Estudos apontam para que em 2020 o país possa vir a ter 100 ogivas nucleares. Como fazer face a esta ameaça à estabilidade mundial?
Há poucas semanas surgiram novas estimativas alarmantes sobre as capacidades em termos nucleares e de mísseis da Coreia do Norte. Segundo peritos chineses, o país poderá já ter quase 20 ogivas nucleares e ser capaz de produzir material cindível suficiente para duplicar esse número no próximo ano. Um alto general dos EUA afirma que a Coreia do Norte muito provavelmente tem a habilidade para miniaturizar as ogivas e enviá-las por mísseis balísticos intercontinentais para o território dos EUA. Além disso, vários estudos apontam para um futuro assustador caso os programas de armas do norte continuarem sem entraves: em 2020, Pyongyang poderá vir a ter 100 ogivas nucleares, quase tantas como atualmente a Índia e o Paquistão têm juntos.
Se estas estimativas estão certas ou erradas, uma coisa é certa: não parece que as sanções colocadas à Coreia do Norte vão impedir as reservas de continuar a crescer ou forçar o regime a mudar de ideias. Sob a liderança de Kim Jong Un, a Coreia do Norte tem seguido uma política de dois objetivos, um de desenvolvimento nuclear e outro de reformas económicas, que aparentemente tem tido sucesso. Alguns peritos sugerem que o crescimento económico possa chegar aos 4 ou 5% este ano se, tal como indicam os sinais, os agricultores tiverem permissão para ficar com mais rendimentos das suas culturas. Uma classe média urbana parece estar a prosperar: aumentaram as importações de cigarros chineses, relógios de pulso, produtos de cosmética e televisões LCD.
cigarros chineses, relógios de pulso, produtos de cosmética e televisões LCD.
Existem poucos sinais de o regime estar a enfrentar uma resistência interna. A especulação habitual de que Kim poderá não ter o poder total em Pyongyang foi reanimada pela sua decisão de não comparecer às cerimónias de aniversário da Segunda Guerra Mundial em Moscovo este fim-de-semana – que seria a sua primeira viagem ao estrangeiro desde a sua ascensão ao poder. No entanto, outros apontam para uma extrema reorganização pouco usual dos altos tenentes de Kim como prova de que potenciais rivais poderão estar a ser eliminados. Certamente, o governo parece confiante o suficiente para relaxar um pouco o seu domínio na população, que aproveita as nascentes reformas no mercado.
Nestas circunstâncias, é contraproducente focar-se exclusivamente na redução do programa nuclear – aquilo a que os negociadores chamam de “desnuclearização completa, verificável e irreversível”.
Kim – ou quem quer que esteja no poder – não abandorá facilmente o programa nuclear, já que é única coisa que efetivamente previne um ataque dos EUA.
Em vez disso, o mundo tem de trabalhar a dois níveis: controlar a ameaça imposta pelo arsenal de Kim ao mesmo tempo que explora as suas reformas para chegar à sociedade norte coreana. Os EUA deviam criar pressão por uma cooperação internacional ainda mais reforçada para impedir que a Coreia do Norte importe mais tecnologias e competências em termos nucleares, com o intuito de se abrandar o programa. Ao mesmo tempo, devia avançar com os seus planos de instalar novos sistemas de defesa de mísseis na região. Os esforços para melhorar a coordenação de inteligência e defesa entre a Coreia do Sul, o Japão e os EUA deviam ser redobrados.
A China também podia ajudar – não a partir do corte absoluto do seu apoio à Coreia do Norte (coisa que não iria fazer), mas a continuar a persuadir Kim a desistir dos seus testes nucleares e de mísseis de longo alcance. Materiais cindíveis é uma coisa; se não houverem testes contínuos tanto das ogivas como dos mísseis, as hipóteses de mísseis balísticos intercontinentais lançados pela Coreia do Norte no Pacífico atingirem outros locais próximos do alvo têm uma descida considerável.
Apesar de não ser o objetivo ideal, por agora um congelamento no programa parece ser o mais realista. Entretanto, os EUA e outros deviam aperfeiçoar uma estratégia de incentivo mais sofisticada e aproveitar-se da necessidade cada vez maior de Kim de investimento exterior. Ao mesmo tempo que reprova o regime pelos seus abusos contínuos aos direitos humanos, o mundo devia continuar a alimentar as esperanças e desejos da população da Coreia do Norte por uma vida melhor, seja a expô-las a mais informação ou a incentivá-los com perspetivas de maiores ligações económicas e comerciais. Por fim, esta maior abertura e as espectativas ascendentes dos próprios norte-coreanos representam a ameaça mais sustentável para pôr fim à dinastia Kim.