Quem perdeu e quem ganhou na cimeira do clima
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A cimeira de Paris ditou uma nova realidade comercial para a indústria energética.

Salvar o mundo não sairá barato. Se você vende petróleo, carvão ou carros à moda antiga, tal é uma ameaça de desastre. Para os fabricantes de painéis solares, sistemas de isolamento térmico e iluminação eficiente, é um possível milagre.

Eis o resultado da conferência climática desta semana em Paris, que compromete 195 países a reduzir a poluição para afastar as mudanças de clima perigosas.

Os governos e as empresas de todo o mundo estão a contar custos e benefícios do acordo que apela a transformações completas de energia, transportes, e dezenas de outras áreas de negócio. Os produtores de combustíveis fósseis e países que dependem deles enfrentam perturbações dispendiosas em massa. Os participantes das indústrias promissoras, tais como energia renovável e eficiência energética estão a olhar para uma oportunidade sem precedentes.

Patrick Pouyanne, o diretor executivo da gigante petrolífera francesa Total SA, disse em Paris:

"Como uma empresa grande de petróleo e gás, estamos, claramente, em jogo nestes debates. Mas otimistas veem uma oportunidade em cada dificuldade. Definitivamente, sou otimista; tenho que ser um."

O pacto de Paris, que também apela para uma revisão de promessas cada vez mais rigorosas a cada cinco anos, é também o acordo mais significativo de sempre, ultrapassando o Protocolo de Quioto na sua abrangência e ambição. Juntamente com Barack Obama, Vladimir Putin, Xi Jinping e dezenas de outros líderes políticos, a cimeira de Paris atraiu centenas de grandes empresas, que estão ansiosas por influenciar ou entender negociações que poderão afetar profundamente os seus futuros padrões de negócio.

O acordo provavelmente irá acelerar investimentos em tecnologias como a energia renovável e os veículos elétricos, especialmente se mais países aderirem à União Europeia e partes da América do Norte introduzirem uma taxa sobre o carvão. Segundo as avaliações das Nações Unidas, será necessário até um bilião de dólares por ano para “descarbonizar” a economia global e prevenir o aumento da temperatura. De acordo com os cientistas, o aquecimento contínuo poderá inundar cidades litorais, perturbar a agricultura e destruir ecossistemas.

Tal significa que as empresas com os padrões de negócio ameaçados por um mundo com baixo teor de carbono precisam de mudar o foco e fazê-lo rapidamente, disse Lyndon Rive, diretor executivo da SolarCity Corp., fornecedora norte-americana de sistemas solares de casa presidida pelo milionário Elon Musk. Para as pessoas que vendem o petróleo, Rive disse à margem da cimeira em Paris:

"Você vai defender este emprego porque é o seu modo de se sustentar. Mas esse modo de você se sustentar será destruído."

Os executivos de empresas mais tradicionais têm um ponto de vista semelhante, porém menos rígido. Peter Terium, CEO da empresa alemã RWE AG, disse que as empresas como a dele teriam que aprender com as transformações sucessivas da IBM para manter a sua relevância num sistema de energia novo. Na sexta-feira, a RWE aprovou um plano para a empresa ser dividida em duas empresas, uma focada nas energias renováveis e redes elétricas e outra a gerir ativos convencionais em declínio.

Tal não significa que as grandes empresas petrolíferas terminem em breve. De acordo com uma previsão otimista de cortes de emissões pela Agência Internacional de Energia, os combustíveis fósseis ainda vão representar cerca de 75 por cento da procura total de energia em 2030, com a procura de carvão a permanecer inalterada, a de petróleo a crescer ligeiramente e de gás natural a subir repentinamente.

Para se manterem à frente das políticas climáticas, as grandes empresas de energia estão a fazer apostas mais fortes no gás. Enquanto a energia solar está a avançar rapidamente em termos de despesas e eficiência, a indústria ainda não descobriu como armanezar energia suficiente para quando o sol não brilha. Até este problema ser resolvido - provavelmente através de melhorias em baterias - haverá procura significativa decarvão, gás ou energia nuclear.

"O gás é uma das oportunidades mais atraentes a curto e médio prazo," disse Helge Lund, a CEO da fabricante britânica de gás BG Group Plc. Um mundo totalmente sem combustíveis fósseis vai "para além do horizonte significativo de planeamento," deixando as empresas como esta muito tempo para manter a perfuração, disse ele.

Os investimentos em energia, porém, irão mudar cada vez mais na direção da energia verde. Segundo outro cenário da Agência Internacional de Energia, as energias renováveis irão atrair cerca de 59 por cento de capital no setor energético durante a próxima década, aumentando de cerca de 2026 para 2040. Por exemplo, a empresa francesa Total está a construir o seu negócio solar, a mudar os investimentos na direção do gás, e a expandir os serviços de eficiência energética.

Sentindo a dor

Quem vai sofrer mais são os fabricantes de carvão. Este ano, o índice Stowe Global Coal das 26 maiores empresas de carvão perdeu 59% do seu valor. Estamos a evidenciar uma mudança de "muitos milhares de milhões de dólares para passar das tecnologias de combustíveis fósseis para tecnologias hipocarbónicas," escreve Mindy Lubber, CEO da Ceres, uma organização que trabalha com investidores para incentivar as empresas a tomar decisões mais ecológicas.

Enquanto os ambientalistas e muitos políticos afirmam que as transformações vão influenciar positivamente as economias e o emprego, milhões de funcionários terão que encarar sérias consequências. No mês passado, na província de Alberta do Canadá, o coração da indústria petrolífera do país, o recém eleito partido de centro-esquerda aumentou drasticamente as taxas de carbono. Segundo o ministro do Ambiente Shannon Phillips, a ideia é usar o lucro para ajudar a "investir nas tecnologias limpas, eficiência e energia renovável," bem como diversificar a economia, afastando-a dos combustíveis fósseis. O secretário de estado para a Energia dos EUA Ernest Moniz disse durante a conferência em Paris:

"Obviamente, nem toda a gente vai ganhar com as mudanças." Serão necessários programas de formação profissional adicional. "Não vou adoçar a realidade."

Os executivos das empresas que conseguiram preparar-se para uma época de baixo teor de carbono afirmam que a transição energética não tem nada de novo exceto, talvez, a sua escala; afinal, novas tecnologias tornam obsoletos determinados padrões de negócio desde a invenção da roda. O diretor de sustentabilidade da Ikea Steve Howard disse:

"A época de alto teor de carbono já deu o que tinha a dar. Se as empresas conseguirem a adaptar-se ou reinventar-se, é fantástico! Se não conseguirem, talvez seja melhor devolver o dinheiro aos acionistas e fechar as lojas."

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