A moeda chinesa está prestes a tornar-se moeda de reserva mundial. Saiba o que é que isso implica.
O que são “direitos especiais de saque”?
O DES (direitos especiais de saque) foi criado em 1969 pelo FMI
O DES (direitos especiais de saque) foi criado em 1969 pelo FMI para estimular o crescimento da liquidez mundial depois da queda do sistema Bretton-Woods com uma cotação de moeda fixa. Apesar de o DES não ser uma moeda do ponto de vista técnico, confere aos países-detentores o direito a receber qualquer moeda que está incluída na cesta (atualmente são dólar, euro, iene e libra) para satisfazer as necessidades de balanço. Assim sendo, a possibilidade de trocar o DES pelo yuan chinês é essencial. Hoje o preço do DES baseia-se na cotação das quatro moedas.
Quanto valor circula em DES?
O equivalente de por volta de 280 mil milhões de dólares foi criado e distribuido entre os participantes do DES em setembro deste ano, enquanto o montante de ativos mundiais de reserva é de 11,3 biliões de dólares. Em agosto, os EUA relataram que possuem DES no valor de 50 mil milhões de dólares.
Porque é que a China almeja tanto o estatuto de moeda de reserva?
No seu discurso de 2009, o chefe do Banco Popular da China Zhou Xiaochuan disse que a crise financeira mundial revelou os riscos do sistema monetário global, baseado em moedas nacionais de reserva. Embora não tenha mencionado o yuan, Zhou afirmou que os DES têm que assumir o papel de uma “moeda de reserva superconfiante”, e que o cabaz de moedas deve ser ampliado incluindo as moedas de todas as economias grandes.
Desde então o governo chinês tem sido mais explícito. Depois da reunião com Barack Obama, o Presidente da China Xi Jinping agradeceu aos EUA pelo apoio para que o yuan fosse adicionado ao cabaz de moedas dos DES.
A aprovação por parte do FMI permitirá aos reformadores no governo chinês afirmar que a transição do país para a economia de mercado está a surtir efeito.
Porque é se deve esperar que o FMI aprove este passo?
O uso global do yuan cresceu significativamente desde 2010 quando o FMI rejeitou a inclusão do yuan no DES. Em agosto a moeda chinesa ficou em quarto lugar entre as moedas mais usadas nos pagamentos internacionais, com 2,79% dos acordos efetuados. Como afirmou a Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (SWIFT), o yuan ultrapassou o iene.
O FMI usa vários indicadores, tais como se a moeda é “livremente utilizada”, critério crucial para incluir a moeda no cabaz. No relatório de agosto os funcionários da organização apontaram para o facto do yuan estar por trás dos seus principais rivais nos critérios importantes, como, por exemplo, o uso em reservas oficiais, títulos de dívida e mercado de câmbio. Porém, os mesmo funcionários realçaram que os 24 diretores executivos do fundo, que vão tomar a decisão final, terão que usar as suas próprias ideias.
Muitas economias fortes, como os EUA, a Alemanha e o Reino Unido, dizem estar prestes a incluir o yuan no cabaz. O apoio da moeda chinesa pode estreitar as relações entre a China e os países mencionados acima. Além disso, tal ajudará o FMI a melhorar as relações com a China.
O que pode acontecer com os ativos em yuan a longo prazo?
Os representantes das empresas Standard Chartered Plc e AXA Investment Managers afirmam: se o yuan tornar-se numa moeda de reserva, pelo menos um bilião de dólares das reservas mundiais passará aos ativos chineses.
A emissão de títulos financeiros em yuan (conhecidos como títulos panda) pelas empresas estrangeiras na China durante os próximos cinco anos pode ultrapassar 50 mil milhões de dólares, segundo a previsão da corporação International Finance (IFC), que pertence ao Banco Mundial.
Hua Jingdong, vice-presidente tesoureiro da IFC disse numa entrevista em Lima no início deste mês durante a reunião anual dos representantes do FMI e Banco Mundial:
“Uma vez que o yuan chinês fizer parte do DES, os gestores de reservas nos bancos centrais e os investidores institucionais automaticamente vão tentar adquirir ativos denominados em yuan. Para a China, seria estrategicamente importante receber bem todos os emissores para que estes se tornassem emissores no mercado interno chinês”.