Quem afinal controla o preço do petróleo
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Apesar de aparentemente ter sido a Arábia Saudita que permitiu a descida do petróleo, uma análise cuidada leva a crer que na verdade a posição mais influente é a dos EUA.

Os últimos 11 meses têm constituído uma jornada improvável para o petróleo, com a inesperada queda no preço, a recusa pouco característica da Arábia Saudita em contrariar esta sangria, e o caos financeiro para as companhias energéticas e restantes poderes do setor.

Mas por muito improvável que esta saga seja, a verdade é que ainda não terminou. Um número de analistas de relevo diz que a OPEC (Organização dos Países Produtores de Petróleo) comprovou ser bastante impotente nesta nova era. Os Estados Unidos, segundo os mesmos analistas, são o novo czar do petróleo.

Não se trata apenas de uma questão de fama e glória: o petróleo continua a ser uma força que impulsiona os negócios em todo o mundo, e a sua disponibilidade e preço podem construir ou destruir economias nacionais. Ao sentar-se sobre um terço da oferta de petróleo mundial, e ao estar disposta a manipular a oferta de forma a influenciar o preço, a OPEC ganhou uma enorme influência global. Se a OPEC – e especialmente o seu membro mais importante, a Arábia Saudita – perdeu realmente a vantagem na hora de ditar os preços, os seus membros vão assemelhar-se mais à Rússia: é ainda vital no sentido que é uma enorme fonte de petróleo, mas está desprovida de qualquer credibilidade para influenciar os preços. Será uma mudança fulcral no poder geopolítico moderno, com o maior peso a regressar aos EUA e aos seus aliados.

O economista Edward Mose previu a queda nos preços, ainda que não tenha acertado no timing para isto acontecer. Ele afirmou que nenhum membro da OPEC pode manter a influência nos preços por muito tempo, uma vez que “os EUA virão rugir de volta assim que os preços subam”.

O que Morse realça é uma característica única do petróleo de xisto – extraí-lo é, de certa forma, mais parecido com as técnicas mineiras do que com a perfuração petrolífera. Isto porque o petróleo é extraído a partir do xisto sólido, e depois bombeado para a superfície. O processo é muito mais rápido e barato do que com um poço de petróleo tradicional, que pode demorar mais de um ano até começar a produzir. Durante as últimas 20 semanas, várias empresas, em resposta à queda nos preços, suspenderam a atividade em 56% dos 1609 poços que estavam ativos nos EUA, nivelando ainda mais o equilíbrio com a produção de petróleo de xisto.

Mas antes de desativarem os seus poços, os responsáveis também começaram a perfurar dezenas de novos poços, deixando-os incompletos. Se os preços voltaram a subir o suficiente e a manterem-se nessa posição – digamos acima de 60 dólares por barril –, Morse e outros analistas são da opinião que as empresas exploradoras poderão completar o trabalho nesses poços para retomar o seu fluxo de dinheiro, e inundar novamente o mercado com petróleo. Os preços irão então cair novamente, o que fará com que sejam os produtores norte-americanos a ditar o comportamento dos preços.

Mas isso não é ignorar que foram os sauditas a começar toda esta sublevação?

Num artigo que vale a pena ler, o jornalista da Bloomberg Peter Waldman documenta as ações da Arábia Saudita durante o ano passado, quando o impulso na produção de óleo de xisto despoletou uma fartura global. Em vez de invocar a tática tradicional da OPEC de cortar na produção, os sauditas escolheram cortar os preços, manter a sua quota de mercado, e ainda ajudar à torrente abrindo as suas próprias torneiras e registando uma produção recorde de 10,3 milhões de barris por dia. Quando o Irão e Venezuela, também eles membros da OPEC, pressionaram no sentido de cortar na produção, a Arábia Saudita recusou: iria manter as torneiras abertas e os preços em baixa até que os produtores com mais custos, como os que exploram o óleo de xisto, se vissem forçados a sair do mercado.

Mark C. Lewis, um analista da Kepler Cheuvreux, de Paris, argumenta que a cronologia demonstra que a Arábia Saudita ainda está em controlo. Segundo ele, quando chegarmos ao final do ano os sauditas irão prevalecer sobre os produtores de óleo de xisto.

“O fato é que o surto de óleo de xisto só pode subsistir com preços elevados e baixas taxas de juro. Caso contrário, irá ser arruinado”, afirma Lewis. “Na minha opinião, isso já está a começar a acontecer”, conclui.

O debate acerca da longevidade do óleo de xisto não vai ser decidido agora, mas sim durante os próximos meses e anos. Independentemente da forma como terminar, a guerra de palavras irá provavelmente continuar, motivada pela própria implausibilidade da convulsão no mundo do petróleo – tão inesperada que até o mais sóbrio dos analistas parece preparado para considerar qualquer afirmação como uma possível nova ortodoxia.

O que nos parece uma verdade indiscutível é o seguinte: a OPEC e a Rússia – a indústria estabelecida – têm de aceitar os EUA como um novo e permanente protagonista no mundo do petróleo. E os produtores americanos têm de entender que a OPEC, e particularmente a Arábia Saudita, não os vão receber de braços abertos e fazê-los sentir em casa neste petro-clube.

A interpretação mais equílibrada do panorama atual é que, apesar da insurgência atual dos EUA, os sauditas – que ditaram as regras que regem o jogo atualmente – continuam a ser a força mais poderosa. Se alguém pode controlar a direção que tomamos daqui em diante, é a Arábia Saudita – são eles que com uma simples ordem podem encomendar ou cancelar dois milhões de barris quase instantaneamente.

Todos estão prestes a enfrentar obstáculos financeiros e especialmente civis: no Médio Oriente, Norte de África, América Latina e possivelmente no território da ex-União Soviética, tudo consequência do fastio de petróleo e políticas atuais.

Phil Flynn, negociante de petróleo com o Price Group, afirma:

“Os EUA vão ser um protagonista de relevo, mas os sauditas restabeleceram a sua influência quando planearam este colapso nos preços. A Arábia Saudita quer permanecer como a grande autoridade no mercado global de petróleo”, conclui.

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