Como a imprensa estrangeira antecipa as eleições de Portugal
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Revelamos-lhe um artigo do Wall Street Journal, da autoria de Patricia Kowsman, que oferece uma visão mais distanciada, e por isso mais factual e menos emotiva do que está em jogo nas eleições de domingo.

Apenas há algumas semanas atrás, os eleitores portugueses pareciam prontos para castigar o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho por cortes nos gastos e aumento de impostos que conduziram o país mais pobre da Europa ocidental a uma forte recessão de modo a salvá-lo da insolvência.

Mas com a economia a dar uns tímidos sinais de recuperação, uma recente onda de apoio à coligação governamental está a fazer com que as sondagens a apresentem com vários pontos percentuais à frente do Partido Socialista, sendo assim a preferida dos votantes numa eleição que é vista como um teste às políticas implantadas na zona euro.

Nos quatro anos desde que Passos Coelho foi eleito, Portugal tornou-se um aderente exemplar das medidas de austeridade prescritas pela Alemanha, de modo a cumprir os termos do resgate de 78 mil milhões de euros que terminou no ano passado.

Caso seja reeleito Pedro Passos Coelho irá tornar-se no primeiro líder da zona euro a completar um programa de austeridade e a conseguir obter um novo mandato depois disso.

Os líderes dos outros países europeus resgatados desde 2010 têm tido dificuldades em defender a austeridade. A coligação no governo da Irlanda irá deparar-se com uma luta difícil para a reeleição no princípio do próximo ano. A liderança conservativa de Espanha arrisca-se a perder o poder em dezembro.

Depois do colapso de sucessivos governos que impuseram medidas de austeridade na Grécia, os votantes em janeiro escolheram o partido de esquerda Syriza que trazia a promessa de reverter tais medidas. Porém voltaram a eleger o partido depois de o mesmo ter subscrito um novo memorando de austeridade.

As dificuldades por que Portugal tem passado enfraqueceram Passos Coelho, um político de carreira de 51 anos de idade com uma licenciatura em economia. Mesmo que ele ganhe, de acordo com as sondagens, a sua coligação perderá a maioria que tem atualmente no parlamento. Com menos deputados do que os partidos de esquerda terá dificuldades em aplicar medidas que lhe garantam a continuidade do seu programa político e ideológico.

A economia portuguesa contraiu mais de 6% entre 2011 e 2013 enquanto Passos Coelho atacou o défice público com aumentos agudos de impostos, redução do salário de funcionários públicos e cortes na saúde e educação.

Por volta de maio de 2014 a economia melhorou o suficiente para terminar o resgate, e é esperado que cresça 1,6% este ano. O desemprego caiu de um máximo de 17% para cerca de 12%, sendo que para tal redução muito contribuiu uma das maiores ondas de emigração da história recente do país.

Apesar dos economistas afirmarem que a recuperação é bastante frágil, as exportações aumentaram e o investimento está a começar a também crescer. Passos Coelho tem dado ênfase a estes pontos na sua campanha, lembrando os eleitores de que Portugal caiu em recessão e pediu o resgate quando estava no poder o rival Partido Socialista.

Numa aparição televisiva em setembro o primeiro-ministro disse:

“Os portugueses encontraram dificuldades e venceram-nas. Agora oferecemos um caminho claro que almeja continuar com a recuperação.”

As sondagens, que apontavam para que a coligação governamental obtivesse um número de votos muito semelhante ao do principal partido da oposição, indicam agora uma clara vantagem dos partidos do governo.

municipal de Lisboa, surgia à frente da coligação PSD/CDS nas sondagens.

Para muita gente Passos Coelho continua impopular. É assim para Sónia Quendera, que anteriormente apoiava o partido do primeiro-ministro mas que perdeu o emprego numa fábrica de cortiça em 2012. Quando Passos Coelho apareceu a fazer campanha na cidade do Montijo no mês passado Sónia recebeu-o com gritos de “fora!”

De acordo com Sónia, a austeridade tornou Portugal “um país muito injusto, onde a classe média praticamente já não existe.” Sónia, de 45 anos, diz que talvez vá votar no Bloco de Esquerda, ou em qualquer outro partido menos o do primeiro-ministro.

Porém, à medida que a economia tem melhorado, Passos Coelho tem ganhado apoiantes como Orlando Lopes, de 74 anos, que possuía um pequeno negócio de reparações antes de se reformar.

“O governo fez o que tinha de ser feito”, diz o senhor Lopes enquanto observa o primeiro-ministro a saudar apoiantes no Montijo.

O senhor Lopes diz que leis que protegem as pessoas de baixos rendimentos fizeram com que a sua reforma de 538€ mensais fosse poupada aos cortes. Um apoiante de longa data do Partido Comunista, o senhor Lopes diz que desta vez votará na coligação governamental para ajudar Passos Coelho a derrotar o Partido Socialista.

António Costa Pinto, um cientista político da Universidade de Lisboa, diz que Passos Coelho tem sido “muito eficiente a passar a mensagem de que a economia está a melhorar, e que Portugal não pode arriscar um retrocesso nas mãos do Partido Socialista”.

De acordo com o cientista a campanha dos Socialistas “tem tentado com dificuldade absorver votantes da esquerda e da direita.” Houve um momento em que o líder da oposição saudou a mensagem de anti-austeridade do Syriza na Grécia como “um sinal de mudança da orientação política da Europa”.

E mais tarde recuou, ao dizer que favorecia negociação em vez de confrontação com os parceiros da União Europeia.

Ambos os principais candidatos prometeram estimular um crescimento mais rápido através do aumento dos salários da função pública e da eliminação da sobretaxa do IRS imposta no memorando de resgate. Mas Passos Coelho iria fazê-lo a um ritmo mais lento do que António Costa.

Costa apresenta como uma das suas bandeiras a redução do IVA da restauração e uma redefinição dos impostos sobre os rendimentos de modo a proporcionar um alívio adicional a quem aufere salários mais baixos, enquanto Pedro Passos Coelho não anuncia alterações nestes pontos. António Costa afirma ainda ser necessário reduzir o défice orçamental e rejeita pressões dos partidos mais à esquerda para renegociar a dívida.

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