O Irão está prestes a sair de uma era de quase isolamento económico devido às sanções impostas pelo ocidente. Porém, os baixos preços do petróleo dificultam a tão desejada recuperação económica. Como conseguirá a economia do país fazer face à situação?
Anos e anos de dolorosas sanções económicas impostas pelos países ocidentais destruíram a economia iraniana, provocando a subida do desemprego e da inflação.
Agora, contudo, há um vislumbre de esperança para o Irão. O acordo nuclear histórico com os Estados Unidos e os seus aliados abre caminho para o alívio das sanções. Se o acordo for ratificado, o Irão poderá ser capaz de exportar petróleo para as nações ocidentais e gerar as receitas de que tanto precisa.
Mas eis o senão: os preços do petróleo estão em quebra e poderão continuar em baixa durante algum tempo.
Os preços do crude de petróleo nos EUA chegaram ao 41,21 dólares na quinta-feira, o que representa o valor mais baixo desde 2009 e uma queda de 60% em relação a junho do ano passado. Esta quebra dos preços está a prejudicar todos os países exportadores de petróleo.
Mas a economia iraniana está a emergir de uma base extremamente baixa, após anos atada pelas sanções. As novas exportações de petróleo não trarão tanto dinheiro quanto eles gostariam, mas sempre seria mais do que têm atualmente.
Ainda assim, espera-se que o Irão comece a bombar petróleo furiosamente, num esforço para compensar pelas receitas perdidas.
“O Irão tem estado a falar “à grande”. Eles vão tentar parecer que estão a regressar aos mercados de petróleo em modo vingança”, afirma Helima Croft, presidente de estratégia de matérias-primas da RBC Capital e antiga analista da CIA.
Irão precisa de preços mais elevados
Um problema para o Irão prende-se com o orçamento. Para equilibrar o orçamento, o Irão necessita que o preço do petróleo chegue, pelo menos, aos 130 dólares por barril, segundo uma análise de 2014 do Deutsche Bank.
Esse é um valor muito superior aos preços listados nos orçamentos da Rússia, Arábia Saudita e países mais pequenos como o Koweit e os Emirados Árabes Unidos.
Uma das principais razões para o Irão precisar de preços mais elevados é porque tem a segunda maior população da região, e grandes programas sociais pendentes.
O acordo do Irão poderia piorar a fartura de petróleo
Mas acrescentar uma tonelada de novo crude iraniano ao mercado global de petróleo, numa altura em que os preços estão a um mínimo de seis anos, poderá piorar a situação.
Já existe uma grande fartura de oferta de petróleo, o que contribuiu para as quedas dos preços. O Irão ainda irá trazer mais excesso de oferta.
“Achamos que poderão ser um par de más semanas para o mercado de petróleo”, afirma Croft.
Claro que o futuro global é muito mais risonho no Irão. É óbvio que o Irão está melhor sem as sanções, independentemente dos preços do petróleo. O levantamento das sanções vai, sem dúvida, ajudar a sua economia.
Também é importante recordar que o Irão é mais que apenas petróleo e gás. O país tem uma economia muito mais diversificada que muitos dos seus rivais. E setores como a saúde, as finanças e a produção têm muito a ganhar com o levantamento das sanções.
Petróleo barato poderá abrandar os investimentos para o melhoramento dos campos de petróleo
Mas os preços baixos são verdadeiras dores de cabeça para o Irão.
Mais de metade dos campos de petróleo iranianos têm mais de 70 anos, de acordo com Phillipp Chladek, um analista de petróleo da Bloomberg Intelligence. Estes campos precisam de sérios melhoramentos, para poderem operar. Essa é uma das razões para o ceticismo dos analistas em relação às afirmações do Irão, quando o país afirma que poderá aumentar a produção em um milhão de barris por dia, poucos meses após o levantamento das sanções.
“Eles vão precisar de investir em novos campos. Neste momento, estão a necessitar de dinheiro – tal como toda a gente”, considera Matt Bey, analista da empresa de informação geopolítica Stratfor.
Mas o Irão poderá não ser capaz de contar com as grandes empresas ocidentais para estes melhoramentos. Estas companhias já estão a cortar nos seus gastos devido à queda nos preços do petróleo. É possível que as “Big Oil” decidam que não vale a pena apostar num país de risco como o Irão neste panorama atual de preços. “Isso é o que vai afetar mais o Irão”, afirma Bey.
Outros analistas acreditam que as companhias de energia não serão capazes de resistir ao apelo do Irão, que detém 9% das reservas de petróleo do Médio Oriente e 18% das suas reservas de gás. Algumas das maiores empresas petrolíferas europeias, como a Royal Dutch Shell e a Eni, encontraram-se este ano com representantes iranianos em Teerão para discutir os seus planos de negócios.
Alguns acreditam que também a Arábia Saudita vai virar as suas “armas” para o Irão – o seu tradicional regional rival –, tentando para isso manter os preços muito baixos.
“O maior trunfo dos sauditas é o preço mais baixo possível ao máximo volume. Eles possuem reservas financeiras suficientes para dominar a energia durante anos”, afirma David Kotok, diretor de investimento da Cumberland Advisors.