No século XXI as mulheres continuam a encontrar barreiras profissionais específicas de género. A diferença é que nos dias de hoje essas barreiras são mais subtis. Veja como as mulheres executivas entram mais facilmente em depressão e o que pode ser feito para alterar esse fenómeno.
Há pouco tempo, um amigo meu questionou-me sobre a minha reação a um estudo realizado pela Universidade do Texas, no qual apresentava que as mulheres executivas tinham taxas de depressão elevadas em comparação com homens executivos. Como mulher CEO e empreendedora tecnológica, a minha opinião improvisada foi:
“Porque é que isso não me surpreende! Estamos condenadas se estivermos e se não estivermos”.
O meu amigo ficou surpreendido mas interessado em saber o que é que eu queria dizer com aquilo. Por isso, tentei desenvolver.
É basicamente isto: uma mulher que esteja à frente de uma empresa provavelmente vai ter poucos colegas ou modelos de referência. Por isso, há uma hipótese enorme de ser alvo de um escrutínio externo e interno do seu estilo, ações e sucessos. Um homem pode trabalhar muito para chegar ao topo, mas os seus passos nunca vão ser questionados nem criticados assim que lá chega. Já uma mulher tem de chegar lá e “reconquistar” a sua posição todos os dias. É esgotante. E não é surpresa nenhuma, que tudo isso possa levar a uma depressão.
Existe um entrave adicional. Mary Catherine Bateson afirmou no seu livro Composing a Life (Construindo uma Vida) que as mulheres normalmente comparam o seu sucesso com várias dimensões relativamente ponderadas da mesma forma. Apesar de não ser igual para todas as mulheres, essas dimensões são normalmente a carreira, o marido, os filhos, a casa, saúde, amizades e o autodesenvolvimento. Para mim, bate certo.
Até posso fechar um negócio na terça-feira, mas se me esqueço de enviar um postal de aniversário a um amigo ou se não houver comida saudável no meu frigorífico quando chego a casa, a celebração do meu sucesso não sabe tão bem.
Um claro exemplo de como o meu conjunto de objetivos impossíveis e as minhas responsabilidades podem entrar em conflito é o seguinte: quando fez dois anos que comecei o meu projeto The Grommet, fui obrigada a fazer uma pequena intervenção cirúrgica que exigia anestesia geral. Acreditem ou não, comecei a matutar no futuro, que iria ser destituída da minha posição porque sabia que a cirurgia iria manter-me afastada, pelo menos por algum tempo, das minhas responsabilidades.
Esta aspiração ridícula de “fechar um negócio em São Francisco e ao mesmo tempo ir buscar produto novo a Boston” é difícil de recuperar. Se as mulheres estabelecerem padrões de sucesso impossíveis numa série de dimensões mutualmente exclusivas, esta questão vai demorar décadas a resolver-se, uma vez que ela está entranhada na psique pessoal da mulher e na sua situação doméstica.
Contudo, arranjar uma solução para a questão da falta de modelos de referência e atribuir uma melhor representação das mulheres líderes está ao alcance e é do interesse de todos.
Várias investigações demonstram retumbantemente que o crescimento e o lucro das maiores empresas estão diretamente correlacionadas com uma liderança diversificada das equipas. Além disso, um estudo realizado pela Bain em 2014 descobriu que a satisfação dos colaboradores é “muito maior do que a média tanto nos homens como nas mulheres, quando as empresas se dispõem a oferecer a ambos os sexos oportunidades iguais de salário e promoções.”
No meu ponto de vista, este problema e oportunidade para “fazer as coisas bem” começa com a criação de uma empresa. Segundo os meus cálculos, se apenas 5% das mulheres CEO apareceram na Fortune 500, a este ritmo glacial de mudança serão precisos 400 anos para se chegar aos 50%.
Tempo de mudanças
Obviamente que também é preciso que as mulheres criem elas próprias empresas, mas há algo muito maior que todos, como trabalhadores interessados e membros da sociedade, podemos fazer para construir o mundo empresarial ideal – um em que nós, mulheres, não sejamos servidas de uma dose de depressão a acompanhar uma grande promoção.
- Consumidores: comprem e falem de produtos fabricados por empresas e organizações fundadas por mulheres com liderança diversificada. Com as despesas de consumo a representar 70% da economia, pode-se confirmar que as nossas compras pessoais moldam muito mais o mundo do que qualquer legislação poderia fazer.
- Negócios, governo, educação: não espere que um mandato de ação receba um sinal afirmativo; compre antecipadamente e com frequência a empresas com mulheres na liderança e certifique-se que divulga as principais empresas que ultrapassam as expetativas das suas promessas (uma característica feminina, para o bem ou para o mal).
- Meios de comunicação social e organizadores de eventos: certifiquem-se que um terço das histórias abrangidas e oradores principais são mulheres. Estabeleçam um objetivo de 50% para dois anos. Assim que catapultar estas mulheres para a sua rede e as associar aos seus projetos, a sua lista de contactos de mulheres fortes irá alargar-se e dar-se-á por si num ciclo virtuoso de crescimento e liderança nesta área. As mulheres não são burras – elas juntam-se aos influentes que “percebem”.
- Fornecedores de serviços profissionais: dê o seu melhor e depois mais algum para as clientes do sexo feminino. Recentemente, contratei um novo escritório de advogados e fiquei surpreendida por um dos parceiros fundadores desse escritório estar a liderar o trabalho da minha empresa. Quando o contactei para lhe conceder a nossa empresa, Jay Hachigian da Gunderson Dettmer disse-me que “Queria ser eu a fazer este trabalho pessoalmente porque tenho três filhas e muito poucas mulheres CEO na lista de clientes.”
- Investidores: Vocês são um dos agentes mais importantes desta mudança. Apesar de uma pequena parte disto ter a ver com empreendedorismo, as empresas criadas a partir de fundos de capital de risco contribuem 20% para o nosso PIB. Fazem de facto toda a diferença, e no entanto, as mulheres CEO apenas recebem 2,7% do capital de risco. É preciso que o mundo do CR corrija este desequilíbrio flagrante que já devia estar desde ontem resolvido.
- Funcionários: se tiver duas ofertas de emprego, em que numa tem uma equipa de liderança diversificada e a na outra não, acredite que dar-se-á muito melhor na primeira. Não se trata de ativismo ou altruísmo, mas sim de uma jogada inteligente na carreira.
O mundo empresarial é inerentemente stressante, por isso, é normal que as mulheres a sintam; o que não é normal é que elas a sintam mais do que os outros executivos. Fazermos a nossa parte para mudar a imagem de sucesso e a realidade diária das mulheres fundadoras e líderes de empresas será o passo mais poderoso que poderemos dar em direção ao caminho certo. Já está na altura de começarmos a ver essa mudança porque, francamente, se não o fizermos estamos tramadas.