Perceba como a desvalorização das moedas nas economias emergentes está piorar uma situação que já era delicada.
Os investidores preveem que o Brasil e a África do Sul vão falhar no pagamento da sua dívida quando esta atingir o seu nível mais elevado desde a crise financeira, acentuando dessa forma o stress que se vai acumulando em relação às economias dos mercados emergentes que vão estar presentes na reunião do Banco de Reserva Federal mais esperada desde há muitos anos.
O custo de um swap de risco de incumprimento – um contrato semelhante a um seguro que compensa os seus utilizadores de incumprimentos de dívida – não é a única coisa que preocupa os investidores quanto à reunião de dois dias do Banco de Reserva Federal que durará até ao dia 17 de setembro. As moedas da Turquia, África do Sul e da Malásia atingiram os seus níveis mais fracos em relação ao dólar desde há muitos anos. A dívida pública de 10 anos aumentou significativamente nos mercados emergentes, mesmo que os rendimentos nos E.U.A. tenham diminuído este verão. O rendimento das obrigações têm um movimento inverso em relação aos preços.
Muitos investidores acreditam que o Banco de Reserva Federal vai aumentar este ano as taxas de juros de curto prazo pela primeira vez desde 2006, o que vai intensificar a pressão nos países em desenvolvimento, muitos deles já com problemas relacionados com o crescimento lento, uma dívida substancial e a escassa procura de produtos que é o principal motor de grande parte da sua economia interna.
A Turquia e o Brasil são consideradas economias especialmente vulneráveis para a maioria dos investidores, devido aos seus desequilíbrios económicos que muito provavelmente se vão agravar com a diminuição de valor das suas moedas. A dívida externa da Turquia, ou a dívida comprada por estrangeiros, como percentagem do seu produto interno bruto é, de entre todos os países emergentes, a mais alta; quanto ao Brasil, está a enfrentar problemas como os preços fracos dos produtos, a fraca procura de produtos por parte da China e os esforços do governo em cortar nas despesas sem atingir o rendimento.
Contudo, vários analistas afirmaram que é pouco provável que os países em desenvolvimento sejam atingidos por uma profunda crise como foi a dos anos 90, graças à adoção de grande parte dos países desenvolvidos de medidas de revisão como por exemplo a livre flutuação de moedas, a acumulação de reservas de moedas estrangeiras avultadas e o aumento de lançamentos de obrigações denominadas em moeda local.
Segundo eles, embora as economias dos mercados emergentes e os preços dos ativos possam vir a sofrer mais descidas, há alguns sinais desse tipo de contágio que apanharam de surpresa os mercados emergentes depois da crise na Ásia em 1997 e do incumprimento da Rússia em 1998.
Claire Dissaux, diretora do gabinete de economia e estratégia no Millennium Global, uma empresa de investimentos em moedas com sede em Londres que gere $16 mil milhões em ativos, disse:
“A habilidade dos mercados emergentes de lidar com os choques externos melhorou nas últimas duas décadas.”
A dor já foi substancial. A lira turca, o rand da África do Sul e o ringgit da Malásia já perderam até agora neste ano 23%, 15% e 19% respetivamente em relação ao dólar. O real do Brasil teve uma desvalorização de 31% este ano, atingindo uma baixa de 13% na quinta-feira, um dia depois do serviço de notação do risco da Standard & Poor ter cortado na classificação do crédito do país e classificá-lo como “lixo”. O índice J.P. Morgan Emerging Markets Currency, um índice que avalia um cabaz de moedas, teve uma desvalorização de 14% nos primeiros oito meses deste ano.
A desvalorização de moedas prejudicou o poder de compra dos países emergentes, aumentou a inflação e fez com que as empresas que exploram o grande mercado com dívidas denominadas em dólares fossem incapazes de fazer a gestão ativos-responsabilidades. Uma moeda em queda pode afetar o rendimento de um país e ao mesmo tempo aumentar o valor dos pagamentos da dívida na moeda local.
O enfraquecimento das moedas também pode desencadear uma fuga de capitais, tal como foi mais visto este ano na China, o que coloca mais pressão no sentido descendente das taxas de câmbio. Frequentemente, os bancos centrais recorrem às reservas de divisas para ajudar a estabilizar a moeda.
São estas preocupações que estão claramente em jogo no Brasil, onde os investidores pagaram $389.260 anuais para garantir $10 milhões de dívida por cinco anos, o nível mais alto desde a crise financeira, comparado com os cerca de $140.000 de há um ano atrás, e também na África do Sul, onde os investidores pagaram $270.780 anuais para garantir uma dívida de $10 milhões, um aumento em relação aos cerca de $180.000 pagos no ano passado.
No entanto, alguns investidores veem sinais de esperança nas desvalorizações das moedas dos mercados emergentes.
A Índia, que foi considerado um país frágil por alguns investidores em 2013 quando o Banco de Reserva Federal indicou um recuo do seu programa de compra de obrigações, desde essa altura que diminuiu o seu défice da balança atual, em parte graças a uma desvalorização de quase 20% da sua moeda, a rupia, em relação ao dólar e à diminuição dos preços do petróleo. Uma moeda mais fraca normalmente tende a impulsionar as exportações e a reduzir as importações, o que ajuda a melhorar a balança comercial do país.
Alguns veem sinais de que o pior acabará em breve. Patrick Zweifel, economista chefe na Pictet Asset Management SA, que gere $160 mil milhões em ativos, afirmou que 42 moedas de mercados emergentes que ele gere estão desvalorizadas numa média de 24% em relação ao dólar, o nível mais barato desde 1985, em medidas como o poder de compra e a produtividade.
Mesmo assim, as moedas dos mercados emergentes vão permanecer sob pressão enquanto estes países se encontrarem a debater-se com tempos económicos difíceis. Assim que as pessoas começarem a ver o crescimento mundial a reanimar e sinais de estabilização nos preços dos produtos e nos mercados chineses, as moedas dos mercados emergentes vão encontrar o seu lugar, disse Nick Rohatyn, diretor de investimentos no Rohatyn Group, uma empresa de investimentos nos mercados emergentes com $5,5 mil milhões em ativos.