6 Coisas em que esta crise de refugiados é diferente
David W Cerny/Reuters
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Perceba porque é que o atual problema dos refugiados é diferente de qualquer outro desafio que a Europa já tenha enfrentado, e porque deve, nesse sentido, ser abordado de uma forma diferente.

1. Esta crise é de uma escala a que a Europa não assistia há muito tempo

O número de pessoas a entrar na Europa já era um fenómeno bastante acentuado desde 2012, maioritariamente por consequência do conflito na Síria, mas também devido aos ataques do Estado Islâmico no Iraque e às lutas internas na Eritreia.

Contudo, as coisas mudaram a uma velocidade vertiginosa em 2015. Segundo o que a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) diz, a maioria das pessoas que pede asilo na Europa entram inicialmente no continente por passagens de fronteira ilegais. Em 2014 registaram-se cerca de 280.000 passagens desse tipo. Nos primeiros oito meses de 2015, registou-se 500.000.

2. Há muitas crianças a viajar sozinhas

O relatório alerta para a questão “marcante e preocupante” desta crise de refugiados por haver uma grande porção de menores não acompanhados – ou seja, crianças a viajarem sem terem os pais ou encarregados de educação a acompanhá-los.

Estes dados estão um pouco desatualizados, mas mostram que 24.000 dos requerentes de asilo que chegaram à UE em 2014 foram menores não acompanhados, cerca de 4% do total. Vários relatórios no terreno em 2015 sugerem que estes dados e proporção vão aumentar. O relatório alerta para o facto de as crianças que viajam sozinhas serem particularmente mais afetadas, mesmo depois de se encontrarem num país seguro, tal como a sua situação coloca mais problemas para os países que as recebem quando estas chegam em números vastos, pois há várias questões que têm de ser tratadas – arranjar-lhes casa, carreiras e educação.

Os adolescentes mais velhos – a subcategoria mais predominante deste grupo – são a faixa etária mais afetada negativamente, pois na maioria das vezes só recebem apoios do estado durante um ano ou dois anos antes de serem excluídos dos sistemas de cuidados e educação do governo assim que atingem os 18 anos, quando na maioria dos casos ainda têm pouca instrução ou compreensão do seu novo país.

3. Estas pessoas estão a vir de muitos mais países

Nos primeiros três meses de 2015, apenas 14% das pessoas requerentes de asilo na UE eram naturais da Síria. Este valor aumentou ao longo do ano, no entanto as pessoas dos países dentro dos novos planos de recolocação da Comissão Europeia – a Síria, o Iraque e a Eritreia – representam apenas cerca de um quarto de todos os pedidos nos primeiros seis meses do ano.

Contudo, estes números aumentaram um terço em junho, e espera-se que vá aumentar muito mais.

4. A Alemanha é até agora o principal destino – e a sua liderança continua a aumentar

Alguns países estão a receber e a aceitar números volumosos de pessoas requerentes de asilo, enquanto outros quase que não registam a crise – aumentando assim o fardo dos outros.

Nos primeiros três meses de 2013, a Alemanha era o destino de 17% dos requerentes de asilo na OCDE, já na altura mais do que qualquer outro país. Em 2015, estes valores aumentaram drasticamente para 31% e vão aumentar ainda mais, tanto que o estado alemão prevê a entrada de mais de um milhão de pessoas no país.

Em contrapartida, o Reino Unido, que em 2013 recebeu 6% de requerentes de asilo, deixou de ser um local de destino, sendo que apenas 3% dos refugiados tentaram chegar a este país nos primeiros meses de 2015.

5. Os refugiados não estão a entrar por uma única via

As pessoas que estão a entrar na Europa para pedir asilo estão a fazê-lo por várias vias, com variados graus de perigo para si a para as suas famílias – mesmo que venham todos do mesmo país.

A via pela Grécia era a mais movimentada nos primeiros seis meses de 2015, contudo, a Hungria e a Itália também viram grandes números de entrantes. O grupo de pessoas também variou marcadamente em cada uma das vias de entrada: a maioria das pessoas a entrar a partir da Grécia e de Espanha eram sírios, enquanto a Eritreia era o país de origem mais comum das pessoas a entrar na Europa pela Itália.

6. Muitas pessoas a entrar na Europa são trabalhadores qualificados

De acordo com o relatório:

“Ao contrário da perceção pública, a maioria dos refugiados não são os mais pobres dos pobres do seu país de origem e tendem a ter níveis mais elevados de competências do que a população geral do seu país de origem.”

Este facto parece ser verdadeiro nesta crise, com dados recolhidos na Suécia e Alemanha a sugerir que os níveis elevados de educação chegam a ser até maiores do que os da população que entrou na Europa durante a crise humanitária provocada pelo desmoronamento da antiga Jugoslávia.

Na Alemanha, 15% dos refugiados sírios têm uma licenciatura ou equivalente, outros 16% concluíram o ensino secundário superior e 35% concluíram o ensino secundário inferior.

Por esta razão, tal como o relatório da OCDE sugere, embora aceitar os refugiados possa ser dispendioso e perturbador a curto prazo para os países de acolhimento, é provável que a longo prazo se possa esperar benefícios económicos por se aceitar estas pessoas nos seus países.

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