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Muitos pais consideram fundamental que os seus filhos participem em desportos organizados. As vantagens da prática do futebol ou basquetebol são evidentes. Porém, estudos apontam para que possam também haver desvantagens.

Se tomarmos em consideração os clichés que permeiam as transmissões desportivas e os discursos nos balneários podemos concluir que praticar desporto ensina às crianças o valor do trabalho duro, constrói o caráter e desenvolve futuros líderes.

Embora a validade destas afirmações seja questionável permanece o facto de que os pais permitem que milhões de crianças participem em desporto juvenil a cada ano. No mínimo, os pais têm fé na ideia de que o desporto juvenil é bom para os seus filhos.

O fundador Hook&Ladder Creative Sport Solutions Matthew Bowers comenta:

"Сomo investigador e consultor que estuda desporto juvenil falo frequentemente com pais preocupados. Estão preocupados que a experiência dos seus filhos a praticar desporto organizado tenha divergido da sua. Os desportos juvenis tornaram-se um grande negócio nos Estados Unidos e assumiram uma prática muito mais profissionalizada ao longo da última década. Em gerações anteriores as crianças passavam uma grande parte do seu tempo de lazer a deambular e a brincar pelos seus bairros. As crianças de hoje, em média, passam muito menos tempo em ambientes livres e muito mais tempo em ambientes – de desporto ou de outra coisa – organizados por adultos."

Desportos juvenis e a criatividade dos adultos: um estudo

Num estudo publicado no início do outono passado no Creativity Research Journal eu e alguns colegas escrevemos um artigo que apresentava a relação entre as atividades de lazer conduzidas na infância e a criatividade em jovens adultos.

Esperávamos explorar a medida em que a participação em desporto juvenil poderia influenciar o desenvolvimento da criatividade. Queríamos, em particular, dar um primeiro passo em direção à seguinte conclusão: se a participação em desporto informal praticado em ambientes livres (como por exemplo no bairro ou de forma informal) tinha um impacto diferente, face à participação em desporto juvenil tradicional e organizado, na criatividade.

No estudo solicitámos a 100 estudantes do ensino secundário e universitário que completassem um muito detalhado “questionário sobre atividades de lazer na infância” que lhes pedia que refletissem nas horas dispensadas para diversas atividades de lazer durante os seus anos de idade escolar. Estas variavam entre a criação de arte, a leitura, os jogos de vídeo ou a participação em desporto organizado e informal. Pedimos, também, aos mesmos participantes que completassem o Teste de Pensamento Criativo de Torrance (ATTA na sigla inglesa) um teste de criatividade amplamente utilizado que exigiu que os alunos desenhassem e escrevessem quatro atividades criativas.

De seguida analisámos a relação entre as atividades de lazer na infância relatadas pelos participantes e o seu desempenho no ATTA.

O estudo continha uma série de limitações inerentes (por exemplo, pedindo aos participantes para se lembrarem e estimarem horas destinadas, por semana, à participação em numerosas atividades de lazer ao longo da sua infância). Por esta razão utilizámos uma interpretação muito conservadora na nossa análise de qualquer relação que tenha surgido.

É particularmente interessante que, apesar de uma análise abertamente conservadora, os resultados tenham sido extremos: o tempo passado em desporto informal estava significativamente e positivamente relacionado com a criatividade global, enquanto que o tempo passado em desporto organizado estava significativamente e negativamente relacionado com a criatividade global.

A diferença entre os participantes cujas pontuações os colocavam com uma criatividade “acima da média” devia-se a apenas duas horas por semana de participação em desporto livre ao longo dos anos de idade escolar.

Ao nível teórico (e, francamente, intuitivo) o desporto informal em ambiente livre e sem supervisão captura muitos dos elementos que se relacionam com os benefícios de brincar e jogar para o desenvolvimento das crianças. Estes ambientes oferecem às crianças a liberdade para se auto-governarem, criarem regras ou resolverem problemas e conflitos sociais à sua maneira.

O desporto organizado, por outro lado, tende a replicar modelos hierárquicos e militarizados orientados para a obediência, replicação, adesão à autoridade e a uma série de outras qualidades que, ao nível teórico, seriam improvavelmente consideradas favoráveis ao desenvolvimento criativo.

Como é que esta pesquisa influencia a forma como devo abordar a experiência de desporto juvenil do meu filho?

1. A forma como praticamos desporto importa

Como a experiência de desporto juvenil (pelo menos nos E.U.A.) se torna cada vez mais competitiva e mais intensamente estruturada, o tempo de lazer das crianças tem sido visto como uma iniciativa de produtividade de soma zero. A recreação infantil, especialmente na forma de desporto livre e pelos bairros, desapareceu no seio de muitas comunidades.

O que os resultados do nosso estudo indicam é que estes ambientes livres, que permitem o desporto informal, não deixam de ter mérito. Pelo contrário, podem contribuir para promover resultados positivos, como a criatividade. Sob as condições corretas o desporto organizado pode trazer bastantes benefícios para o desenvolvimento da criança mas não pode fazer tudo (e, sob as condições erradas, poderá na mesma proporção nocivo). Os benefícios, a longo prazo, de um ambiente mais livre poderão ser mais difíceis para um adulto de contemplar mas estão bem estabelecidos e validados por décadas de pesquisa sobre a recreação infantil.

2. A chave é o equilíbrio

Provavelmente a descoberta mais intrigante da nossa análise foi o facto de que aqueles indivíduos cujos resultados na avaliação da criatividade os identificou como “acima da média” não eram crianças que evitavam o desporto organizado a favor de atividades que tradicionalmente associamos à criatividade (arte, música, teatro, etc.). Em vez disso, os entrevistados com criatividade “acima da média” simplesmente aparentavam ter aplicado um maior equilíbrio entre o tempo dispendido em desporto organizado e em ambientes de desporto livre.

Na verdade, aqueles que pontuaram com uma criatividade “acima da média” relataram ter dedicado 15% do seu tempo total de lazer na infância a praticar desporto informal contra 13% de desporto organizado. Os participantes com criatividade “abaixo da média”, por outro lado, despenderam somente 10% do seu tempo de lazer na infância a jogar desporto informal contra 22% dedicado a desporto organizado.

Os pais interessados em promover um desenvolvimento mais criativo dos seus filhos não têm que necessariamente abrir mão do desporto tradicional organizado – têm simplesmente que estar cientes da importância da distribuição equilibrada do tempo dos seus filhos entre ambientes livres e ambientes organizados.

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