As 10 mais interessantes previsões económicas para 2017
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O que esperar em 2017, a nível global e em Portugal

Circulam nestes dias, pela internet, dezenas de artigos com previsões e estimativas para o próximo ano: o que acontecerá em 2017? Ninguém o poderá saber com todas as certezas. No entanto, com eleições gerais na Alemanha, França e Holanda, Donald Trump a entrar na Casa Branca e o Reino Unido a acionar o Artigo 50º que dará início ao seu divórcio definitivo da União Europeia, é possível antever que 2017 tenha alguma volatilidade reservada.

Recorremos a várias fontes internacionais e compilámos as dez mais interessantes previsões económicas para 2017 – dos EUA, à Europa e à China, passando pelos mercados emergentes, pelo mercado de ações e pelo mercado cambial, e ainda por outras previsões globais, até chegar a Portugal. As fontes encontram-se mencionadas nos pontos que se seguem. Saiba o que esperar em 2017.

As 10 mais interessantes previsões económicas para 2017

1. Recuperação da economia global como um todo

Prevê-se que a economia global cresça a uma taxa de 2,8% em 2017, um valor superior ao de 2016 mas, pelo sexto ano consecutivo, abaixo de 3% – é o avançado por Nariman Behravesh, economista chefe na IHS Markit. “A expectativa de que a nova administração norte-americana venha a implementar consideráveis estímulos fiscais aumentou o otimismo quanto ao crescimento nos EUA e a nível global. (...) Por outro lado, as mais elevadas taxas de rendibilidade das obrigações do governo dos EUA têm um impacto negativo no mundo emergente, reduzindo significativamente o espaço para mais flexibilização monetária.”

Behravesh continuou: “Felizmente, estas voltas do mercado financeiro ocorrem num momento em que os preços das matérias-primas estão a subir e tanto o sentimento do consumidor como das empresas tem vindo a melhorar.” A IHS Markit avança, assim, que o equilíbrio dessas tendências será moderadamente positivo para o crescimento global. Entretanto, Adam Slater, economista chefe na Oxford Economics, avança uma perspetiva semelhante: diversos fatores irão continuar a travar a economia global mas a mesma começará a recuperar em 2017. “Esperamos que a economia mundial melhore em 2017, mas modestamente.” – Afirmou.

2. Economia norte-americana: o mais rápido crescimento do G7

Prevê-se que a economia dos EUA se expanda em 2017, impulsionada pela confiança positiva das empresas e dos consumidores bem como pela implementação de cortes significativos ao nível dos impostos – para todos, incluindo os mais ricos. A administração Trump está, de facto, a planear estímulo fiscal massivo – bem como revogação de regulamentações – e aumento de despesas com infraestruturas já a partir do próximo ano. No entanto, dependerá tudo da execução na medida em que os planos permanecem “esboços” – e os seus efeitos, caso venham de facto a ser implementados, poderão ser apenas sentidos de 2018 em diante.

Do lado negativo, o aumento das taxas de juro e um dólar mais forte poderão corroer alguns dos efeitos positivos dos estímulos planeados. Ainda assim, a IHS Markit prevê que o crescimento dos EUA ande na ordem de 2,3% em 2017 e 2,6% em 2018. Antevê, igualmente, que as taxas de juro continuem a subir – prevendo que a Reserva Federal aumente as taxas de juro pelo menos três vezes em 2017. John Hawksworth e Barret Kupelian, economista chefe e economista sénior da PwC, respetivamente, preveem que a economia dos EUA cresça na ordem de 2,2% no próximo ano – a mais rápida do G7 – apoiada pela forte criação de emprego e consumo interno.

3. Europa: a política irá continuar a influenciar fortemente os mercados

A Europa enfrenta enormes desafios políticos que poderão prejudicar a confiança e crescimento económico no próximo ano, incluindo um Brexit potencialmente contencioso, consequências da recente derrota do referendo constitucional em Itália e eleições gerais em França, Alemanha e Holanda – estimando-se elevada observação de voto de protesto nas presidenciais em França e nas parlamentares na Alemanha e Holanda.

De acordo com Gavin Hewitt, correspondente chefe da BBC, o compromisso para reforçar a redução do défice irá enfraquecer nestas condições – e a IHS Markit concorda: forças conflituantes irão enfraquecer o crescimento da zona euro de 1,7% (2016) para 1,4% (2017). Já Adam Slater é mais otimista, avançando que a região irá permanecer robusta com a política monetária do BCE (flexibilização quantitativa e taxas de juro negativas) a impulsionar o crescimento.

“Esperamos que a zona euro supere a estimativa de 1,5% no próximo ano, acompanhada por maior inflação e mais elevada taxa de rendibilidade das obrigações.” – Adam Slater, Oxford Economics.

O Reino Unido, em concreto, irá lançar formalmente o seu processo de divórcio da União Europeia, que será amargamente conduzido tanto a nível interno como externo. A IHS Markit prevê que o crescimento do Reino Unido caia de 2,1% em 2016 para 1,3% em 2017 – números apoiados por Hawksworth e Kupelian da PwC que avançam que o PIB do país deverá cair para 1,2% em 2017 como resultado da incerteza ao redor do Brexit.

Os colaboradores da PwC afirmam, ainda: “Na zona euro esperamos que as economias periféricas cresçam mais rapidamente que as centrais pelo quarto ano consecutivo. (...) O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) irlandês deverá ser líder no pacote periférico, crescendo em mais de 3% ao ano, enquanto França e Holanda deverão liderar o crescimento das economias centrais na ordem de 1,5%.”

4. China: a desaceleração do crescimento veio para ficar

O crescimento da China irá desacelerar ainda mais no seguimento de abrandamento na construção de habitação e da eliminação de estímulos do governo – com o yuan de volta aos níveis de 2008 e com o governo a impor controlo de capitais numa tentativa de aliviar a pressão sobre a moeda e limitar a depreciação anual. Além disso, 2017 será politicamente relevante na China, prevendo-se a concessão de um segundo mandato de cinco anos a Xi Jinping.

A IHS Markit acredita que contradições políticas na China irão resultar na desaceleração do crescimento de 6,7% em 2016 para 6,4% em 2017. Já Adam Slater, da Oxford Economics, considera que o yuan irá permanecer estável: “Estimamos que o yuan permaneça estável e que venha a depreciar apenas modestamente em relação ao dólar no próximo ano, com as autoridades chinesas a restringirem a saída de capital.”

5. Mercados emergentes: resultados distintos de país para país

Os mercados emergentes irão crescer apesar das recentes pressões do mercado financeiro. Os fundamentos económicos melhoraram quanto à maioria dos mercados emergentes, nos últimos dois anos, e – com exceção da China – os rácios de dívida global encontram-se baixos. Tal significa que estas economias serão capazes de desfrutar dos frutos de uma perspetiva global mais otimista. De acordo com os colaboradores da PwC, a Ásia irá continuar a região com mais rápido crescimento do mundo em 2017. No entanto, os mesmos preveem que os holofotes se afastem da China e foquem na Índia e Indonésia no próximo ano:

“Achamos que a Indonésia está a caminho de se juntar à elite de ‘biliões de dólares’ no próximo ano. Em comparação, projetamos que o PIB chinês cresça na ordem de 6% ao ano. (...) Entretanto, a contribuição da Índia para o crescimento do PIB mundial poderá alcançar quase 17%.”

Do ponto de vista de Adam Slater, da Oxford Economics, os mercados emergentes irão permanecer imprevisíveis, num cenário misto com resultados distintos de região para região. O economista avança que a Rússia e o Brasil irão ”dar-se bem” enquanto a China não: “2017 irá observar crescimento agregado dos mercados emergentes para 4,1%, de 3,4%, mas o desempenho irá variar entre os países. Estimamos que o crescimento chinês venha a desacelerar ainda mais – com o crescimento dos mercados emergentes, excluindo a China, a melhorar através da saída da Rússia e do Brasil da recessão.”

6. Mercado de ações: ações voltam a superar o rendimento fixo

O mercado de ações está bem posicionado para um ano decente – é o ponto de vista predominante entre analistas de mercado. A recente ascensão do mercado indica que os investidores estão entusiasmados com as perspetivas proporcionadas sob a presidência de Donald Trump – incluindo a redução de impostos, a revogação de regulamentações e o aumento da despesa do governo com infraestruturas.

De acordo com as previsões económicas do Kiplinger, será de aguardar um retorno modesto na ordem de 4% a 6%, incluindo dividendos, e será de esperar volatilidade no mercado – e nos lucros – à medida que os investidores se adaptam às mudanças políticas. Do ponto de vista de Slater, da Oxford Economics, as ações irão superar o rendimento fixo pelo segundo ano consecutivo com os três principais índices dos EUA em níveis recorde:

“Como resultado do forte aumento dos rendimentos após as eleições nos EUA, as obrigações a 10 anos deverão avançar retornos totais mais parcos, enquanto as ações se encontram posicionadas para render retornos totais de dois dígitos. Estimamos que este padrão de desempenho se mantenha em 2017. O retorno total de ações dos EUA será mais modesto, ao redor de 5%, enquanto o retorno total [das obrigações] será novamente muito baixo.”

7. Mercado cambial: paridade euro/dólar até ao final do ano

A IHS Markit adianta que o dólar norte-americano irá avançar mais – embora o aumento não seja uniforme. O maior aumento será, provavelmente, face ao euro e ao iene, com a política monetária da zona euro e do Japão a tornar-se mais flexível do que a dos Estados Unidos. A empresa avança ainda que no quarto trimestre de 2017 o euro irá alcançar brevemente a paridade e o iene irá cair para cerca de 120. Por outro lado, as moedas dos mercados emergentes irão cair muito menos pois já foram alvo de grandes quedas.

Adam Slater, por sua vez, parece concordar com parte das previsões da IHS Markit: o euro e o dólar norte-americano irão alcançar a paridade até ao final do ano. A mesma será impulsionada por dois grandes catalisadores: a política europeia e um dólar mais forte após aumento das taxas de juro por parte da Reserva Federal dos EUA. “O aumento dos diferenciais das taxas de juro entre os EUA e a zona euro irá levar a taxa euro/dólar norte-americano à paridade até ao final de 2017, pela primeira vez desde 2002.” – nota a Oxford Economics.

8. Matérias-primas: preços mantêm tendência crescente

O preço das matérias-primas irá manter uma tendência ascendente em 2017. A IHS Markit aumentou a sua previsão do preço médio do barril de petróleo, para 2017, para 55 dólares no seguimento do recente acordo da OPEP para a redução da produção – com a Arábia Saudita a estimar que a receita do petróleo salte na ordem de 46% no próximo ano depois do acordo do reino com outros produtores conduzir a aumento dos preços globais.

Nas últimas semanas, a antecipação de crescimento ainda mais forte e, em particular, de maior despesa nos EUA com infraestruturas tem impulsionado os mercados de matérias-primas. Num mercado com tendência altista, como se prevê para 2017, e com o ouro a entrar no novo ano em modo de “correção”, o mesmo poderá experienciar volatilidade significativa nos próximos meses. O cenário é incerto – quanto ao ouro – e 2017 poderá reservar grandes surpresas.

9. Outras previsões globais

A economia do Japão irá ganhar um pouco de tração, estabilizando em 1% em 2017 graças a um iene mais fraco – e as taxas de inflação irão subir em muitas partes do mundo (IHS Markit). Com a ausência da Parceria Trans-Pacífico e da Parceria Comércio e Investimento o comércio mundial deverá crescer mais lentamente que a produção global pelo terceiro ano consecutivo (PwC).

O risco de uma recessão nos EUA – ou global – permanecerá baixo, em não mais que 25%, a Índia irá destacar-se no meio dos mercados emergentes e a Austrália irá experienciar o seu 26º ano consecutivo de crescimento sem interrupções. A ameaça do terrorismo – e da nuclear Coreia do Norte – continuará a fragilizar a segurança mundial (The Economist).

10. Portugal: economia recupera levemente mas não acompanha ritmo europeu

O Banco de Portugal reviu em baixa, este mês, as projeções para a economia portuguesa em 2017 – prevendo recuperação moderada da atividade económica nos anos seguintes: “Para 2017, o banco central prevê que o crescimento seja de 1,4%, abaixo da estimativa de 1,6% apresentada em julho. (...) Em 2018 e 2019 o banco central prevê que o crescimento seja de 1,5%”. O BdP afirma que o crescimento da economia será apoiado por recuperação ao nível do investimento empresarial e desempenho positivo das exportações. Ambos os indicadores irão compensar a desaceleração do consumo privado. A taxa de desemprego, por sua vez, deverá cair para 10,1% (dos previstos 11% para 2016).

Ao longo do próximo ano, a economia portuguesa continuará fortemente limitada pela disciplina orçamental imposta por Bruxelas e pelo elevado endividamento – prevendo-se que cresça menos que a média dos seus pares europeus – encontrando-se também altamente exposta a um quadro de incerteza ao redor da política económica e relações comerciais de economias avançadas –que correspondem aos principais mercados para exportações portuguesas (como EUA, China, Reino Unido, Alemanha e França). Por último, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reforçou, recentemente, a forte necessidade de consolidação orçamental e alertou para a fragilidade do setor bancário do país.

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