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A Comissão Europeia vai investigar se a democracia na Polónia está a ser ameaçada. Saiba porquê.

A Comissão Europeia vai verificar se as políticas adotadas pelo partido polaco no poder Lei e Justiça enfraquecem a democracia e o primado do Direito num país que até há pouco tempo tinha sido um exemplo das conquistas democráticas da Europa do Leste.

Aqui ficam os assuntos principais que estão em jogo.

O que é que a Comissão decidiu?

O executivo da União Europeia vai considerar durante mais de dez meses se as leis polacas do Tribunal Constitucional e media dão ao partido do governo demasiado poder.

Introduzido em 2014, este procedimento demora três etapas: uma avaliação da comissão - que começou na quarta-feira, recomendações e observação continuada, tudo acompanhado por um "diálogo" com o governo em questão. É bastante controverso: os líderes nacionais não gostam dos discursos filosóficos e políticos dos funcionários da União Europeia em Bruxelas. Mas nesta fase a Comissão só tem o poder de persuasão. Porém, se a Polónia não mudar o seu caminho depois de negociações prolongadas, o próximo passo poderá ser mais sensível: a negação do direito do país de votar decisões da UE.

Esta sanção definida pelo artigo 7 do tratado da União Europeia pode ser imposta por uma "violação séria e persistente" das normas democráticas europeias. Há outro assunto a ser discutido: quatro ou cinco Estados-membros devem concordar em apresentar o caso. Mesmo o início da discussão desta medida exige a aprovação de 80% dos membros do Conselho, e para a sua implementação é necessária uma decisão unânime. O primeiro-ministro da Hungria Viktor Orban, também criticado pelo comportamento pouco democrático, prometeu usar o veto.

O que aconteceu com a lei de imprensa?

No final de dezembro, durante algumas reuniões noturnas, o Parlamento da Polónia adotou uma série de mudanças na lei de imprensa. Agora o governo pode designar indiretamente os chefes de transmissoras públicas, o que dilui os poderes do órgão regulador. Em particular, a televisão pública, antigamente acusada pelo partido Lei e Justiça de preconceitos, foi liderada pelo antigo deputado e organizador de campanhas eleitorais do partido no poder Jacek Kurski.

Os media públicos devem estar "à disposição do governo", disse a deputada do partido no poder Krystyna Pawlowicz. As quatro organizações de liberdade dos media apelaram à Polónica para abandonar a lei, pois a mesma ameaça à liberdade de imprensa por comprometer garantias de independência dos media, de acordo com um resumo feito pelo Conselho da Europa.

Czarek Sokolowski/AP Photo

Enquanto estes protestos não afetam a posição dos chefes do governo; a primeira-ministra Beata Szydlo disse que culpa pelos "ataques" aqueles que temem perder a influência na Polónia, incluindo opositores políticos e lobistas do capital estrangeiro. Os bancos e retalhistas estrangeiros no grande país pós-comunista da Europa foram criticados pela primeira-ministra por não terem deixado para a Polónia uma porção suficiente dos seus lucros. Por isso, aumentaram os impostos.

Como foi renovado o Tribunal Constitucional?

O partido no poder alterou a lei do Tribunal Constitucional: agora é mais difícil cancelar uma lei, para isto é preciso a decisão de muitos juizes. O Tribunal também deve emitir resoluções relacionados aos processos na ordem que foram entregues, ou seja não se pode tratar primeiro dos assuntos mais atuais e relevantes.

As mudanças seguiram o conflito quanto à designação dos juízes do supremo tribunal; os deputados sugeriram cancelar designações feitas pelo antigo parlamento até às eleições de outubro. O Presidente Andrzej Duda não jurou diante de outros juízes, o partido adotou uma nova lei e levou os seus juízes para o tribunal.

Como os investidores estão a reagir?

Neste ano, o zloty polaco enfraqueceu em relação ao euro em 1,8% — segundo a Bloomberg, naquele que é o pior desempenho entre as moedas do Leste Europeu, seguido pelo rublo russo. E o índice WIG20 perdeu 16% nos últimos três meses, o pior resultado da União Europeia.

A moeda polaca não pode crescer "por medo do partido 'Lei e Justiça'," condisera Peter Attard Montalto, economista sénior de mercados emergentes e estrategista na Nomura Holdings. A decisão da quarta-feira feita pela Comissão Europeia sobre a correspondência aos padrões da democracia, apenas "adiciona uma estrutura formal" às preocupações do mercado, o que também inclui "risco de execução orçamental", disse.

Ao mesmo tempo, as obrigações polacas estão a crescer, com as yields de títulos de dois anos a cair para os 1,35% recorde nesta semana, entre especulações de que os nomeados no banco central pelo partido no poder pretendem diminuir as taxas de juros.

Como é que a Europa está a reagir?

Além das mudanças rígidas na lei sobre os media e o Tribunal Constitucional, o partido no poder também tirou do cargo o chefe de uma agência anti-corrupção do país e limitou o controlo da oposição sobre os serviços especiais. Estas ações provocaram preocupações quanto à destruição do sistema de pesos e contrapesos garantido pela Constituição da Polónia.

Há 26 anos atrás a Polónia tornou-se no primeiro país comunista do Leste Europeu onde tiveram lugar eleições livres, provocando mudanças democráticas no país e levando à expansão da União Europeia através da antiga Cortina de Ferro em 2004. Agora protestos apelando para mudanças democráticas estão a voltar às ruas de Varsóvia e outras cidade polacas.

Polónia: a nova dor de cabeça da Europa

No domingo, em comentário ao jornal Frankfurter Allgemeine, o presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz comparou o partido "Lei e Justiça" à Rússia sob a Presidência de Vladimir Putin por tentar "subordinar o bem-estar do Estado à vontade do partido". O representante alemão da comissão Guenter Oettinger, apelou à ativação do procedimento disciplinar.

Os funcionários do governo também não ficaram calados. O ministro da Justiça Zbigniew Ziobro e o líder do partido Jaroslaw Kaczynski reagiram dizendo que a Alemanha não tinha direito de criticar a Polónia por causa de infrações dos princípios democráticos devido ao seu passado nazi.

Na quarta-feira, a primeira-ministra Szydlo disse aos deputados em Varsóvia: "Eles querem controlar a política externa da Polónia, mas não vão conseguir."

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