A saída do Reino Unido da União Europeia poderá transformar o país – mas também irá mudar a União Europeia. Saiba como.
Orçamento da União Europeia: para onde irá o dinheiro?
O orçamento da União Europeia representa apenas 2% da despesa governamental de membros do bloco. Contudo, para países do leste europeu, as transferências de Bruxelas representam uma parcela significativa – cerca de 8% do orçamento da Polónia e quase um quinto do orçamento da Bulgária.
Sem o Reino Unido, Bruxelas terá cerca de um sexto a menos para dar aos países beneficiários – o que irá estabelecer uma luta entre o leste e o ocidente quanto ao plano de despesa para 7 anos de 2021 em diante.
No curto prazo também haverá uma luta com o Reino Unido quanto ao que este deve com a saída. Londres poderá optar por continuar a pagar para ter acesso a alguns orçamentos-chave da UE, como o orçamento para a investigação. Contudo, outras áreas poderão ser objeto de revisão radical – como os subsídios para a agricultura.
Balança de poderes: quem assumirá a liderança?
O Reino Unido utilizou a sua quota de 12% de votos da UE para conter os gastos de Bruxelas e impulsionar o comércio livre. A sua partida preocupa os aliados do norte – como os nórdicos e os holandeses.
Os países de leste – cuja adesão foi defendida pelo Reino Unido – temem que a Alemanha e França possam endurecer barreiras à sua força de trabalho de baixo custo ou reforçar os poderes federais da UE que os antigos países comunistas não apreciam. Os aspirantes a novos membros, nomeadamente dos Balcãs, também perdem um aliado contra os países mais ricos – preocupados com o alargamento da UE.
França torna-se o único membro da UE com armamento nuclear – e membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com capacidade de veto. O país perde um oponente obstinado com as suas ambições para mais cooperação ao nível da defesa da UE fora da aliança da NATO liderada pelos EUA. A defesa já está de volta à agenda de Bruxelas.
A Alemanha, ambivalente quanto a ser vista como dominante na Europa por força do seu músculo económico e surgindo como lar de quase um em cada cinco cidadãos da UE pós-Brexit, está desconfortável quanto à manutenção de equilíbrio, nomeadamente com a cofundadora em dificuldades económicas França.
UE no mundo: uma força diminuída
A União Europeia perde um interlocutor robusto junto dos Estados Unidos e no restante mundo de língua inglesa. O Reino Unido, histórica força diplomática e militar e forte influência junto de poderes como a China e a Rússia ou junto do Médio Oriente, tem sido útil para a UE. Diversos países africanos, uma preocupação crescente devido à migração, têm sido apoiados por programas de ajuda britânicos. A dura relação de Londres com Moscovo levou a que ganhasse amigos nos estados bálticos e Holanda – que temem que uma abordagem mais ligeira de França, Itália e possivelmente Alemanha venha a prejudicar o consenso para pressionar a Rússia com sanções quanto às suas ações na Ucrânia – ou para cortar a dependência do gás russo.
Cultura política: vive le Brexit?
Embora sub-representados no pessoal das instituições europeias, os funcionários britânicos estabeleceram ao longo de 44 anos de adesão um papel chave em posições sénior – bem como no Parlamento Europeu. Tal irá desaparecer com os cidadãos britânicos impedidos de trabalhar na UE.
Diversos governos, nomeadamente de estados mais pequenos, valorizam o que veem como abordagem britânica à administração: mais pragmática e menos laissez-faire do que a tradição mais centralizada das fundações francesas da União.
O Reino Unido irá deixar um legado capaz de sobreviver sob a forma do Inglês como língua de trabalho de Bruxelas – apesar de esperanças em Paris de se restabelecer a proeminência do Francês.
Jogo de sobrevivência: quebrar o tabu do divórcio
Desde a votação pelo Brexit que líderes da UE falam de unidade renovada entre os restantes 27 membros. Sondagens sugerem que o apoio popular à UE aumentou em geral. Contudo, a unidade será testada pelas negociações ao redor do Brexit, com todos os governos a avançarem prioridades diferentes.
A utilização, sem precedentes, do Artigo 50º do tratado da UE quebra o tabu. Bruxelas terá de lidar com mais ameaças de saída nomeadamente ao nível da tomada de decisões em todos os setores nos próximos anos.