Mais mulheres na liderança no sul da Europa
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“As empresas com maior presença feminina obtêm melhores resultados económicos e têm menor exposição ao risco”

Katharina Miller frequenta as reuniões de acionistas de quase todas as grandes empresas espanholas – e depois de todos perguntarem pelos dividendos e ganhos Miller coloca a seguinte questão: porque estão tão poucas mulheres na liderança?

No encontro anual da Abertis Infraestructuras em Barcelona, a 12 de abril, salientou que não colocava essa questão como ativista pela igualdade de género mas sim como investidora preocupada com os seus retornos. À sua frente tinha como diretores 11 homens e cinco mulheres.

“O número de mulheres no vosso conselho de administração é alarmante.” – Afirmou Miller, com o seu vestido tom de ameixa a destacar-se na multidão de fatos escuros. “As empresas com maior presença feminina obtêm melhores resultados económicos e têm menor exposição ao risco.”

Miller tem razão, especialmente quanto ao sul da Europa. Globalmente, as empresas geridas por mulheres têm um melhor desempenho do que aquelas apenas geridas por homens e na Europa a diferença é maior em países como Itália, Portugal e Espanha – onde as mulheres encaram, tradicionalmente, posições inferiores.

Quando “é mais difícil para as mulheres chegar a posições de liderança as mesmas tendem a ser excelentes.” – Afirmou Julia Dawson, do Credit Suisse, que co-escreveu um relatório do banco sobre o Género. “É apenas necessária uma mulher para quebrar o pensamento masculino numa dinâmica de grupo e isso pode contribuir para um melhor desempenho.”

No sul da Europa as empresas com mais líderes do género feminino – face à média nacional – superaram, em termos de desempenho, aquelas que têm apenas líderes do género masculino por quase 55 pontos percentuais ao longo dos últimos três anos – de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Durante o mesmo período, as empresas do Stoxx Europe 600 com mulheres como líderes – acima da média – mostraram um melhor desempenho do que as empresas sem presença feminina na liderança.

Diversidade = Desempenho

O Pax Ellevate Global Women’s Index Fund de 93 milhões de dólares aumentou 3,2% este ano até 29 de abril, contra um ganho de 1% em ações globais. O fundo, que inclui a Microsoft, Yahoo e Procter & Gamble, investe em empresas tendo por base critérios como o número de mulheres na liderança e a representação feminina nos conselhos de administração.

“A comunidade financeira está a acordar para a grande quantidade de evidência que mostra que investir em empresas mais responsáveis e sustentáveis poderá representar um melhor desempenho.” – Afirmou Julie Fox Gorte, que gere o fundo Pax. No sul da Europa “onde a diversidade nos conselhos de administração é menor, as empresas com mulheres na liderança tendem a ter melhor desempenho.”

Os melhores ganhos nesses países são particularmente notáveis na medida em que são conduzidos por empresas de todos os setores – da Corticeira Amorim em Portugal à Red Electrica, empresa de eletricidade espanhola, e à Finmeccanica, empresa de defesa italiana.

De acordo com Karen Rubin, gestora de produto na plataforma de trading Quantopian baseada em Boston, entre as 1.000 maiores empresas dos EUA aquelas que são geridas por mulheres representaram um retorno de 339% entre 2002 e 2014 – contra um retorno de 122% para o Índice S&P 500.

No entanto, de acordo com Rubin “a tendência será para pensar que num intervalo de igualdade 50-50 algumas [mulheres] serão boas e outras não.”

Mulheres na liderança

Desde 2013, ano em que Miller começou a frequentar as reuniões de acionistas como representante do seu grupo de advocacia Parity in Action, a participação de mulheres nos conselhos das empresas do índice espanhol IBEX 35 aumentou para uma média de 19% – de 13% – de acordo com dados compilados pela Bloomberg (23% para o Stoxx 600 e 20% para o S&P 500). Miller, uma advogada alemã que se mudou para Madrid há seis anos, afirma que o próximo passo será pressionar por mais mulheres na gestão.

Enquanto a proporção de mulheres em cargos de direção nas grandes empresas europeias mais que duplicou para uns ainda baixos 6,5% (ao longo dos últimos quatro anos até outubro passado) apenas 4,3% dessas empresas tem CEO do género feminino – de acordo com a Comissão Europeia. Esse número não mudou ao longo de todo o período.

Quando Salvador Alemany, presidente da Abertis, respondeu ao comentário de Miller na reunião de acionistas assumiu um tom defensivo:

“O nosso conselho é 31% constituído por mulheres, acima da recomendação do governo de 30%. Poderá não considerar suficiente mas superámos essa exigência.” – Afirmou. De seguida, adotando um tom mais flexível, reconheceu: “Ainda sim provavelmente temos mais trabalho a fazer neste campo.”

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