Os desafios de cada membro da OPEP
Reuters
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Conheça a situação de cada um dos 12 membros da OPEP antes do encontro desta semana.

A OPEP, o cartel petrolífero de 12 membros, irá reunir-se novamente para discutir o seu plano de produção hoje (sexta-feira) em Viena.

Mas enquanto as decisões do cartel ao longo do ano passado foram muito claras, as coisas não parecem assim tão simples desta vez.

“Nunca antes os interesses dos países membros foram tão divergentes,” escreve Helima Croft, presidente da divisão de estratégia para as matérias-primas na RBC Capital Markets. “Enquanto os desacordos foram evidentes no encontro de junho, o descontentamento com o pseudo-consenso aparenta estar mais acentuado, com o ambiente de baixos preços a enervar os já bastante enervados membros do cartel.”

Notavelmente, a Líbia, o Iraque, a Nigéria, a Argélia e a Venezuela – os “cinco frágeis”, como lhes chama Croft – permanecem num ambiente de alto risco, especialmente a Líbia e o Iraque, que vivem situações de guerra.

Vejamos então como está a situação de cada membro da OPEP em termos geopolíticos, económicos e de segurança. Os países estão listados do risco mais baixo para o risco mais alto, sendo o “10” o país com o risco mais alto.

O Kuwait tem uma série de absorventes de choque para o proteger dos baixos preços do petróleo

Anas Al Saleh, ministro das finanças do Kuwait, recentemente apontado ministro do petróleo em funções

  • Risco para o próximo ano: 2
  • Produção de petróleo no mês passado: 2,82 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 2,83 milhões de barris por dia

O Kuwait tem um rácio alto de reservas/população “que tem permitido ao país sobreviver a um ambiente de baixos preços durante longo tempo quase incólume” escreve Croft. Mas a economia do Kuwait está mais dependente do petróleo do que qualquer outro país da OPEP – representando cerca de 60% do PIB.

Notavelmente, no domingo, o Kuwait nomeou o seu ministro das finanças, Anas Al Saleh, como ministro do petróleo em funções.

O Qatar depende mais das exportações de gás/GNL

Ministro de energia e indústria do Qatar, Mohammed Saleh Al-Sada

  • Risco para o próximo ano: 2
  • Produção de petróleo no mês passado: 0.64 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 0,67 milhões de barris por dia

O Qatar tem conseguido permanecer “confortável” no curto prazo – mesmo com a baixa dos preços do petróleo – devido às finanças públicas saudáveis. Adicionalmente, é o membro da OPEP menos dependente do petróleo, focando-se mais nas exportações de gás/GNL.

“O desafio do Qatar emergirá no final desta década”, repara Croft.

Os Emiratos Árabes Unidos estão numa posição confortável

  • Risco para o próximo ano: 2
  • Produção de petróleo no mês passado: 2,97 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 2,80 milhões de barris por dia

As almofadas fiscais e externas dos Emiratos têm ajudado a limitar o efeito da baixa dos preços do petróleo.

Além disso, “apesar de se esperar que o país registe um défice de 2,9% este ano baseado num preço de petróleo de $61,50 o barril (pela primeira vez desde 2009), 2016 deverá ser um regresso aos excedentes”, repara Croft, citando dados do FMI.

O Irão tem passado por um revirar da sua sorte ao longo deste ano

Ministro dos negócios estrangeiros do Irão, Javad Zarif

  • Risco para o próximo ano: 3
  • Produção de petróleo no mês passado: 2,70 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 2,85 milhões de barris por dia

“O Irão deverá conseguir obter dividendos económicos significativos na segunda metade de 2016 com a suspensão das sanções”, escreve Croft. “Este alívio económico surge numa a altura muito oportuna, com o FMI a prever que o crescimento do PIB do país irá cair de 4,3% em 2014 para 0,8% em 2015.”

Angola está agora mais estável do que no passado, mas…

O presidente de Angola José Eduardo dos Santos em Pequim

  • Risco para o próximo ano: 5
  • Produção de petróleo no mês passado: 1,81 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 1,81 milhões de barris por dia

Angola está melhor agora do que durante a guerra civil de 27 anos (que terminou em 2002). Mas não é um caso fácil. A inflação deverá subir 14% pelo final do ano – bem mais do que as estimativas originais de 7 a 9% - a dívida pública está a crescer e as reservas estão a cair.

“As expectativas do FMI são de que o crescimento do PIB seja moderado mas estável em 2016, a cerca de 3,5%, com o petróleo a manter-se como o principal motor, dadas as insignificantes melhorias nos setores não petrolíferos,” escreve Croft.

O Equador teve que lidar com choques externos, mas também no interior do país ocorreram protestos ao longo do verão

O presidente do Equador Rafael Correa e o rei saudita Salman bin Abdulaziz

  • Risco para o próximo ano: 6
  • Produção de petróleo no mês passado: 0,54 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 0,54 milhões de barris por dia

“O ambiente de baixos preços durante tempo prolongado teve efeitos no Equador,” repara Croft. Mas as boas notícias são que o Equador tem agora uma produção de energia mais diversificada, infraestruturas melhoradas, mais igualdade social e uma posição fiscal fortalecida, e o crescimento tem tido uma média anual de 4,5% ao longo da última década.

Enquanto o Ecuador “lida com desafios no curto-prazo, as melhorias nos últimos anos têm feito com que o país esteja mais bem posicionado para lidar com eles.”

As pressões orçamentais na Arábia Saudita continuam a crescer, e há rumores de divisões internas

Mohammad bin Salman, vice-príncipe herdeiro da Arábia Saudíta

  • Risco para o próximo ano: 6
  • Produção de petróleo no mês passado: 10,38 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 10,57 milhões de barris por dia

“Uma série de relatórios por peritos sauditas de topo detalharam divisões crescentes entre a família real sobre as políticas económicas e externas seguidas pelo supostamente doente rei Salman e o seu poderoso jovem filho, príncipe Mohammad bin Salman,” escreve Croft.

“Em última análise acreditamos que (Mohammad bin Salman) é a maior incógnita para os mercados de petróleo em discussão no encontro da OPEP. A decisão será tomada pela família real, em consulta com os tecnocratas. A política do petróleo, juntamente com quase tudo o resto no Reino, atualmente passa pelo príncipe, colocando-o no “assento do condutor”, acrescenta Croft.

A Argélia tem a sua dose de desafios de segurança e instabilidade política

Presidente Abdelaziz Bouteflika

  • Risco para o próximo ano: 8 (aumentando a partir de agosto)
  • Produção de petróleo no mês passado: 1,10 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 1,10 milhões de barris por dia

A Argélia está a passar por incerteza política. O seu líder está a sofrer de problemas de saúde e há relatos de que esteja a ocorrer luta pelo poder entre as elites.

“O governo anunciou recentemente um corte de 9% nos gastos de 2016. As reservas de divisas estrangeiras já caíram 11% nos primeiros seis meses de 2015… Ao mesmo tempo, a Argélia ainda tem de lidar com um ambiente de segurança difícil devido à vizinhança instável e à presença de vários grupos armados,” nota Croft.

A situação económica da Nigéria está cada vez mais difícil

  • Risco para o próximo ano: 8
  • Produção de petróleo no mês passado: 2,02 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 1,88 milhões de barris por dia

“O presidente nigeriano Mahammadu Buhari ainda está no período de graça pós-eleitoral, mas a situação económica continua a deteriorar-se e a situação em termos de segurança está péssima devido à insurgência muçulmana no norte do país,” escreve Croft.

Além disso, “com o excesso da conta de crude virtualmente vazio e o governo em apuros para pagar aos funcionários, será difícil para Buhari renovar o acordo de amnistia de 2009 com os militantes no delta do Niger responsáveis por durante várias vezes cortaram um terço da produção de petróleo do país entre 2005 e 2009.”

As próximas eleições da Venezuela podem significar sarilhos

  • Risco para o próximo ano: 9
  • Produção de petróleo no mês passado: 2,50 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 2,49 milhões de barris por dia

“A economia da Venezuela está prestes a obter a posição da economia com o pior desempenho do mundo em 2015, prevendo-se que o PIB caia 10% e que a inflação se aproxime dos 190%”, escreve Croft, citando números do FMI. “Devido ao péssimo estado da economia e do aumento das tensões sociais, as eleições de 6 de dezembro poderão ser um catalisador para uma grande crise.”

O Iraque irá passar por momentos difíceis durante mais um ano de petróleo a baixos preços

O fumo eleva-se por detrás de uma bandeira do Estado Islâmico, depois das forças de segurança iraquiana e dos combatentes xiitas tomarem Saadiya na província de Diyala a militantes do Estado Islâmico

  • Risco para o próximo ano: 10
  • Produção de petróleo no mês passado: 4,30 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 4,19 milhões de barris por dia

“O Iraque está mal equipado para resistir a mais um ano de baixos preços do petróleo, apesar dos elevados níveis de produção,” escreve Croft. “Só a Líbia rivaliza com o Iraque em termos de desafios de segurança, com o Estado Islâmico a controlar vastas áreas de território no norte do país e a orquestrar ataques regulares a infraestruturas energéticas fulcrais.”

As conversações de paz na Líbia e os esforços para reiniciar as exportações ainda não surtiram efeito

Pessoas protestam contra candidatos para um governo de unidade nacional propostos pelo enviado da ONU para a Líbia, Bernardino Leon

  • Risco para o próximo ano: 10
  • Produção de petróleo no mês passado: 0,43 milhões de barris por dia
  • Produção de petróleo em julho: 0,38 milhões de barris por dia

“A Líbia permanece em conflito armado entre o governo oficial, o governo autoproclamado que controla Tripoli, numerosos grupos armados, e militantes islamistas”, diz Croft. “Acreditamos haver poucas probabilidades de que o país seja capaz de melhorar em breve, e caução sobre previsões de um retorno sustentável dos barris líbios a curto prazo”, escreve Croft.

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