Tempos difíceis para os EUA
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Nos últimos quinze anos os Estados Unidos da América enfrentaram desafios colossais. Guerras, crise económica, terrorismo… Estaremos perante o declínio da grande potência ou estará o gigante de novo a erguer-se?

O Presidente Barack Obama começou o seu discurso do Estado de União de 2015 a semana passada, com as seguintes palavras:

"Já vamos no 15º ano deste século. Quinze anos passados durante os quais o terror passou as nossas fronteiras, uma nova geração combateu em duas longas e difíceis guerras; a recessão espalhou-se pela nossa nação e pelo mundo. Foram, e ainda são, tempos difíceis para muitos. Mas hoje viramos a página".

Estas palavras podem soar a uma hipérbole presidencial. Claro que cada presidente exagera os desafios com que se vê deparado, de forma a tornar a sua imagem muito mais heróica, mas neste caso, Obama pode mesmo ter embelezado o seu caso.

Os Estados Unidos aguentaram uma serie de choques quase sem precedentes do ano 2000 até 2011. A lista de desastres é tão extraordinária que vale a pena repeti-la, só para enfatizar.

Desastres económicos

Em 2000 a bolha tecnológica rebentou, e em 2008 a bolha da habitação seguiu-se-lhe. A queda dos preços de cada um destes mundos representou 6.2 biliões de dólares de riqueza financeira que foram ao ar. Isto quer dizer que cada um foi maior, enquanto percentagem no produto doméstico dos Estados Unidos, que a quebra do mercado da bolsa que se desencadeou na grande depressão. No espaço de uma década, tivemos os dois maiores desastres financeiros na história dos Estados Unidos.

A recessão que se seguiu à quebra de 2000 não foi particularmente severa, mas foi uma longa, e com falta de trabalho, recuperação. E durante toda a administração Bush, o verdadeiro rendimento médio familiar nunca voltou ao seu pico atingido nos anos 90.

Mas essa recessão não foi nada comparada com o monstro que seguiu a crise financeira de 2008. A Grande Recessão foi a pior coisa a atingir a economia desde a Grande Depressão. O PIB nacional caiu a pique em 3,9%. A riqueza das famílias caiu para metade, e os salários ainda mais. O desemprego aumentos para os 10%. O medo instalou-se numa geração inteira. O défice orçamental voou enquanto o governo perdeu receitas dos impostos mesmo quando lutava para injetar dinheiro na economia.

Ao mesmo tempo, claro, acontecia o rápido crescimento de países em desenvolvimento e os depósitos de crude subiram de níveis confortáveis para níveis que não se viam há décadas. A gasolina passou de pouco mais de 1 dólar o galão, no início da década, para 4.

Em termos económicos, os anos 2000 não foram tão maus como os anos 30, mas foram muito piores que qualquer outra coisa no século XX, incluindo os muito ridicularizados anos 70.

Terrorismo e guerras

Mas os choques económicos não foram a única coisa a atingir os Estados Unidos nos terríveis anos 2000. O legado dos ataques terroristas do 11 de Setembro permanece até hoje, rebaixando a noção básica dos EUA como a terra dos livres.

Depois houve a desmaterialização da administração Bush na corrida para a guerra do Iraque. Grande parte do mundo passou da adoração pelos Estados Unidos, a receá-los – uma viragem que apenas foi revertida parcialmente com a administração Obama. A futilidade das ações do país no Iraque tornou-se obvia bastante depressa e as vitorias militares não foram suficientes para travar a desintegração política do país, o que deu uma abertura para o brutal Estado Islâmico.

Política interna

Finalmente, os anos 2000 foram um período de uma incrível disfunção política. As eleições contestadas de 2000 deixaram muitos eleitores com um sabor amargo na boca, mais que quaisquer outras eleições no século passado.

As diferenças políticas aumentaram entre partidos quase a um nível patológico.

De repente eram uma nação de 50-50, e as pessoas zangadas estavam na rua sob forma do Tea Party e Occupy Wall Street. A crise política chegou a um pique na crise da divida de 2011, quando o congresso quase forçou os Estados Unidos a tecnicamente negligenciar a divida.

Todo este tempo, os EUA têm estado face a face com uma série de novos e revigorados rivais internacionais – a economia chinesa, uma Rússia que voltou a aparecer, e o cancro do terrorismo internacional islamita.

O fio de calamidades parece estender-se por todo o século, mas aconteceu em apenas uma década. Em 10 anos, os Estados Unidos receberam uma série de ataques fortes, um a seguir ao outro.

Apesar dos americanos ainda estarem preocupados e de alguns destes problemas ainda estarem bem presentes, é quase impressionante como os Estados Unidos estão a recuperar. Osama bin Laden está morto. A Al Qaeda já é apenas um nome em vez de uma organização. O apoio ao terrorismo caiu como uma pedra, e os Estados Unidos recuperaram o seu prestígio perdido. A guerra no Iraque acabou. O extremismo político de 2011 parece estar a dissipar-se. O desemprego voltou para os 6%, o PIB está a crescer solidamente se não espetacularmente, e o défice orçamental voltou a níveis normais. O mercado da bolsa está de volta a níveis quase recordistas.

O chanceler alemão Otto von Bismarck uma vez disse que “Deus tem um lugar especial para os tontos, bêbados, e para os Estados Unidos da América”. Talvez tivesse razão. Ou talvez o sistema político, económico e cultural dos Estados Unidos seja simplesmente mais robusto do que aparenta.

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