O fim da era Merkel está à vista
AP Photo/Markus Schreiber
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A forma como a chanceler tem gerido a crise dos migrantes está a levar ao colapso da sua popularidade junto do eleitorado alemão.

No início deste ano Angela Merkel parecia ter boas hipóteses de ser o político mais bem sucedido do mundo. A chanceler alemã tinha passado por três vitórias eleitorais sucessivas. Era a mais dominante figura política na Europa e muito popular em casa.

No entanto, a crise dos refugiados que paira sobre a Alemanha poderá significar o fim da era Merkel. Com o país na fila para receber mais de um milhão de requerentes de asilo só este ano a ansiedade pública está a aumentar – bem como a critica relativamente a Merkel, nomeadamente de dentro do seu próprio partido. Alguns dos seus aliados políticos reconhecem que é agora distintamente possível que a chanceler tenha de deixar o cargo – antes das próximas eleições gerais em 2017. Mesmo que Merkel preveja um mandato completo a noção de uma quarta administração Merkel, amplamente discutida há alguns meses atrás, parece agora improvável.

De certa forma tudo isto é profundamente injusto. Merkel não causou a guerra civil síria ou os problemas na Eritreia ou Afeganistão. A sua resposta à situação de milhões de refugiados deslocados pelo conflito tem sido corajosa e compassiva. A chanceler tem procurado viver de acordo com as melhores tradições da Alemanha do pós-guerra – com respeito pelos direitos humanos e determinação no cumprimento de obrigações legais internacionais.

O problema é que o governo de Merkel perdeu o controle da situação. Autoridades alemãs endossam publicamente a declaração da chanceler em como “Nós podemos fazer isto”. Mas há pânico logo abaixo da superfície: os custos são crescentes, os serviços sociais estão a estalar, Merkel cai nas sondagens e está em ascensão a violência da extrema-direita. A Der Spiegel, revista de notícias alemã, escreveu esta semana que:

“A Alemanha dos dias de hoje é um lugar onde as pessoas se sentem totalmente desinibidas para expressar o seu ódio e xenofobia.”

Com a superfície plácida da sociedade alemã perturbada os argumentos sobre os positivos impactos económicos e demográficos da imigração estão a perder relevância. Em vez disso, temores sobre o efeito social e político no longo-prazo da aceitação de tantos recém-chegados – especialmente provenientes do Médio Oriente em implosão – estão a ganhar terreno.

Entretanto, os refugiados continuam a seguir para a Alemanha – a uma velocidade de cerca de 10.000 por dia. (Em contraste: o Reino Unido oferece-se para aceitar 20.000 refugiados sírios ao longo de quatro anos).

A Mutti deve estar louca

Tudo contrasta com a calma e controle que Merkel costumava irradiar – capturado no seu apelido Mutti (ou “mãe”). Ao longo de 2014, como Merkel liderou a resposta da Europa à crise da zona euro e à anexação da Crimeia por parte da Rússia, os eleitores alemães pareciam mais inclinados do que nunca para colocar a sua fé no julgamento da chanceler.

A crise dos refugiados, no entanto, revelou um outro lado para Merkel. Alguns eleitores parecem concluir que Mutti enlouqueceu – abrindo as fronteiras da Alemanha para os desventurados da terra.

Isto, claro, é uma grande simplificação. A decisão da Alemanha no mês passado – de não retornar os requerentes de asilo sírios para o primeiro país seguro onde tivessem entrado – foi, em parte, um reconhecimento pragmático de que uma medida desse tipo já não era prática. No entanto, Merkel foi vista como tendo anunciado uma “porta aberta”. Essa impressão persiste – tornando a Alemanha (juntamente com a Suécia) o país de eleição na UE por parte dos requerentes de asilo.

A única forma de reverter esta situação rapidamente passaria pela construção de cercas na fronteira, do mesmo tipo que o governo húngaro de Viktor Orban construiu. Alguns conservadores alemães estão precisamente a apelar a esse tipo de medidas mas é improvável que Merkel abrace a opção de Orban. Merkel sabe que uma medida dessas seria uma sentença de morte à livre circulação de pessoas no interior da UE e destabilizaria seriamente os Balcãs ao concentrar os refugiados nos seus países.

Em vez disso Merkel pretende uma solução à escala da UE. No entanto, os planos alemães para um mecanismo obrigatório de partilha de refugiados por toda a UE – e para um fundo de emergência para partilha de custos – estão a encontrar uma forte resistência. Como resultado, as relações da Alemanha com os seus parceiros da UE, já tensas pela crise da zona euro, estão a piorar. A eleição de um governo anti-migração na Polónia, este fim de semana, não irá ajudar.

Conseguirá Merkel reverter a situação?

Se o governo alemão tiver sorte a vinda do inverno irá diminuir o fluxo de refugiados, proporcionando espaço de manobra para organizar a receção de requerentes de asilo e chegar a novos acordos com os países de trânsito, especialmente a Turquia.

Caso a chanceler retome o controle da situação continua a ser possível que daqui a 20 anos ainda seja vista como mãe de uma diferente, mais vibrante e multicultural, Alemanha – um país que se manteve fiel aos seus valores quando posto à proa.

No entanto, se o número de refugiados que se dirigem para a Alemanha continuar no nível atual por algum tempo, e Merkel continuar empenhada em abrir as fronteiras, a pressão para que deixe o cargo irá crescer. Não existem, de momento, rivais óbvios – mas uma crise contínua irá, sem dúvida, proporcionar o surgimento de alguns.

Independentemente do destino e reputação pessoal da chanceler a crise dos refugiados marca um ponto de viragem. A década após Merkel ter chegado ao poder em 2005 parece agora um período abençoado para a Alemanha, no qual o país foi capaz de desfrutar de paz, prosperidade e respeito internacional, mantendo os problemas do mundo a uma distância segura. Essa era de ouro terminou agora.

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