AP Photo/Hassan Ammar
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Apresentamos-lhe uma análise que conclui que é possível que em breve desviemos os olhares da Síria para outro país da região.

Uma série de cenários tenebrosos têm caído sobre o Médio Oriente nos últimos anos, desde guerra química até a tentativa de genocício, passando por colapso do Estado e pela conquista de largas porções de território por um grupo jihadista que exerce uma brutalidade sem precedentes.

Mas uma das frentes mais perigosas da região tem permanecido relativamente sossegada atá agora. Mesmo com os repetidos ataques de Israel às suas rotas de abastecimento de armas na Síria, ainda não começou a guerra aberta entre o grupo terrorista libanês Hezbollah e Israel.

Mesmo numa situação de tensão regional, o número de misseis que o Hezbollah lançou sobre Israel desde a conclusão da guerra do verão de 2006 pode ser contado com uma única mão.

Poucos acreditam que a frente Israel-Hezbollah fique calma para sempre. Dia 12 deste mês, Avi Isaacharoff relatou para o jornal The Times of Israel que os serviços de informações de Israel acreditam que o Hezbollah tenha hoje um arsenal de 150.000 mísseis, um aumento de 50% face a maio deste ano, e isto é ainda antes de as sanções ao Irão serem levantadas, o patrocinador estatal do grupo.

O Hezbollah pode estar profundamente entrincheirado no caos atual da Síria, onde está a lutar para preservar o regime do presidente Bashar al-Assad contra vários grupos armados. Mas o Hezbollah está ainda a amealhar um arsenal de armas para usar fora da Síria e contra um exército convencional com capacidades aéreas e náuticas, “continuando os seus esforços para adquirir os mísseis terra-ar SA-17 e SA-22 e os mísseis P-800 Oniks ar-mar,” relata Issacharoff.

Apesar de Israel ter repetidamente atacado alvos do Hezbollah dentro da Síria, o grupo e o Irão, o seu apoiante estatal, têm na verdade “aumentado (…) os esforços para introduzir mais armas iranianas,” que incluem “um número de mísseis de longo alcance de fabrico iraniano capazes de atingir cidades israelitas do norte ao sul.”

O sistema de armas russo a partir do qual os SA-22 terra-ar são modelados pode atingir alvos a até 18.000 m de uma distância de 20 Km. Os P-800, por outro lado, podem carregar ogivas de até 180 Kg a distâncias de até 290 Km. Estas armas são adquiridas com a intensão de minimizar a diferença qualitativa entre uma força irregular como o Hezbollah e um exército moderno avançado como o de Israel. Na perspetiva de Israel, o problema só ficará pior.

Um soldado israelita guarda um posto fronteiriço na fronteira entre Israel e o Líbano

O acordo nuclear assinado entre o Irão e um grupo de seis potências mundiais lideradas pelos EUA levanta muitas das sanções mais severas sobre o Irão, incluindo todas as autorizações de sanções da ONU. O Irão, para o qual o Hezbollah é uma altamente efetiva força por procuração, deverá receber obter algo entre $29 mil milhões e $150 mil milhões em alívio de sansões imediato como resultado do acordo.

A longo prazo, o acordo nuclear também resulta na remoção de todas as restrições de comércio de mísseis balísticos e armas convencionais no país depois de oito anos. O acordo enriquece o Irão e eventualmente dá acesso ao país a um leque mais alargado de armas avançadas.

Ao mesmo tempo, o panorama estratégico pós-acordo nuclear pode também tornar uma guerra mais provável. O propósito primário do arsenal de mísseis do Hezbollah era deter um ataque israelita às infraestruturas nucleares do Irão. O acordo nuclear significa que um ataque preventivo de Israel é bastante improvável atualmente, dado a conjuntura política.

O edifício do reator na central nuclear de construção russa de Bushehr, enquanto o primeiro combustível é descarregado, a 21 de agosto de 2010 em Bushehr, sul do Irão.

Mas esta pausa na ameaça de um ataque israelita também dá ao Irão e ao Hezbollah tempo adicional para aumentar a sua capacidade militar. De uma perspetiva israelita, não atuar contra o Hezbollah significa o aumento da capacidade de retaliação iraniana caso um ataque israelita às instalações nucleares do Irão seja mais tarde empreendido.

O Hezbollah pode ter as suas próprias razões para lançar uma guerra contra Israel. Têm havido sinais de que o Hezbollah e os seus parceiros iranianos têm procurado abrir uma frente a sul ao longo dos montes Golan. Em janeiro um general da Guarda Revolucionária Iraniana foi morto num ataque aéreo israelita, assim como o filho de um notório terrorista do Hezbollah, Imad Mugniyah. A 17 de janeiro, o Hezbollah lançou um ataque ao longo da vedação da fronteira entre Israel e o Líbano que matou dois soldados israelitas.

O Hezbollah pode não querer uma guerra em larga escala com Israel, mas poderia ver algum benefício político dentro do Líbano e do mundo árabe em tirar a Síria do centro das atenções e dirigi-lo para Israel. Isto não é nada reconfortante para Israel: nem o Hezbollah nem Israel queriam que o conflito de 2006 escalasse tão rápida e severamente como aconteceu. E os custos de um conflito semi-acidental com o Hezbollah, uma guerra que muitos analistas israelitas acreditam que seja inevitável, só aumentam à medida que o grupo libanês aumenta o seu arsenal.

Os combatentes do Hezbollah parte do seu quartel de Marjayoun com um tanque que pertencia à milícia local de Israel no sul do Líbano em 24 de maio de 2000. Os guerrilheiros vitoriosos do Hezbollah tomaram o control do sul do Líbano enquanto Israel completou uma retirada apressada para fechar a cortina sobre uma sangrenta ocupação de 22 anos

Até agora acumulação de 150.000 mísseis, incluindo misséis antiaéreos e anti-embarcações não foi o suficiente para desencadear um forte ataque preventivo aos reservatórios libaneses do Hezbollah por parte de Israel. Mas o grupo está se a aproximar da linha vermelha israelita, seja ela qual for.

O Hezbollah é a força armada não estatal mais capaz do Médio Oriente, com um arsenal avançado, o patrocinador estatal poderoso um núcleo de combatentes e comandantes experientes. O equilíbrio estratégico pode ser deslocado em formas que os líderes israelitas acreditem que não podem mais aceitar – com consequências preocupantes para aquela que permanece uma das mais calmas mas também mais perigosas frentes de guerra do Médio Oriente.

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