O que a Europa pensa de Sadiq Khan, o novo mayor de Londres
Yui Mok/Pool/Reuters
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O The Guardian falou com pessoas que vivem fora do Reino Unido para perceber a sua opinião quanto à vitória de Sadiq Khan

Enquanto a Europa assiste à ascensão de partidos anti-imigração, a eleição de Sadiq Khan como primeiro mayor muçulmano de uma capital ocidental surge como um marco importante. De acordo com os indivíduos que responderam a um inquérito do The Guardian, as pessoas que vivem no resto da Europa dão as boas vindas à escolha dos londrinos.

De acordo com Mathilde, jovem de 18 anos do sul de França:

“A nomeação de Sadiq envia uma grande mensagem ao mundo. Reflete o estado de espírito da Grã-Bretanha que, como francesa, acho mais aberto do que em França. (...) Diz-me que os londrinos veem acima da religião ou raça de uma pessoa.”

No ano passado, uma pesquisa da YouGov concluiu que 31% dos habitantes de Londres não se sentiriam confortáveis com um mayor muçulmano. No entanto, as 1.310.143 pessoas que votaram em Khan impulsionaram a reputação de Londres como cidade multicultural, multi-religiões e liberal.

Mathilde vive em Alleins, uma cidade não muito longe de Marselha – que é o lar de 250.000 muçulmanos, a segunda maior população de França. Em 2015, os cidadãos de Alleins votaram a favor do partido de direita Les Républicains (52%) e do partido de extrema-direita Frente Nacional (FN) (48%) nas eleições regionais. A Frente Nacional liderou a primeira volta das eleições locais, tendo perdido na segunda volta para o Les Républicains. De acordo com Mathilde:

“Vivo numa área onde, ironicamente, vivem muitos muçulmanos e onde o FN faz muito sucesso. Há, definitivamente, discriminação contra os muçulmanos, embora quase sempre de forma discreta. (...) Tendo a notar que os muçulmanos não estão realmente integrados na sociedade. Penso que os ataques de Paris ajudaram os partidos de direita, especialmente de extrema-direita, a tornarem-se mais importantes. Na realidade as eleições regionais tiveram lugar pouco tempo depois dos ataques.”

Louis, de 18 anos e que também vive no sul de França, sente que a população muçulmana está mais integrada na sociedade mas não espera ver um candidato político muçulmano numa posição semelhante à de Khan.

“Para mim não importa qual a sua religião ou de onde vem – desde que tenha as qualificações e habilitações. Penso que [a vitória] de Khan sublinha a diversidade étnica de Londres. Ganhou graças ao voto dos habitantes.” – Afirmou.

Rafiq, de 70 anos, já vivenciou experiências positivas com muçulmanos em eleições locais – apesar do Partido Popular Suíço, de direita, ter vencido a maior parte dos votos nas eleições na Suíça no ano passado.

“Parece que os atos de islamofobia não são tão generalizados como é relatado às vezes. Tal como a maioria dos países, a Suíça tem todo o tipo de pessoas, mas a maioria tem mente aberta e é amigável – nomeadamente com a minha mulher que utiliza o hijab. São diversos os muçulmanos que concorrem a eleições e alguns obtêm um bom número de votos, no entanto não o suficiente.” – Afirmou Rafiq.

Ursula, de 62 anos e de Munique, na Alemanha, acredita que apesar de se verificar algum sentimento orientado à direita os alemães votariam independentemente da religião:

“Penso que indivíduos convincentes terão as mesmas hipóteses, independentemente das suas crenças religiosas. Fiquei surpreendida com a nomeação de Sadiq Khan. Esperava que a maioria não-muçulmana não quisesse ser representada por um mayor muçulmano. Talvez uma cidade tão grande atraia pessoas com uma mente aberta?”

E acrescentou:

“A parte muçulmana da sociedade não é muito ativa em termos políticos. Penso que a maioria mantém alguma distância, sentindo que não se deve envolver.”

Wolfram, indivíduo de 67 anos, de Bad Neuenahr-Ahrweiler no oeste da Alemanha, tem visto o sentimento anti-imigração permear a zona onde vive e não prevê que um político muçulmano venha a ser eleito em breve. Wolfram avançou:

“Parece que os londrinos aceitam a sua história e as consequências do império – e o resultado cria esperança quanto à possibilidade das pessoas com diferentes crenças viverem juntas em paz.”

Wolfram afirmou que não consegue imaginar um político muçulmano a ser eleito onde vive. Acrescentou:

“Certamente não num futuro próximo. Há uma divisão bastante profunda entre aqueles que têm medo do crescente número de muçulmanos e os outros cidadãos, que têm a mente mais aberta, mesmo em relação à abertura de fronteiras aos refugiados.”

Hanna, de 24 anos, de Helsínquia, considera que a vitória de Khan é importante dado o discurso de ódio e discriminação que os muçulmanos na Europa encaram – bem como a ascensão de partidos de direita:

“O partido anti-imigração [conhecido como PS] chegou ao governo e as atitudes das pessoas têm-se tornado mais duras quanto aos refugiados, especialmente quanto aos muçulmanos. O ministro das Relações Exteriores, Timo Soini, que é líder do partido e cofundador do PS e católico, chegou a sugerir que deviam ser favorecidos os refugiados cristãos. (...) Como aceitámos mais refugiados que nunca o PS está a perder adeptos. No entanto, isso significa que as pessoas estão a optar por partidos ainda mais orientados à direita como o Rajat Kliinni! (Fronteiras Fechadas!). Na sua página de Facebook referem-se a todos os muçulmanos como violadores e terroristas.”

E acrescentou:

“Estou contente com a nomeação de Khan por esta razão mas principalmente devido às suas políticas, não apenas a sua religião. Não gosto de nenhuma religião organizada, mas cada um é livre de acreditar no que quer. Parece-me que os londrinos consideram a política mais importante do que a religião em que determinada pessoa acredita. São sensatos.”

Muitos dos entrevistados afirmaram esperar que a vitória de Khan eleve o estatuto do povo muçulmano a viver em vilas e cidades por toda a Europa – levando-os a envolverem-se mais na vida política.

Nesi, de 44 anos a viver numa pequena cidade fora de Madrid, espera que a vitória de Khan ajude a melhorar as oportunidades do povo muçulmano.

“É necessário que muitas coisas mudem e melhorem em Espanha para uma criança de uma minoria étnica seguir para o ensino superior – para um dia participar na política e tornar-se mayor. Penso que existirão alguns casos mas a sociedade não assegura igualdade de oportunidades a todas as crianças.”

Continuou:

“Os cargos políticos de relevância destinam-se na sua maioria àqueles que passaram pela universidade ou pertencem a uma família tradicional rica. Certamente não para um muçulmano. Espanha é demasiado conservadora em geral para permitir que um muçulmano participe na política.”

E concluiu:

“A nomeação de Sadiq mostra que a política e outras questões importantes do mundo devem ser sobre as pessoas, não sobre a religião. Mostra também que é possível uma sociedade multicultural viver em paz. E mostra, também, como Londres pode ser um lugar fantástico para viver.”

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