Conseguirão as bolsas resistir ao pânico da China?
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O mercado de ações norte-americano encontra-se ao meio de uma das mais longas tendências altistas da história – apesar de recentes fortes perdas. Será essa tendência invertida pelos sinais que vêm da China?

É uma tendência altista que tem passado por vários ataques de pânico. A crise da dívida na Europa, a desvalorização do rating AAA dos EUA, o drama grego e o penhasco fiscal – são alguns dos fatores que têm infligido grandes feridas no mercado norte-americano. No entanto, de cada vez, as ações emergiram vitoriosamente – apesar de feridas.

Nas últimas duas semanas o mercado de ações dos EUA está, uma vez mais, agitado. Desta vez por temores de que a turbulência económica da China conduza o mundo a recessão.

Será que o pânico irá inverter a tendência altista?

A China, afinal, não é apenas a segunda maior economia do mundo – lida com empresas e países de todo o mundo. As empresas dos EUA são vulneráveis a isso – razão pela qual uma grave desaceleração chinesa surja como o maior risco para as ações americanas desde 2009.

A questão mais ampla é: será que a China representa o mesmo tipo de risco sistémico que a crise financeira? Ou existem razões para acreditar que a China tem a capacidade e vontade de evitar o pior cenário possível?

O efeito cascata

As preocupações com a China afetaram as ações norte-americanas na sua primeira correção desde a depreciação do perfeito rating de crédito dos EUA, em 2011.

“Uma desaceleração económica na China é, nas mentes dos investidores, um catalisador tão grande como tudo o que vimos em relação à crise financeira.” – Afirmou Art Hogan, estratega-chefe de mercado na Wunderlich Securities.

A China é tão relevante na medida em que o seu explosivo crescimento alimentou o resto do mundo. Um grande apetite por bens e matérias primas levantou economias na Europa, Ásia, América Latina, Austrália e noutros lugares.

Nesse sentido, a desaceleração da China tem um enorme efeito cascata em todo o mundo. Repare como a Coreia do Sul revelou uma queda de 15% nas exportações de agosto, na terça-feira, devido a menor procura por parte da China.

“Se a China se constipar o resto da Ásia fica com gripe.” – Afirmou Peter Kenny, estratega-chefe de mercados no Clear Pool Group, uma empresa de tecnologia financeira.

O Fed poderá não participar no resgate

As preocupações em relação à economia chinesa são amplificadas pelo fato de continuarem a ser um enigma para os investidores. Poucos confiam na exatidão das estatísticas económicas de Pequim e muitos acreditam que o atual crescimento é muito inferior ao relatado pelo governo.

É também importante colocar o susto chinês em contexto. Sustos anteriores ocorreram em tempos em que o Fed inundava, agressivamente, os mercados financeiros com dinheiro, comprava obrigações ou prometia taxas baixas.

Mas agora o Fed deixou de comprar títulos e hipotecas e prepara-se para aumentar, pela primeira vez em quase uma década, as taxas. Nesse sentido, a rede de segurança poderá não estar por perto desta vez.

As ações não são baratas

Ao mesmo tempo tornou-se mais difícil encontrar pechinchas no mercado de ações, especialmente tendo em conta o abrandamento do crescimento de lucros alimentado pela energia. Diversos especialistas acreditaram que o mercado de ações dos EUA se encontrava perto da total valorização antes do recente recuo dos preços.

“Os preços das ações começaram muito à frente da realidade. Estão a ter um grande ajuste de valorização agora.” – Afirmou Peter Boockvar, analista-chefe de mercado no The Lindsey Group.

Apesar de se tratar de um susto amplo (com a China) o mesmo não se encontra ainda ao nível da crise Lehman de 2008. Naquela altura o sistema financeiro global encontrava-se à beira de um colapso.

“Tratou-se de uma crise existencial. Havia a possibilidade real de se ter transformado numa depressão.” – Afirmou Joy.

Dado o papel fundamental da China na condução do crescimento global este episódio está claramente a enervar os investidores – mais do que os anteriores ataques de pânico desde a crise.

A China tenta estabilizar o crescimento

A reação do mercado é justificada ou exagerada? É muito cedo para o dizer neste momento. Vale a pena lembrar que a economia da China ainda está a crescer, apenas a um ritmo mais lento. Poucos estão a considerar uma recessão.

“Não é como se a economia chinesa tivesse caído de um penhasco.” – Avançou Kenny.

E não é como se Pequim estivesse a dormir ao volante. O governo chinês tem lançado uma série de medidas para estimular o crescimento, incluindo vários cortes nas taxas de juro e a desvalorização – surpresa – da moeda para impulsionar as exportações.

É do melhor interesse dos líderes chineses fazerem de tudo para estabilizar o crescimento.

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