Como encerrar um e-mail
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Se pertence à maioria das pessoas, certamente usa o “melhores cumprimentos”. Então está na hora de sair da banalidade.

Está na hora de parar de se usar “melhores cumprimentos”. A forma mais sucinta de todas as formas de conclusão de um e-mail, com um ar inofensivo o suficiente, apropriada para qualquer pessoa com a qual se possa estabelecer comunicação. O termo “melhores cumprimentos” é seguro e simples. Também se tornou completamente e desnecessariamente omnipresente.

Quando o e-mail entrou pela primeira vez nos escritórios nos anos 90, a maioria dos utilizadores queria abandonar as formalidades da escrita da carta, por isso omitiram as formas de despedida. “Não havia forma de saudação nem de despedida”, diz Barbara Pachter, instrutora de etiqueta empresarial. “Era quase como um memorando”.

Num artigo do Los Angeles Times da altura, Neil Smelser, um sociologista da Universidade da Califórina em Berkeley previu que a ascensão da comunicação eletrónica iria acabar por pôr um fim definitivo à forma de despedida escrita.

Mas como o e-mail começou a funcionar (e a parecer-se muito) com as cartas, as pessoas voltaram a adotar o comportamento formal habitual. Agora “existe toda esta hierarquia de despedidas”, afirma Pachter. Então, como é que se escolhe? “Saudações cordiais” soa muito característico. “Com amizade” é um pouco fervoroso. “Obrigado(a)” não está mal, mas é muitas vezes usado quando não é necessário demonstrar gratidão. “Sinceramente” é simplesmente ser-se falso – será que se sente sincero por enviar aqueles ficheiros em anexo? “Felicidades” é bizarro.

O problema com o “melhores cumprimentos” é que não assinala absolutamente nada. “O “melhores cumprimentos” é benigno”, diz Judith Kallos, uma consultora de etiqueta de e-mails. “Resulta sempre que aparentemente não se sabe o que utilizar”. Outros chamaram-lhe sem encanto, frouxo, impessoal ou brusco. Caity Weaver disse ao escrever para o The Hairpin no Target que era como o “top preto que estava metido na parte detrás da montra”. “Há alguns anos atrás, o “melhores cumprimentos” parecia um pouco indelicado – como se estivesse a tratar a pessoa com desprezo sem pensar”, refere Liz Danzico, a criativa diretora da NPR que tem um blog onde escreve ocasionalmente sobre comunicação por e-mail. “Agora, é como se fosse um vírus”. E depois ganhou variações: “cumprimentos”, “os meus melhores cumprimentos”, entre outros.

A forma “Melhores votos” data de séculos atrás, mas o melhor exemplo apareceu em 1922. A versão mais antiga dessa forma numa carta americana, segundo o Dicionário de Inglês Oxford (Oxford English Dictionary), é da autoria de F. Scott Fitzgerald: “A Zelda manda felicitações” disse ele numa nota para o crítico literário Edmund Wilson. Depois continuou lentamente a ser utilizado ao longo do século XX; a primeira utilização do termo como fecho de carta que se conhece foi numa carta para o escritor Larry L. King que encerrava como “Felicitações, Bill”. Mesmo na altura pareceu mal: King criticou a ideia, chamando-lhe “demasiado informal”.

Os nossos gostos para fechos com etiqueta têm-se tornado fracos com o passar dos séculos, afastando-se cada vez mais das despedidas elaboradas que apareceram pela primeira vez na Bíblia.

“Desde o séc. XVIII que as pessoas têm estado muito ocupados a cortar todos os embelezamentos das expressões”, escreveu Emily Post, uma precursora da etiqueta em 1922. “Deixando-nos nada para além de um brusco “Atenciosamente”.

“A moda estendeu-se à comunicação digital. Receosos por encerrar de uma forma muito presunçosa ou afetiva, fomos atazanados para utilizar palavras vazias. Fiz um inquérito (não cientifico) online, e entre os meus amigos e colegas, 75% usava o “melhores cumprimentos” ou o “obrigado”, embora muitos tenham admitido que achavam que nenhum dos dois se adequava. “Eu odeio o “melhores cumprimentos”, mas é o que eu utilizo”, lamentou um dos inquiridos.

Então, se não for o “melhores cumprimentos” é o quê?

Nada! Não escreva nenhuma forma de fecho. De qualquer forma, com o surgimento do Slack e de outros softwares de conversação em meio profissional, o e-mail começou a funcionar mais como mensagens instantâneas. “As mensagens de texto tornaram o e-mail ainda mais informal do que aquilo que já é”, diz Patcher. Em conversações com pessoas que conhecemos, os fechos lisonjeiros começaram a desaparecer. Retirar o “melhores” do fim do e-mail pode ser lido como arcaico, como um voice-mail da mãe. De qualquer modo, os fechos interrompem a fluidez da conversa, e é disso que se trata um e-mail. “Sempre que se coloca um encerramento, parece sempre desonesto ou inibido”, refere Danzico. “Não é um reflexo da maneira normal de se conversar”. Ela encerra todos os seus e-mails, incluindo os profissionais, com um ponto final na última frase – sem fechos, sem nomes, apenas um completo ecrã branco.

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