Os anti-exemplos
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Focamos muita da nossa atenção nas pessoas que admiramos, para tentar adquirir algumas das suas características. Mas talvez ainda mais útil seja prestarmos atenção àquelas pessoas nas quais não nos queremos tornar. Ou arrisca-se a tornar-se em alguém que você despreza.

Há vários anos atrás, a minha esposa trabalhou como consultora de tecnologia. Ela gostava do emprego. Gostava do trabalho. Um dia, ela demitiu-se, abruptamente e sem aviso. Não aconteceu nada de mal. Não houve nenhum cliente a estragar-lhe o dia. Não houve nenhum chefe a gritar-lhe na cara. Ela apenas reparou que os seus chefes eram desgraçados. Eles trabalhavam demasiado, raramente viam os filhos e pareciam estar sempre stressados. Eram simpáticos e boas pessoas, mas ela não admirava as suas vidas. E foi então que se apercebeu: o caminho que a sua carreira estava a tomar estava especificamente traçado para ela se tornar uma dessas pessoas. Esse era o objetivo. Como é que alguém se mantém motivado num emprego no qual sente pena das pessoas que supostamente deveria aspirar a ser?

Não se consegue. E por isso mais vale demitir-se.

Nassim Taleb tem uma citação fantástica:

“As pessoas focam-se em alguém que vejam como um exemplo a seguir, é mais eficiente encontrar anti-exemplos – pessoas que não quer ser quando crescer.”

Adoro esta frase. E consigo recordar-me de todo o tipo de anti-exemplos.

  • O tipo que passa 90% da sua vida num emprego stressante que ele odeia, apenas para ganhar dinheiro suficiente para poder passar alguns anos na reforma a fazer algo que odeia um pouco menos. Eu nunca quero ser esse tipo.
  • O investidor que depende de um mercado de curto termo para financiar o seu estilo de vida. Demasiado stressante para mim.
  • O tipo que gasta metade do seu ordenado a comprar coisas para impressionar as pessoas, sem se aperceber que um terço dessas pessoas nem sequer reparam, outro terço sente pena dele, e o restante são pessoas que não lhe interessam. Definitivamente não quero ser como ele.
  • O investidor que permite que a política dite as suas decisões de investimento. Boa sorte, amigo.
  • As pessoas que não conseguem largar o trabalho de vez em quando.
  • As pessoas sem autonomia ou habilidade para serem criativas no seu trabalho.
  • O tipo que passou esta manhã num Mercedes com uma matrícula que dizia “U LUV THIS” (“Adoras isto”). Não, a sério que não adoro.
  • Qualquer pessoa cujo estilo de vida depende da bondade de um banco em renovar a sua dívida. Como é que conseguem dormir à noite?
  • As pessoas que atribuem o seu sucesso à inteligência e os seus desaires ao azar. Ninguém deveria admirar estas pessoas.
  • As pessoas que ganham a vida com comissões. Podem ser a pessoa mais honesta do mundo, mas vão acabar por esquecer a sua moral para fazer dinheiro. Soa terrível.
  • As pessoas que dependem de alguém – o governo, uma pensão da empresa, o que quer que seja – para financiar a sua reforma. Estão a depender de alguém que não quer saber de vocês numa altura em que estão mais vulneráveis.
  • As pessoas que pensam que os preconceitos e pensamentos negativos afetam outras pessoas, mas não elas próprias.
  • As pessoas que não conseguem dormir oito horas por noite.
  • Todos aqueles que não percebem que algumas pessoas nasceram num berço de ouro, enquanto outras nasceram num bairro de lata na Índia, e pensam que a diferença no sucesso entre as duas é devida apenas a motivação e inteligência.
  • Os presidentes de empresas que pensam que são mais importantes que os seus trabalhadores. Que ilusão.
  • Condutores agressivos. Ficamos tão impressionados!
  • Pessoas cujas aspirações crescem mais depressa que os seus salários. Vão andar a correr em círculos durante o resto das suas vidas.
  • As pessoas cuja maior despesa são os juros. O seu futuro vai ser gasto a pagar pelo passado e pelo salário milionário do vice-presidente de um banco. Nem pensar nisso.
  • A pessoa que, como descreveu Philip Wyle, "não consegue encaixar uma moeda de um cêntimo entre aquilo que já sabe e aquilo que nunca irá aprender". Não tenho qualquer desejo de ser como ele.
  • O escritor que apenas recebe atenção porque escreve coisas intencionalmente ofensivas, divisíveis, opressoras, sensacionalistas ou insultuosas. Precisamos de ter menos desses.
  • O chefe cujo único prazer na vida advém de desmoralizar os empregados. Existem demasiadas pessoas assim, e eu espero nunca, mas nunca me vir a tornar uma delas.
  • Empresas com código de vestuário. Dispenso.
  • Fanáticos de teorias de conspiração. Tenham juízo.
  • Tipos que usam mocassins sem meias.

Não, nunca quero vir a ser um deles.

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