard&Poor. E a Ucrânia encara um potencial problema por causa do euro bónus manido pela Rússia. De acordo com os temos desde euro bónus, Moscovo pode solicitar um pagamento mais cedo, se a relação de débito com os produtos domésticos da Ucrânia exceder os 60%. Agora está nos 75%: a Ucrânia deve 134 mil milhões de dólares a credores externos, e teve um PIB de 177 mil milhões em 2014. A Rússia ainda não tomou a oportunidade de exigir o dinheiro, mas as relações entre os dois países estão a deteriorar-se rapidamente, outra vez, à medida que os confrontos crescem na Ucrânia do Leste.

No início desta semana, os ministros dos negócios estrangeiros da Ucrânia e da Rússia, com a ajuda dos colegas francês e alemão, concordaram, em Berlim, que a Ucrânia e os rebeis pró-russos devem retirar a sua artilharia da linha demarcada em Setembro passado. O problema com este acordo é que a linha em si mesma é contestada porque não foi claramente demarcada nos acordos de Setembro. Os rebeis têm-se aproveitado dessa ambiguidade para ganhar território, tendo-os estendido nos passados dias para chegar ao aeroporto (fechado) de Donetsk, há muito visto como um símbolo da resistência ucraniana aos russos, e à violência por eles inspirada. A guerra continuou hoje, apesar dos novos acordos.

Esta situação torna o trabalho de Jaresko mais difícil para discutir uma revisão da divida com o seu homónimo em Moscovo, Anton Siluanov. Se, contudo, a Ucrânia pagar o que deve a Moscovo no total- ainda tem reservas para tal, mesmo antes de receber seja o que for do FMI- outros detentores de bónus terão de mostrar alguma compreensão pela situação política de Kiev quando estes lhes pedirem para esperar mais tempo pelo pagamento.

Problemas de Hasenstab

Michael Hasenstab

Hasenstab será uma figura importante nestas negociações. Ele gere os bónus da Templeton que asseguram 8,8 mil milhões de dólares da divida ucraniana desde o fim de Setembro de 2014. (Eles ainda não comunicação novos dados desde então.) Em Junho, o gerente do fundo, que ganhou bastante no débito Irlandês e Húngaro no passado, pintou uma ligeira descrição deste investimento:

"Como um investidor baseado no dólar, nós não aceitamos nenhum risco de câmbio, nós levamos os bónus do governo ucraniano que estão discriminados em dólar, num país que tem 40% de divida no PIB. Nunca foi uma questão de solvência. Foi mais uma questão de liquidação, e recentemente com o pacote do FMI, ajuda internacional, a que a Ucrânia terá acesso durante os próximos anos, por causa da sua boa reforma, uma questão de $30 mil milhões de assistência internacional".

Naquela altura, no entanto, alguns bónus ucranianos estavam a ser trocados perto do seu valor. Hasenstab, que comprou os instrumentos a cerca de 80 cêntimos do dólar, podia dar-se ao luxo de ser positivo. Agora, com a restruturação à porta, e com o nível da divida ucraniana a subir à medida que o PIB continua a deslisar, ele provavelmente terá de reavaliar as suas palavras.

Certo, é apenas uma pequena parte dos 119 mil milhões de dólares em bónus que ele gere para Templeton, mas para alguém que tem uma reputação de sucesso a manter, a quase inevitável restruturação é um golpe bastante fora de proporção do efeito real das perdas financeiras. Alem disso, os dados mais recentes de Hasenstab já foram anormalmente fracos. A performance de um ano do seu maior achado, a Templeton Global Bom está apenas nos 54% dos seus pares, e este mês, nos 27% mais baixos até agora.

A lição aqui é que investir com base no fundamento, e ignorar as “barulhentas manchetes” não é sempre uma boa ideia. Quando as geopolíticas intervêm, os fundamentos podem mudar rapidamente e inesperadamente. Talvez Goldman Sachs e mais algumas grandes companhias de seguros, que deixaram bónus ucranianos o ano passado, estivessem corretas ao prestar mais atenção às notícias.

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