Os jovens europeus que imigraram para o Reino Unido em busca de oportunidades profissionais estão preocupados com a hipótese de já não poderem viver e trabalhar no país.
Sílvia Luís (Portugal) está a pensar ir para a universidade na Escócia. Sandra Martinsone (Letónia) pensa pedir a cidadania ou comprar uma casa. Julie Miquerol (França) acelerou os seus planos para abrir uma start-up em Espanha. Vivem todas, atualmente, no Reino Unido.
À semelhança de 1,3 milhões de cidadãos de outros países da União Europeia, com idades entre os 18 e os 35 anos, e que também vivem no Reino Unido, estas três cidadãs europeias estão a ponderar estratégias caso os ingleses votem pela saída da União Europeia a 23 de junho.
A economia relativamente vibrante do Reino Unido tem atraído um fluxo constante de jovens que fogem da falta de oportunidades nos seus países de origem no continente. Londres, em particular, está cheia de jovens europeus – que ajudaram a dar à cidade uma vibração global e dinâmica. De empreendedores a financeiros, designers de moda, artistas, empregados de balcão e estudantes – são, atualmente, todos livres para se instalarem no Reino Unido e fazerem a sua vida.
Ninguém sabe ao certo o que acontecerá se o Reino Unido votar pela saída da União Europeia – o seu estatuto de imigrantes terá de ser negociado – mas o debate tem deixado os jovens receosos, frustrados e chateados.
Se o Reino Unido votar pela saída, três quartos dos cidadãos de outros países da União Europeia a trabalhar no país não atenderão as exigências de visto para trabalhadores estrangeiros – de acordo com um relatório do Migration Observatory da Universidade de Oxford. De acordo com o mesmo, o impacto será maior para aqueles que trabalham na agricultura e indústria hoteleira.
Existem também preocupações de que Londres, em particular, sofra se o fluxo de imigrantes qualificados cair. Cerca de um milhão de cidadãos da União Europeia trabalha em Londres – uma cidade com mais de 8,5 milhões de habitantes.
Brexit: reação dos jovens
Os jovens europeus estão preocupados com a hipótese de já não poderem viver e trabalhar no Reino Unido.
Alguns avançam que poderão deixar o país se o mesmo optar por sair da União Europeia, enquanto outros procuram solicitar a cidadania britânica ou obter um emprego a tempo inteiro antes de junho.
É tanta a incerteza quanto às consequências da saída da União Europeia que “só querem obter o passaporte para que não importe o resultado [da votação].”
Russell King, académico que investiga os jovens imigrantes europeus no Reino Unido, avançou que se verifica um “elevado nível de preocupação entre os jovens” quanto à votação, comummente referida como Brexit. Continuou:
“Estão muito ativos na tomada de medidas para se certificarem de que serão capazes de permanecer, de provar ativamente o seu valor para o Reino Unido e respetiva economia. (...) Não estão passivos, à espera de ver o que vai acontecer.”
Exemplo português
A chegada de Sílvia Luís a Londres é um exemplo do padrão migratório de jovens que procuram melhores condições enquanto o continente enfrenta dificuldades.
Cresceu em Cascais e foi a primeira da sua família a aprender Inglês e a frequentar a universidade. Há oito meses atrás fez as malas e partiu para Londres pois a sua universidade em Lisboa não iria realizar o mestrado que queria frequentar: Psicologia Criminal.
Começou a trabalhar na Pod, uma loja de sanduíches em Londres – em primeiro lugar na cozinha pois o seu Inglês não era bom mas entretanto passou para a caixa registadora, lidando com os clientes, depois do seu Inglês ter melhorado.
Desesperada para permanecer em Londres, Sílvia – de 23 anos – afirma que espera ser aceite por um programa de Psicologia Criminal de topo numa universidade escocesa. Avançou que a Escócia é especialmente atraente pois os mesmos parecerem determinados quanto à permanência na União Europeia – e ameaçaram a realização de um segundo referendo quanto à independência face ao Reino Unido caso o mesmo saia da União Europeia.
No entanto, nada é garantido.
“É claro que estou preocupada. (...) Quero ficar cá, trabalhar e construir a minha carreira.”
Completou que os amigos que ficaram em Portugal estão em empregos sem futuro e que “não pretende isso”.
Se o Reino Unido votar pela saída, Sílvia poderá não ser elegível para permanecer no país.
Elegibilidade para permanecer no Reino Unido
As atuais regras de imigração exigem que os nacionais não pertencentes à União Europeia tenham qualificações que garantam um salário de pelo menos 20.800 libras esterlinas por ano para serem elegíveis para o que é conhecido como visto Tier 2 – para trabalhar no país. O governo planeia aumentar o limite para 30.000 ou cerca de 40.000 libras na próxima primavera.
De acordo com o relatório do Migration Observatory:
“A exigência de trabalhar em ocupação de nível pós-graduado, combinada com os limites de vencimento, significa que a maioria dos empregos do mercado de trabalho do Reino Unido não se qualificam para o visto Tier 2.”
Mesmo aqueles que têm qualificações altas estão a fazer planos em caso de Brexit – vários planos. Alguns jovens poderão considerar deixar o país.