A loucura das fusões e aquisições
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A eminente aquisição da Allergan por parte da Pfizer será o mais recente episódio da atual onda de fusões. Mas será que tal acrescentará valor à empresa?

Já não é nenhum segredo que a Pfizer estava a planear alguma coisa grande, num ano glorioso para a onda de fusões. Mas de alguma forma a durabilidade da série de acordos neste ano e o dinheiro que está em jogo ainda surpreende.

A atual onda de fusões e aquisições começou no início de 2014, com um desejo crescente das empresas norte-americanas de usar grandes e complexos acordos como um modo de evitar os impostos sufocantes e elevar lucros em queda. Este processo enfrentou resistência por parte do Ministério das Finanças dos EUA, mas, como normalmente acontece no governo, as medidas concretas de prevenção da inversão fiscal demoraram mais do que foi previsto. Algumas empresas grandes tiveram que desistir da transição da sua atividade para a Irlanda e outros países, mas tais acordos ainda existem.

A maior parte das transições está a ter lugar no momento atual: a Pfizer, a décima segunda maior corporação dos EUA está em negociação sobre a aquisição da Allergan. A empresa com a capitalização de mercado de $120 mil milhões é a principal fabricante de injeções anti-rugas Botox. A sede da empresa fica em Dublin.

O motor de megafusões continua a funcionar apesar das forças que o podem fazer descarrilar — as oscilações do mercado de ações, o abrandamento dos países emergentes, polémica em torno dos métodos dos preços na indústria farmacéutica etc. Os grandes acordos e a prática de evasão fiscal tornaram-se no tema de conversa dos candidatos à presidência dos EUA.

Apesar disso tudo, os CEOs das empresas e os seus banqueiros continuam a seguir os seus objetivos. Antes dessa semana não estava claro se o ano de 2015 poderia ultrapassar os resultados de 2007. Na época foram celebrados acordos de 3,4 biliões de dólares. Mas se a Pfizer comprar a Allergan, isto acontecerá com certeza.

Não é de certo que este e muitos outros acordos valham a pena. Parece que a Pfizer e outras grandes empresas estão a passar por dificuldades de crescimento dos lucros a curto prazo só para agradar aos acionistas impacientes. Por isso, a única coisa que eles podem fazer é fechar mega-acordos.

Quando e como tudo isto vai acabar?

Os CEOs estão a divulgar a ideia de que as sinergias das fusões levam ao fortalecimento das empresas. Em geral, os investidores concordam com isto e por isso as ações da maioria dos compradores estão a crescer. Porém sabemos que a maior parte das grandes fusões não acabam com o resultado esperado pelos chefes e acionistas. Quando duas grandes empresas passam a ser uma, podem ocorrer problemas imprevistos e dificuldades de integração. O lucro adicional e as vantagens das taxas de imposto mais baixas não irão satisfazer os investidores por muito tempo.

Nem todos os acordos acabam mal, mas é complicado definir quais destes são realmente úteis para o desenvolvimento do negócio a longo prazo, e quais são destinados ao aumento do preço corrente das ações. Olhemos para a Valeant: a sua estratégia de compras constantes pode afetar bastante a empresa, apesar dos anos de um crescimento alto das ações que deixou os concorrentes com inveja.

Além disso, o nível do património de marca nos balanços das empresas do índice S&P 500 continua a bater recordes. As possíveis reduções vão derrotar o principal objetivo da loucura das fusões, que a é de aumentar os lucros em queda.

A realidade é que os acionistas têm que começar a habituar-se à ideia de que grandes empresas não podem ser motores de crescimento perpétuo. Mesmo na indústria farmacéutica, onde as inovações estão a acontecer a toda hora e não há redução de doenças que precisam de ser tratadas, o processo de desenvolvimento de tratamentos, que devem obter aprovações regulares e entrar no mercado, leva um bom tempo. O crescimento vem em ondas.

Então a pergunta principal é: se a loucura das fusões está baseada na aspiração de conseguir alguns trimestres de um crescimento impressionante que não pode ser alcançado de outra maneira, será que as empresas vão se vão tornar mais fortes? Ou apenas as suas ações vão ficar mais caras?

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