Uma das corretoras online de maior sucesso perdeu 34% do seu valor em um único dia e logo foi comprada pela empresa de um famoso magnata – uma holding detentora de muitos grandes participantes do mercado.
O ano 2015 traz novas e novas surpresas ao mercado de corretores. Em janeiro, depois do cancelamento da fixação do franco suiço ao euro, um dos líderes americanos do mercado FXCM declarou que "não pode responder mais às exigências da capitalização mínima" por causa "das perdas significantes que os clientes sofreram". As ações da companhia caíram em 25% de $16,70 para $12,63, e no dia seguinte perderam mais 92%, atingido o valor de $0,98 enquanto as negociações não foram suspensas. Depois, em condições duvidosas, foi realizada uma operação de ajuda financeira emergencial pela companhia Leucadia National, proprietária do banco de investimentos Jefferies. Também foram divulgadas as perdas do primeiro trimestre – uma quantia de 629 milhões de dólares, e anunciada a venda do escritório asiático Rakuten Securities.
Uma sucursal britânica, Alpari (Alpari UK), também sofreu grandes perdas e abriu falência assim que uma parte significativa dos clientes perdeu muito dinheiro com as posições do franco suíço.
A crise também atingiu muitos outros, desde o SaxoBank que perdeu 107 milhões de dólares até várias pequenas corretoras. O ano começou com acontecimentos mais do que estranhos.
As notícias chegaram de onde ninguém esperava: a famosa corretora Plus500, baseada em Israel e controlada pelo britânico FSA, foi investigada pela agência reguladora. Como resposta ao anúncio da suspensão das atividades comerciais da sucursal britânica, que fizera Oferta Pública Inicial (IPO) em 2013, as ações da Plus500 perderam mais de 30% em um dia.
Como tudo começou
A Plus500 é uma companhia única em muitos aspectos: eles não telefonavam para os seus clientes e focavam-se totalmente no online-marketing, obtendo muito lucro com alguns poucos funcionários (por volta de 70 pessoas).
Graças à publicação aberta é possível ver os dados dos relatórios anuais da companhia.
Em 2014 os gastos para as vendas e marketing foram de 92% (inclusive os links de parceria, publicidade mediática, e otimização das palavras-chaves e etc.). O valor médio de compra por cliente foi de $993 em comparação com os $679 do ano passado.
Já em fevereiro de 2015 a Plus500 era uma das companhias de maior sucesso na área de negociação com margens das ferramentas derivadas. No fim do ano 2014 a corretora divulgou o crescimento anual dos lucros em 102,5% em comparação com o período anterior e duplicou a receita anual. A base geral de clientes ultrapassou 100 mil usuários. O índice anual corrigido EBITDA cresceu em 116% , alcançando 145,5 milhões de dólares, em comparação com o ano 2013. A receita por ação foi de $0,89, depois de ter crescido 89%. A receita média por cada cliente novo cresceu em 63% , atingindo $2160. Durante o ano, a companhia pagou aos acionistas por volta de 92 mil milhões de dólares em dinheiro como dividendo, o que equivale a 90% do lucro anual da corretora.
Brincar com fogo
No início de maio a Plus 500 teve que congelar as transações dos clientes da Grã-Bretanha como medida de combate do governo à lavagem de dinheiro. O serviço de apoio da companhia começou a enviar notificações sobre a verificação obrigatória, porém nem todos os usuários tiveram tempo para confirmar a sua identidade. Como resultado, foram bloqueadas por volta de 10 mil contas, incluindo milhares de contas de valiosos acionistas da bolsas de valores.
A decisão provocou um descontentamente muito forte entre dezenas de mil usuários que perderam a oportunidade de fazer transações comerciais e sofreram grandes perdas. Segundo os respresentantes da companhia declararam, só nas duas últimas semanas a Plus500 perdeu uns 4 milhões de dólares e mais 2 milhões foram congelados.
Entrámos em contato com um dos clientes da Plus500 que desde 23 de maio tentou, sem sucesso, esclarecer a origem de seus próprios fundos (a sua conta foi bloqueada e desbloqueada no dia 12 de maio, e depois bloqueada novamente no dia 18 de maio). Segundo um representante do serviço de apoio da Plus500, os documentos do cliente foram aceites, mas ainda não foram analisados – serão analisados "em breve". Na entrevista ao Insider.pro ele afirmou: "Neste momento a minha conta ainda não está a funcionar, o dinheiro não está disponível, não há nenhum feedback."
Pode-se dizer que a companhia brincou com fogo ao usar um procedimento simplificado KYC (know your customer): a Plus500 juntou uma base gigante de clientes graças a um meio específico de identificação – os documentos eram solicitados apenas durante um pedido de remessa, o que contradiz às exigências comuns da agência reguladora, que reparou nisso só agora.
Depois de o dinheiro ter sido descongelado, o preço das ações da companhia caiu drasticamente. No dia 11 de maio foram negociadas por 760 cêntimos de libra, já no dia 26 apenas por 285.
As questões dos relatórios
Num estudo aprofundado ficou claro que entre os relatórios da companhia havia muita coisa duvidosa. Em 2013 a Plus500 declarou aos investidores o lucro de 64 milhões libras esterlinas (115.1 milhões de dólares). Durante as verificações do regulador ficou evidente que a receita real foi de apenas de 13 milhões. É uma divirgência muito estranha para uma companhia que passa por auditoria todo ano. Em 2014 a Plus500 mudou de auditor. Segundo os documentos da Câmara de Registros de 2014 o lucro do ano 2013 foi 80% a menos do que nos documentos de 2013. Nem os dados originais, nem os que foram analisados novamente não correspondem à condições do acordo entre as companhias indicadas na seção 15.6 da declaração para o acesso à Bolsa de Valores de Londres.
Segundo os representantes da plataforma de trading, a receita da Plus500UK foi reclassificada com base no lucro da companhia-mãe.
É absolutamente óbvio que a receita da Plus500 na Grã-Bretanha não pode ser atribuída às sucursais da companhia; o montante da receita de 115.1 milhões de dólares, declarada em 2013 é superfaturado em uns 79.8 milhões de dólares; e não pode contar com os relatórios da companhia. Pelo contrário, se a divirgência em lucros pode ser explicada como resultado das atividade complementares fora da Grã-Bretanha, isso quer dizer que a Plus500 subvaloriza o grau de atividade não regulada na jurisdição sem licença. Isso é um sério problema, pois a licença para atuar no Chipre, por exemplo, foi apresentada somente 2014, e a sucursal na Austrália relatou apenas 3.3 milhões de dólares australianos de lucro em 2013. Isso significa que quase 80% dos lucros da companhia foram obtidos por atividade sem licença.
Se os acordos que regulam o funcionamento da sucursal britânica permanecem em vigor, as explicações da companhia não fazem sentido. O acordo prevê que 78% do dos lucros dos spreads sejam transferidos para a empresa-mãe como uma compensação pelos serviços de informação e pela plataforma que ela dá. Se os lucros restantes fossem na realidade recebidos na Grã-Bretanha, de qualquer maneira eles seriam repassados para a empresa-mãe, segundo o acordo. No caso pouco provável de o tratado não estar em vigor em 2013 por algum motivo - no mesmo ano em que ele foi incluído na solicitação de acesso -significa que a empresa, no mínimo não se preocupa em informar o mercado sobre as suas decisões.
Em todo caso, a quantidade do montante restante (51 milhões de libras esterlinas, 80% do montante inicialmente declarado do ano 2013) é muito maior do que o dinheiro que tinha que ser pago segundo o acordo entre as empresas. De acordo com a apresentação da companhia, os spreads de 2013 deram por volta de 74% do lucro, e pode-se avaliar que segundo o acordo, a Plus500 teve que pagar à empresa-mãe cerca de (75% x 63800000)x78%, ou seja, 36,8 milhões de libras esterlinas – se tomarmos como base a quantidade de lucro de 63,8 milhões, a qual foi dita inicialmente.
Como isso funciona
Publicidade da Plus500
É importante entender que a Plus500 funciona segundo o modelo de jogos de azar legais, e não como uma corretora retalhista típica de títulos de valor. Quando um cliente compra ou vende um contrato CFD através da Plus500, a companhia desempenha um papel de um contra-agente numa aposta com este cliente que depende do preço de uma ferramenta básica. Em outras palavras, no trading a Plus500 joga contra os seus clientes. Isso é muito parecido com o modelo de "bolsa de valores negra" que ainda nos 1920 foi declarada ilegal nos EUA. Com um alto nível de alavancagem e com a ausência de compromisso para garantir o mesmo preço que possa ser obtido numa bolsa de valores reconhecida, a possibilidade de fraude é óbvia.
No relatório de 2014 a Plus500 afirmava que recebia o lucro de 349 dias de trading, em comparação com 297 em 2013. Isso é impressionante não só por causa da rapidez do crescimento: acontece que num ano há apenas 252 dias de trading, dependendo do número de feriados e fins-de-semana. Até se contarmos a noite de domingo para segunda-feira, quando os mercados de moedas interbancários estão abertos, serão 304 dias de trading. Evidentemente, a Plus500 conseguiu milagrosamente dar lucros mesmo aos sábados quando o mercado de títulos de valores em que ela terá operado nem está aberto. Isso é possível simplesmente porque a Plus500 negocia contra os seus clientes sem cumprir os acordos compensadores na bolsa de valores.
A Plus500 divulgou os volumes de 56,1, 115,1 e 228.9 milhões de dólares em 2012, 2013 e 2014 respectivamente. Para compreender como estes lucros se enquadram na quantidade de todo o negócio, consideremos alguns momentos do balanço da companhia.
Segundo os dados da Plus500 segue a conclusão de que a maioria de posições fecha durante o dia. Como mostram os comentários dos investidores, os clientes depositam o seu dinheiro em porções pequenas ao longo do ano e em qualquer momento a companhia pode sofrer o risco de perder 70-80 milhões de dólares. O representante da companhia defeniu que o volume geral de depósitos e do dinheiro retirado em 2013 foi de 300 milhões de dólares. Se isso é certo, cada dessas cifras é significativamente maior do que os montantes concretos de dinheiro indicados no balanço do fim do ano.
Portanto, levando em conta a quantidade do balanço e o nível do capital e de posições dos clientes, a rotação indicada impressiona mais ainda. O lucro geral da Plus500 em 2014 foi de 6.5 vezes maior de que o volume geral do capital de clientes no fim do ano. Se a avaliação mencionada de 300 milhões de dólares está certa, isso significa que em 2013 a Plus500 roubou 38% do montante geral consignado aos clientes para o trading. Mas apesar de tudo a companhia diz que as perdas dos clientes reduziram tão drasticamente, como cresceu a parte da receita da Plus500 - de 18% em 2011 até 1% em 2014.
Para garantir esta rotação só com as corretagens e spreads, o volume de comércio na plataforma tem que ser chocante em relação aos montantes no balanço dos clientes, o que, por sua vez, pressupõe uma alavancagem média muito alta. Num artigo publicado em janeiro pela Numis está escrito que o volume de trading em 2024 é avaliado em 160 mil milhões de dólares, com a condição de que a alteração média da taxa de juros compõe por volta dos 20 pontos básicos. A sua avaliação de uma avalancagem média de 150x é ajustada de acordo com as avaliações dos gestores da companhia - o número geral de transações é de dezenas de milhões e o tamanho médio de um acordo condicional é de dezenas de milhares. Parece que a Plus500 inventou uma maneira de fazer os clientes perderem o dinheiro lentamente, durante muitos acordos, e não tudo de uma vez.
Além disso, a Plus500 não cobre o risco condicional das posições CFD, que ela normalmente abre apenas ao nível de portofólio e depois do fecho de uma posição o montante perdido de depósito é posto em conta como os lucros de trading.
Se a Plus500 não criou os relatórios sobre os lucros, a companhia pode produzir significativamente mais da sua rentabilidade usando um dos meios seguintes, ou até mesmo os dois:
- Negociações em outras regiões sem licença;
- Perdas dos clientes maiores do que está relatado;
Os montantes eram especialmente escandalosos em 2010-2011 quando a Plus500 era apenas uma sucursal, mas até em 2013 o lucro sem licença era muito mais do que a receita de toda a sucursal australiana de 3,2 milhões de dólares. Vamos pôr os pontos nos is: 67 milhões de dólares, ou 27% da receita da companhia em 2010-2013 foram obtidos dos clientes em regiões em que a Plus500 não tem uma licença legal de trabalho. Isso é significativamente maior do que está descrito no documento sobre o acesso e os relatórios anuais.
A Playtech mais a Plus500
Depois de uma queda praticamente dupla do preço das ações e a perda da confiança dos investidores por causa das infrações nos relatórios financeiros, o mercado foi agitado por outra notícia-bomba: a Playtech de repente adquire a Plus500 por 460 milhões de libras esterlinas. Até que as infrações foram reveladas, a Plus500 foi avaliada em 897 libras esterlinas (1.364 milhões de dólares).
Os conselhos administrativos das companhias chegaram a um acordo, e na sequência o corretor foi avaliado em 400 cêntimos de libra por uma ação. Este passo mostra que a Playtech está pronta a continuar a investir no mercado de venda de moeda de usuários. O acordo dá aos acionistas da Plus500 um prémio de 8% para o preço de uma ação no fecho do mercado na sexta-feira. Isto agrava a situação nas especulações sobre uma revisão próxima de prática de negócios da Plus500 pelo departamento de regulamento de serviços financeiros (FCA), que surgiram de novo depois que o corretor comunicou a 18 de maio que o órgão regulador se interessou no mecanismo de luta contra lavagem de dinheiro existente na companhia.
Enquanto sobre as razões que fizeram a Plus500 fechar um acordo daqueles, podemos julgar bastante exato, então sobre os motivos da entrada tão rapida da Playtech num ativo problemático podemos só fazer suposições.
As relações da empresa gigante de jogos de azar Playtech e do mercado fora da bolsa de valores também são muito interessantes. Recentemente a Playtech comprou a TradeFX, uma companhia, cujo ativo principal era a Safecap investiments limited, regulada no Chipre e que prestava serviços sob os nomes de Markets.com, TopOption, ForexYard, Finexo, Trade.com, OnlyOption, 24winner, e FireOptions. A TradeFX pertencia plenamente a Teddy Sagi, um negociante bem odioso e milionário, fundador da própria Playtech, na qual ele guarda uma parte de 33%. A Markets.com era um dos principais concorrentes da Plus500 no mercado dos corretores CFD. Não temos que nos esquecer que antes disso haviam rumores sobre a Playtech estar interessada em comprar a AvaTrade - outro concorrente direto da Plus500 e IronFX - um grande corretor de Forex, que segundo rumores se preparava para o IPO, mas enfrentou vários problemas neste ano.
Os representantes da Playtech dizem que o acordo abre "uma possibilidade única", pois a Plus500 tem uma parte significativa do mercado, usa no seu trabalho tecnologias avançadas e estabeleceu relações boas com um grande número de clientes em todo o mundo. A Playtech destaca que querem unir a Plus500 com a recém-adquirida TradeFX, o seu concorrente antigo. É pressuposto que isso vai ajudar a usar os lados fortes das duas companhias para conquistar a maior parte possível do mercado. Talvez a decisão sobre a compra exatamente neste momento foi tomada com o objetivo de guardar a imagem forte da Plus500.