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Algo que poderá ser esperado também em 2017

A divisão entre moedas de mercados emergentes e moedas de mercados desenvolvidos tornou-se cada vez mais turva em 2016 – e os analistas de mercado dizem que “a culpa” é da política.

Em tempos valorizadas pela sua estabilidade, a libra esterlina, o euro e o dólar experienciaram volatilidade violenta este ano – graças, em parte, a desenvolvimentos políticos como a votação no Reino Unido para a saída da União Europeia, conhecida como Brexit, o referendo constitucional em Itália ou a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA.

Os investidores avançam que a frustração populista e a ascensão da extrema-direita na Europa e nos EUA poderá perturbar o status quo liberal do Ocidente, conduzindo potencialmente à dissolução da União Europeia e à subversão das instituições democráticas.

“O risco político é, geralmente, uma questão dos mercados emergentes mas temos visto risco político no mercado desenvolvido ao longo dos últimos dois anos.” – Afirmou Win Thin da Brown Brothers Harriman.

Tradicionalmente, os fatores económicos fundamentais como a conta corrente, a taxa de crescimento económico e os spreads das taxas de juro são aqueles com maior impacto sobre as moedas dos mercados desenvolvidos. No entanto, a percepção de que a agitação política acabará por prejudicar a economia – na medida em que deteriora a credibilidade das instituições democráticas e dos bancos centrais – é uma das razões para a mudança, afirmou Thin.

No seguimento da votação pelo Brexit, analistas do HSBC notaram que a libra esterlina se encontrava a ser negociada como uma moeda de um mercado emergente, tipicamente muito mais voláteis do que as suas pares do G10. A moeda britânica perdeu mais de 16% do seu valor face ao dólar este ano, surgindo em 2016 como a moeda com pior desempenho do G10.

Nos EUA, expectativas de que Trump irá promover a redução de impostos e o aumento da despesa com infraestruturas ajudaram a levar o dólar mais alto, com os investidores a apostar que as suas políticas – se implementadas – poderão encorajar a Reserva Federal a aumentar as taxas de juro mais depressa do que anteriormente se acreditou.

O euro caiu depois do referendo em Itália ter falhado e resultado na demissão do primeiro-ministro Matteo Renzi. No entanto, a moeda recuperou rapidamente com os investidores entusiasmados com a crença de que os partidos da oposição provavelmente não seriam bem-sucedidos na realização de eleições gerais em 2017. As próximas eleições em Itália estão previstas para a primavera de 2018.

O próximo ano incluirá uma série de testes políticos ao euro, com partidos de extrema-direita a ameaçar ganhos significativos em eleições gerais na Alemanha, França e Holanda.

Para um vislumbre de como o euro poderá reagir se, digamos, Marine Le Pen – líder da Frente Nacional, partido de direita francês – vencer as presidenciais em França, veja a evolução do zloty polaco ao longo deste ano.

A moeda perdeu 7% do seu valor em relação ao dólar este ano – um dos piores desempenhos na Europa – com o partido Lei e Justiça, no governo, a ser repetidamente acusado de pisar as liberdades civis dos cidadãos.

Na semana passada, o governo conservador polaco adotou uma lei que juristas afirmam que irá diluir a autoridade dos tribunais constitucionais do país.

“Há preocupações com o Estado de Direito e o estado da democracia [na Polónia].” – Afirmou Piotr Matys, analista na Rabobank. “Alguns desenvolvimentos políticos minaram a sua credibilidade.”

Na Turquia, onde o presidente Recep Tayyip Erdogan tem vigorosamente purgado suspeitos de dissidência política no seio das forças militares, policiais, universidades e serviço civil, a moeda local perdeu um quinto do seu valor. No início de dezembro, era negociada a um mínimo recorde de 3,6 liras para um dólar (FX:USD:TRY).

Os investidores estão também preocupados com a possibilidade de Erdogan ter comprometido a independência do banco central da Turquia ao tentar fortalecê-lo mantendo as taxas de juro baixas. Para ajudar a deter a rápida desvalorização da moeda, pediu aos turcos patriotas que apoiassem a lira negociando os seus euros e dólares.

Alegações de corrupção em torno do Congresso Nacional Africano e do seu líder, o presidente Jacob Zuma, também pesaram sobre o rand sul-africano que perdeu cerca de 10% do seu valor face ao dólar este ano.

Para todas as moedas mencionadas anteriormente, a política irá provavelmente permanecer um fardo.

“Uma coisa é certa: a política desempenhou um papel crucial [no mercado cambial] ao longo deste ano.” – Afirmou Matys.

Os mercados podem esperar mais do mesmo em 2017, acrescentou.

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