Leonhard Foeger/Reuters
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As divergências sobre as medidas a adotar face ao crescente influxo de migrantes estão a dificultar uma tomada de ação concertada. Como poderão as posições dos vários Estados-membros ser conciliadas?

A Alemanha e França pressionaram o resto da Europa para acabar com as disputas ao redor da crise migratória – que está a semear novas divisões políticas por todo o continente.

A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, apelaram a um sistema de partilha de encargos para distribuir por toda a União Europeia o crescente número de pessoas a chegar de regiões violentas no Médio Oriente, África e Ásia do Sul.

A sua chamada para a ação surgiu no seguimento de confrontos entre centenas de migrantes e a policia húngara e após a divulgação da fotografia de uma criança síria morta, numa praia da Turquia, no seguimento de afogamento ao tentar chegar a uma ilha grega – fotografia que apareceu nas primeiras páginas dos jornais por toda a Europa. A imagem provocou indignação em relação ao que os críticos dizem ser a tímida resposta da União Europeia à crise.

“É uma tragédia.” – avançou Hollande em relação à morte do rapaz – “Mas é também um apelo à consciência europeia.”

Migrantes tentam chegar aos apressados comboios para a Alemanha, na quinta-feira, na principal estação de comboios de Budapeste – onde muitos acamparam em condições desesperantes, com o país a impedi-los de viajar mais para dentro da UE.[FP1]

Dois comboios foram autorizados a sair da estação mas em vez de cruzarem a fronteira – como muitos dos refugiados a bordo assumiram que faria – pararam na cidade húngara de Bicske onde se encontra um campo de refugiados já lotado.

As tentativas por parte da polícia para levar os migrantes a desembarcarem nessa cidade conduziram a novas cenas de caos, com a policia a afirmar que cerca de 500 migrantes permaneceram nos comboios em “resistência passiva”.

As centenas de milhares de pessoas à procura de refúgio na Europa, este verão, têm deixado os países da UE rigidamente divididos entre ricos e pobres, Este e Oeste, e nações nas rotas de trânsito e aquelas que os migrantes procuram como destinos preferidos.

O bloco, ainda a recuperar de uma crise de dívida não cicatrizada e a lutar para lidar com uma guerra separatista apoiada pela Rússia na Ucrânia, enfrenta o terceiro maior desafio ao seu sonho de calma e prosperidade nesta década. O desafio da migração poderá ser o mais longo de todos para a Europa, um enclave de prosperidade cercado por continentes mais pobres, com problemas maiores e populações em rápido crescimento.

William Swing, chefe da Organização Internacional para as Migrações e diplomata norte-americano de longa data, afirmou:

“O fluxo não irá parar. Nunca vi tantos desastres humanitários não resolvidos, complexos e sem perspetiva no curto ou médio prazo de virem a terminar.”

A Alemanha e França enfrentam uma difícil batalha para reunir apoio de outras nações da União Europeia que não querem absorver um grande número de migrantes, mesmo daqueles que fogem da guerra e não apenas da pobreza.

A Alemanha abriu os seus braços para os refugiados de guerra da Síria e outros que necessitam de proteção – e pressiona outros países da UE a partilhar o fardo.

Países longe das últimas rotas de migração, como Espanha e o Reino Unido, não querem absorver mais do que números pequenos. Países mais pobres da Europa Central e de Leste, como a Hungria e a Polónia, com menor experiência em lidar com imigração como os países da Europa Ocidental, encontram-se entre os mais resistentes a deixar entrar migrantes.

Na passada quinta-feira, em Bruxelas, o Primeiro-ministro húngaro – Viktor Orban – atacou Berlim por supostamente incentivar refugiados da Síria e de outros países a procurarem nações da Europa de Leste no seu caminho para a Alemanha. Milhares de pessoas concentraram-se na estação de comboios em Budapeste nos últimos dias a aguardar autorização para seguirem para a Alemanha. As autoridades húngaras tentaram fechar as suas fronteiras com uma cerca de arame farpado procurando travar o fluxo de pessoas – com pouco sucesso.

“O problema não é europeu, é alemão. Ninguém gostaria de ficar na Hungria, na Eslováquia, Polónia ou Estónia.” – Afirmou Orban. “Todos querem ir para a Alemanha.”

Orban sublinhou a sua intenção de defender as fronteiras da Hungria contra os migrantes, na sua maioria muçulmanos, afirmando que a identidade da Europa se baseia no Cristianismo e erigindo uma cerca de arame farpado ao longo da fronteira do seu país com a Sérvia. “Não queremos um grande número de muçulmanos no nosso país.” – Afirmou. Em julho afirmou que vê a existência da Europa e do modo de vida europeu ameaçados.

A Primeira-ministra polaca, Ewa Kopacz, afirma que o seu país é contra a redistribuição automática de migrantes entre os estados europeus e que as decisões relativamente ao número de pessoas a serem recebidas devem ser tomadas pelos governos nacionais e não por Bruxelas.

Diplomatas da UE afirmaram que as propostas em discussão poderão permitir a redistribuição de, pelo menos, 160.000 migrantes por toda a UE.

Merkel avançou que serão estabelecidos centros perto das fronteiras externas da UE para admitir pessoas que fogem do conflito e da opressão – bloqueando, por sua vez, aqueles que tentam entrar na Europa por questões económicas.

O fardo de responder a uma massa de chegadas, de população quase sempre desesperada, é atualmente compartilhado entre pontos de entrada de migrantes na Grécia e em Itália e nos seus destinos preferidos, Alemanha e Suécia.

Em muitos outros países europeus os governos estão a esforçar-se por manter o assunto distante, com receio de um retrocesso político anti-imigração ou preocupados com a hipótese de que maior abertura para com os migrantes encoraje o aumento da procura desses mesmos países.

Em Budapeste, os migrantes bloqueados na estação de comboio foram alvo de protestos do Jobbik, partido húngaro de extrema-direita que se opõe estritamente à imigração.

Hollande tem procurado alinhar França com a Alemanha no combate à crise – no entanto, a sua margem de manobra é limitada pela crescente popularidade de forças políticas anti-imigração. Marine Le Pen, líder do Frente Nacional, partido de extrema-direita, avançou esta semana que se encontra “aterrorizada pela lassidão do nosso governo.”

“O direito a asilo tornou-se muito flexível – tornou-se uma nova forma de imigração ilegal.” – Afirmou Le Pen.

No entanto, ao contrário da maioria dos seus pares na Europa Merkel tem estado sob pouca pressão política interna em relação aos migrantes. Os principais partidos da oposição, de direita e anti-imigração estão em desordem e apesar do país registar protestos quase diários contra os migrantes a polícia afirma que os mesmos se tratam de uma barulhenta mas pequena franja da extrema direita.

Numa pesquisa conduzida no final de julho 57% dos alemães afirmaram que o país deveria continuar a receber pelo menos o mesmo número de refugiados que no passado, enquanto 38% afirmou que deveria ser dada entrada a menos refugiados. A mesma pesquisa mostrou uma esmagadora vontade de receção de vítimas de guerras civis ou perseguição, mas pouca tolerância com migrantes económicos.

Merkel advertiu que outros países europeus devem seguir o exemplo da Alemanha ao oferecer proteção aos refugiados.

“Aqueles que precisam de proteção devem obter proteção.” – Afirmou durante uma visita à Suíça, acrescentando que esse princípio deve ser “aplicado por todos os membros da União Europeia.”

O Primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, disse que a fotografia do rapaz morto “quebrou o nosso coração e despedaçou a nossa alma.”

Acrescentou: “Temos visto muitos líderes europeus a ficarem comovidos – mas muito poucos assumem medidas.”

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