Pequim: desafios à autoridade
AP Photo/Petr David Josek
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Surgem histórias de Pequim que sugerem que Xi Jinping, presidente da China, poderá enfrentar desafios à sua autoridade.

Quando questionado quanto à sua opinião relativamente à intriga política no Kremlin, Winston Churchill comparou a luta pelo poder na União Soviética com a luta entre dois cães debaixo de um tapete: poderá ver-se muito movimento mas não se faz ideia de quem está a ganhar ou a perder.

Já não existe União Soviética – no entanto, as políticas dentro das ditaduras continuam difíceis de decifrar. Tome-se, por exemplo, a recente onda de histórias que surgem de Pequim de como o principal líder da China, Xi Jinping enfrenta um significativo desafio à sua autoridade.

No final de fevereiro, Ren Zhiqiang – magnata do setor imobiliário com cerca de 38 milhões de seguidores no Weibo, a versão chinesa do Twitter – criticou publicamente declarações atribuídas a Xi, que solicitavam a lealdade incondicional dos meios de comunicação chineses ao Partido Comunista Chinês. Quando o governo encerrou a conta de Ren no Weibo os internautas chineses denunciaram, virtualmente, as autoridades e louvaram Ren pela sua coragem.

Ren não foi o único. Num ainda mais ousado ato de desafio, Zhou Fang, jornalista da Xinhua, a agência oficial de notícias da China, publicou uma carta – a 7 de março, online – a pedir ao governo que investigasse a agência chinesa de censura na internet pela violação de direitos constitucionais dos cidadãos chineses.

A 4 de março foi publicada uma carta anónima, que exigia a renúncia de Xi, num site bastante conhecido. O Wujie News – que pertence ao SEEC Media Group (editor da Caijing, uma publicação muito respeitada), Alibaba e governo de Xinjiang. No final de março a polícia chinesa prendeu 11 indivíduos ligados à carta.

Embora ninguém saiba se estes incidentes constituem uma trama coerente contra Xi, os mesmos sinalizam o potencial início de um período de tensão no interior do regime chinês.

Estes sinais de desafio parecem em grande parte espontâneos – e são um reflexo da desilusão da sociedade civil chinesa com as políticas da administração Xi em geral e com a repressão da liberdade de imprensa em particular. Num regime de partido único, as forças da sociedade civil podem não ter influência direta na política mas as suas vozes podem mudar a perceção pública. Neste caso, a oposição pública às tentativas do governo para restabelecer conformidade ideológica e reinstituir táticas de propaganda ao estilo de Mao irão prejudicar a imagem popular de Xi.

O timing destes eventos merece destaque. O Partido Comunista Chinês irá realizar o seu 19º Congresso no final de 2017. Neste encontro, Xi irá certamente alcançar o segundo mandato de cinco anos. Menos certo será, por sua vez, o próximo Politburo Standing Committee (Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês), o principal órgão de tomada de decisão do regime. Cinco dos seus sete titulares irão reformar-se. Será Xi capaz de preencher esses lugares com aqueles que o apoiam? Irá o regime nomear dois sucessores para os cargos de Xi e de Li Keqiang (primeiro-ministro) em 2022 fazendo valer o limite de dois mandatos?

Com base na experiência da última sucessão de liderança, as lutas pelo poder no topo precedem, muitas vezes, encontros como o do Congresso do Partido. No final de 2006 – um ano antes do 17º Congresso do Partido, quando o Partido teve de escolher o sucessor de Hu Jintao – um concorrente à posição de topo, Chen Liangyu, chefe do partido em Xangai, foi acusado de corrupção. Em março de 2012, oito meses antes do 18º Congresso, Bo Xilai, chefe do partido em Chongqing e rival de Xi, foi derrubado por acusações semelhantes. É altamente provável que venhamos a testemunhar a queda de uma figura política significativa nos próximos 12 meses.

Como chefe do Partido, Xi goza da esmagadora vantagem de se poder livrar dos seus rivais na corrida ao 19º Congresso. No entanto, ao sentirem o perigo iminente, os seus rivais não irão esperar pela morte de forma passiva. Se quiserem voltar-se contra Xi deverão agir agora.

Apesar de se insistir na ideia de que Xi é o líder mais poderoso da China desde Mao Zedong, Xi depende excessivamente do afastamento de rivais e da centralização do poder dentro do regime como meios para governar a China - uma fraqueza gritante. Sem uma coligação ampla, é forçado a contar com a burocracia, agora profundamente ressentida da sua luta anti-corrupção, para implementar as suas políticas. É cada vez mais claro que esta burocracia pretende que Xi caia.

É impossível determinar quem irá prevalecer nesta luta pelo poder. Xi tem uma clara vantagem, por controlar as alavancas do poder dentro do regime – mas os seus adversários beneficiam do facto de Xi ter falhado o cumprimento das suas promessas (de uma reforma ousada) e da desilusão das elites sociais da China – como a comunidade empresarial e os intelectuais.

Embora Xi possa ser capaz de afastar os seus rivais, uma coligação de forças de oposição irá provavelmente frustrar a sua busca por um regime altamente centralizado e personalizado, a governar com uma mão de ferro. Não é uma boa notícia, nem para a China nem para o resto do mundo. Um impasse político irá prejudicar a confiança empresarial e enfraquecer o crescimento da China.

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