Rússia, a nova vítima do terrorismo islâmico
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À medida que fica mais claro que uma bomba pode ter derrubado o avião russo sobre o Egito, o Kremlin prepara-se para a ameaça de terrorismo no país por parte dos militantes do Estado Islâmico.

As autoridades russas insistem que estavam preparadas para o risco de represálias terroristas depois do Presidente Vladimir Putin ter ordenado ataques aéreos na Síria. Mesmo que um ataque aos russos no estrangeiro não estivesse entre os seus cenários mais prováveis, a morte das 224 pessoas no acidente do Metrojet está a destacar a importância de manter a fervente insurgência interior sob controlo.

'Precisamos de tocar os sinos de alarme, há um aumento significativo do nível de risco', disse Rizvan Kurbanov, um membro do parlamento do Daguestão, uma região do Cáucaso do Norte que passou por uma das piores experiências de terrorismo na Rússia. 'Se no passado o problema foi local, hoje está presente em outras regiões do país'.

Uma organização afiliada do Estado Islâmico afirmou ter explodido o jato que saiu de Sharm el-Sheikh para São Petersburgo no dia 31 de outubro, dizendo que foi um ato de retaliação em resposta ao bombardeamendo da Rússia na Síria.

O facto de os russos estarem a tornar-se alvo do terrorismo internacional acrescenta outro elemento de risco que Putin deve usar na sua missão de restabelecer o papel do país nos assuntos globais. Ele criou a sua imagem de homem forte ao combater ataques no interior do país e o Kremlin terá grande interesse em evitar uma nova onda de violência, prejudicando o apoio para a campanha militar que começou a 30 de setembro.

Combater a ideologia

Pessoas suspeitas de financiamento do terrorismo internacional foram detetadas em 77 das 85 regiões do país, segundo o Serviço Federal de Segurança da Federação Russa. Também há um fluxo constante de detenções das pessoas suspeitas de ligações ao Estado Islâmico que foi designado como o principal alvo dos ataques aéreos na Síria.

'É claro que nós nos damos conta de que, com o começo desta operação contra todas essas organizações terroristas na Síria e aqueles que lhes dão apoio moral e financeiro, os terroristas vão tentar ativar grupos clandestinos na Rússia', disse numa entrevista Viktor Ozerov, presidente do Comité de Defesa no Conselho da Federação, câmara alta do Parlamento.

As autoridades russas têm que criar um programa para 'travar uma guerra contra o terrorismo islâmico, em particular na Internet, pois as crianças de 12 anos brincam aos militantes nas escolas', disse Kurbanov, um ex-funcionário alto de segurança no Daguestão. 'Sabemos muito bem como destruir e deter terroristas, 'embora estejamos a fazer pouco para combater a sua ideologia.'

Garantir a segurança

Na sexta-feira, Putin mandou parar os voos da Rússia para o Egito para garantir 'a segurança dos nossos cidadāos', disse o porta-voz Dmitry Peskov aos jornalistas. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha consideram que uma bomba pode ter causado o acidente de avião no deserto do Sinai. Por sua vez, a França expressou a mesma opinião. O Egito e a Rússia disseram que não há provas disso, embora não descartem tal possibilidade e os investigadores estejam a analisar um ruído dos últimos segundos do voo no gravador.

A interdição dos voos não será cancelada em breve e 'garantir a segurança para umas férias no Egito vai levar um tempo,' disse o primeiro-ministro Dmitry Medvedev na segunda-feira durante uma reunião com os deputados em Moscovo. 'Não nos vamos iludir, o processo não vai ser rápido.'

Putin justificou a campanha militar em parte ao dizer que cinco a sete mil pessoas da Rússia e outros países da ex-União Soviética aderiram ao Estado Islâmico e 'não pode ser permitido que elas apliquem em casa a experiência que estão a ganhar na Síria.' Porém, antes da campanha de bombardeamento ter começado, as autoridades em Moscovo subestimaram a ameaça por parte do Estado Islâmico na Rússia.

Insurgência no Cáucaso

A entrada da Rússia na guerra civil da Síria pode ter reanimado a ameaça terrorista que estava em declínio no interior do país, enquanto os extremistas russos correram para o campo de batalha no Médio Oriente, de acordo com um funcionário sénior da região do Cáucaso que pediu para permanecer no anonimato devido às questões de segurança.

'Agora todos os turistas russos, todos os empresários russos, todos os diplomatas russos são alvos,' disse Bruce Riedel, um membro sênior da Brookings Institution em Washingron. 'Putin tornou todos eles num alvo gigante.'

No Cáucaso do Norte, onde a insurgência estava a agravar-se durante alguns anos, 'cerca de dez grupos juraram fidelidade' ao Estado Islâmico, disse Grigory Shvedov, chefe do Caucasian Knot, um centro de notícias e análise em Moscovo. 'É a maioria dos combatentes, mas nem todos.'

Capacidade de combate

Poucos acham provável um retorno aos conflitos do início dos 2000 quando os terroristas da região russa Tchéchénia mataram centenas de pessoas em ataques, incluindo a captura de crianças e adultos numa escola em Beslan em setembro de 2004 depois de dois aviões de passageiros terem explodido devido provavelmente a atentados terroristas. Mesmo assim, a campanha na Síria pode aumentar a raiva contra o Kremlin, pois Putin colabora com muçulmanos xiitas ao apoiar o regime de Assad e os seus aliados do Irão, enquanto a maioria dos muçulmanos na Rússia são sunitas.

O envolvimento da Rússia na Síria ‘leva ao risco de irritar muitos sunitas’, acredita Robert Danin, o membro sénior do Centro de Belfer para a Iniciativa do Médio Oriente na Universidade de Harvard.

‘A capacidade de combate das nossas forças armadas’ melhorou e ‘isto comprova-se pela operação antiterrorista que estamos a realizar a pedido do líder sírio’, disse Putin na segunda-feira aos funcionários da área de defesa durante uma reunião em Sochi, na Rússia.

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