Portugueses já deram 13 mil milhões para salvar bancos. Desde 2007 a ajuda pública ao setor financeiro equivale a 7,3% do PIB e a um ano de receito do IVA.
Como relata o Diário de Notícias, 84% da exposição total ao Banif (total de três mil milhões de euros, contando já com as ajudas de 2013 e 2014) é arriscada e pode ficar no défice e na dívida para sempre. Somando isto aos dez mil milhões de euros que já foram parar ao défice entre 2007 e 2014 em forma de ajudas ao setor financeiro - BPN, BES, BPP, recapitalizações da CGD, que teve de absorver perdas avultadas do BPN, etc., mais juros sobre isto tudo - Portugal gastou até agora 13 mil milhões de euros nos bancos. São 7,3% do produto interno bruto (PIB), quase um ano inteiro de cobrança de IVA.
No caso do Banif a venda foi feita tarde e a más horas e o único comprador capaz de avançar, o Santander, impôs condições duras para aceitar ficar com parte do Banif: pagou 150 milhões de euros pelo negócio bom do Banif e terá ficado ainda com certas responsabilidades (créditos imobiliários mais arriscados, valores ligados a sucursais estrangeiras, algumas em zonas offshore).
Por seu lado, o Estado, além da megainjeção de capital (2255 milhões de euros, 825 milhões vêm do tempo do PSD-CDS), avançou com 745 milhões de euros em garantias ao organismo que fica a gerir os ativos e ao próprio comprador. O seu valor é anormalmente elevado porque os ativos duvidosos foram assumidos com 75% de desconto (haircut). Uma condição da União Europeia.
De quem é a culpa
O atual ministro das finanças culpou a "demora" e os "demasiados acontecimentos inconclusivos" que ocorreram durante a gestão do anterior governo e do Banco de Portugal, dizendo que esse arrastamento acabou por "aumentar os custos finais" e muito. Os sucessivos obstáculos da Direção-Geral da Concorrência, que nunca foi partidária da entrada do Estado em 2013, também são vistos como lesivos. Agora, "a minimização do custo [do caso Banif para o Estado] depende muito da forma como se vai operar" a venda dos ativos de qualidade duvidosa, explicou ontem Mário Centeno.
Mais défice e mais dívida
Atualmente, o governo sabe apenas que o défice público deste ano sobe para "cerca de 4%" do PIB, quando o limite do pacto orçamental europeu é 3%. Mas o governo espera que o auxílio ao Banif não vá contar para a meta oficial.
Orçamento Retificativo de 2255 milhões
Mas numa lógica de caixa (dinheiro que realmente sai e entra), o défice aumenta porque a despesa deste ano sobe 2255 milhões de euros de repente. Essa despesa será financiada com ainda mais dívida. Para o fazer, as Finanças enviaram ontem uma proposta de Orçamento Retificativo para 2015 em que pedem essa autorização ao Parlamento. O diploma será debatido e votado amanhã de manhã.
De modo a suportar o "custo muito elevado" (segundo as palavras de António Costa) do resgate ao Banif, o Tesouro tem de ir ao mercado buscar mais dinheiro. Ou então, no limite, não vai e usa parte da almofada de segurança dos depósitos. Será certamente desaconselhado a fazê-lo por algumas das instituições da troika.
Caso a dívida suba, os portugueses irão pagar mais juros nos próximos anos. O rácio da dívida pública está em 130% do PIB, sendo um dos maiores da Europa e violando as regras do novo tratado europeu.