O presidente da China discursou nos EUA tentando assegurar os seus parceiros da estabilidade da economia chinesa. Terá ele razão?
No seu primeiro discurso durante uma visita aos Estados Unidos, o presidente chinês Xi Jinping defendeu o ritmo de crescimento do seu país e tranquilizou o mundo de que os mercados financeiros da China vão permanecer estáveis. O líder de 62 anos contou aos diplomatas norte-americanos e dirigentes empresariais num jantar em Seattle na terça-feira:
“A economia chinesa vai continuar a um passo estável com um razoável crescimento rápido. Ainda está a funcionar a uma escala apropriada com uma taxa de crescimento de 7% (...) A nossa economia encontra-se sob pressão mas é algo que faz parte do caminho em direção ao crescimento.”
Os seus comentários precederam dados que mostram um medidor preliminar da atividade fabril chinesa a atingir o valor mais baixo desde 2009.
Entre os convidados de alto perfil presentes no jantar de terça-feira estavam o antigo Secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, a Secretária do Comércio norte-americana Penny Pritzker e vários diretores executivos da Microsoft, da Ford, da Apple, da Starbucks, da IBM e muitos mais.
Mercado de ações
Embora o discurso do Presidente Xi tenha tocado em vários tópicos polémicos desde os cibercrimes a questões de direitos humanos, o seu comentário sobre os mercados chineses foi talvez o que mais interessou aos investidores internacionais.
Xi afirmou que a bolsa de valores chinesa atingiu de momento uma fase de autorrecuperação e de ajustamento após um período de volatilidade extrema que provocou ruturas em todo o mundo. A China tem uma mensagem que os mercados não compreendem. Apesar do seu tom otimista, os índices de Xangai e Shenzhen abriram com mais de 1% abaixo durante o horário de comércio asiático. Também disse que a China não ia baixar a taxa de câmbio para impulsionar as exportações, repetindo a declaração de Pequim que não existem bases para continuar a desvalorizar a moeda numa tentativa de anular medos de uma guerra cambial asiática depois da surpresa da desvalorização do renminbi em agosto.
No entanto, na semana passada, a empresa de estudos IDEAglobal disse que a China estava a refletir numa desvalorização de 15 a 20% da sua moeda no final de 2016, citando uma entrevista que realizou com uma “fonte de informação asiática fidedigna”.
Contudo, o yuan demonstrou pouca reação aos comentários de Xi, sendo negociado a uma preço baixo de cerca de 6,38 por dólares numa negociação anterior, mas os analistas vão apreciar o voto de confiança de Xi a longo prazo. Frederic Neumann, diretor geral do HSBC e co-diretor do Instituto de Investigação Económica Asiática, disse ao CNBC:
“As palavras ouvidas esta noite vão descansar os investidores de que afinal não se vão ver grandes movimentos da moeda. A estabilidade vai estar em primeiro lugar e acho que os mercado de ações vão apreciar isso.”
Certamente que ainda existem alguns céticos.
“Quando Xi diz que não vai desvalorizar para impulsionar as exportações, está simplesmente a agir conforme o código dos G20. Ele pode desvalorizar por motivos de crescimento doméstico. E vai fazê-lo,” “tweetou” Jim Rickards, estrategista-chefe global na West Shore Funds, após o discurso.
PIB da China
No plano económico, o Presidente disse que o desenvolvimento continuava a ser a principal prioridade de Pequim: “Temos de focar todos os nossos recursos na melhoria dos padrões de vida. Pretendemos duplicar o produto interno bruto (PIB) per capita.”
O Presidente chinês Xi Jinping durante o banquete de boas-vindas no início da sua visita a Seattle no dia 22 de setembro de 2015.
Ele salientou que o PIB per capita chinês é apenas um sétimo do dos Estados Unidos, com 70 milhões de chineses a viver abaixo do limiar de pobreza. Xi descreveu como foi enviado durante a sua adolescência para trabalhar no campo durante sete anos, onde os aldeões viviam em cavernas de terra, e saudou o progresso que as áreas rurais fizeram desde essa altura.
“Voltei ao local recentemente. As estradas estavam pavimentadas, os aldeões tinham acesso à internet e a carne.”
O Presidente chinês alertou que a chave para o desenvolvimento está na reforma, acrescentando que a China tem a determinação para aplicar reformas estruturais e orientadas para o mercado.
As relações entre a China e os E.U.A
O Presidente Xi disse que pretende aprofundar a compreensão e reduzir a desconfiança, avisando que qualquer conflito iria levar ao “desastre”. Segundo proclamou, as duas nações de peso devem assinar um tratado de investimento bilateral de elevada qualidade o mais rapidamente possível.
Xi também afirmou que Pequim está preparada para cooperar com Washington na luta contra os cibercrimes e está disposta a marcar um diálogo conjunto. Antes da visita de Xi, Washington confirmou que não vai impor sanções económicas à China por motivos de guerra eletrónica depois de fazer anteriormente alusão à China entre alegações de que Pequim lançou um ataque de hacking contra os alvos norte-americanos.
Durante anos, as autoridades norte-americanas expressaram as suas preocupações em relação ao nível de ataques provenientes da China, mesmo quando Pequim insistia de que não se envolve em tais atividades, e que está simplesmente a ser vítima das invasões digitais dos E.U.A.
Na semana passada, o Presidente Barak Obama invocou um quadro internacional sobre cibersegurança para prevenir que a Internet se torne num “espaço armado”.
Política interna
No plano da política chinesa, o Presidente Xi disse que uma rígida campanha anticorrupção que afetou profundamente os lucros dos retalhistas de produtos de luxo e dos casinos não tem nada a ver com uma disputa pelo poder interna. “Não existe nenhuma House of Cards”, disse ele, referindo-se à série de televisão de êxito que retrata um presidente americano tirânico. “Se assim fosse, o Partido Comunista dirigente também iria perder o apoio da população se a corrupção não fosse controlada”, acrescentou ele.
Durante os 40 minutos de discurso, os peritos pareceram bastante satisfeitos com o desempenho de Xi. Orville Schell, diretor do Centro de Relações entre a China e os E.U.A. da Asia Society, contou ao CNBC:
“Ele cobriu mesmo toda a litania de preocupações agudas que os americanos tinham. Vê-se que ele fez o trabalho de casa e penso que o seu discurso vai certamente tranquilizar as pessoas.”
“Xi promete uma China mais acolhedora, amigável e complacente, mas a questão é, claro, qual o máximo dessas qualidades que ele pode proporcionar”, acrescentou Schell.
“Ele tocou nas principais questões nos seus comentários e concluiu com uma forte afirmação de apoio a uma maior confiança na relação entre a China e os E.U.A.”, repercutiu John Frisbie, presidente do Conselho de Negócios entre os E.U.A. e a China.