Tudo o que precisa de saber sobre o SegWit2x
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16 de Outubro de 2017

O SegWit, uma atualização à tecnologia base da Bitcoin, foi ativado há alguns meses – depois de um longo e aceso debate. Desse debate também resultou a criação de uma altcoin – a Bitcoin Cash – que surgiu como oposição à solução SegWit. Entretanto estamos à beira de outra divisão ao redor da Bitcoin: o SegWit2x. Para ficar com uma ideia de tudo o que se passou até agora aconselhamos a leitura deste artigo.

A muito aguardada ativação SegWit trazia consigo uma condição: o aumento da dimensão dos blocos de dados processados alguns meses depois da ativação (hard fork). Os mineiros que se encontravam inicialmente contra o SegWit ativaram-no sob os termos do Acordo de Nova Iorque (NYA na sigla original). O NYA é também conhecido como Silbert Agreement (referência a Barry Silbert, fundador do Digital Currency Group) ou DCG Agreement. Silbert promoveu a negociação do acordo entre vários jogadores da indústria – como a empresa de mineração Bitmain, a plataforma Coinbase e o serviço de pagamentos BitPay.

A utilização do soft fork SegWit está a aumentar de forma constante, o que é favorável à rede (proporciona redução de taxas, por exemplo). Entretanto, outras melhorias dependentes (como o desenvolvimento da Lightning Network) estão virtualmente garantidas. Assim, o foco mudou agora para a parte final do NYA, que exige um hard fork em meados de novembro deste ano para aumento da dimensão dos blocos de dados.

Este hard fork é agora comummente conhecido como SegWit2x ou “S2X”. O protocolo btc1 para ativação do S2X foi criado pelo antigo programador da Bitcoin Core e CEO da Bloq Jeff Garzik. Está programado para ativação no bloco 494.784. Pode consultar a contagem decrescente aqui: 2x Countdown.

As 6 principais objeções ao NYA

O NYA tem-se mostrado altamente impopular entre os utilizadores de Bitcoin (EXANTE: Bitcoin) – a julgar pelos comentários e ativismo em várias plataformas online. Muitos utilizadores do Twitter adotaram a tag NO2X para sinalizar a sua resistência. Para evidência mais concreta considere o número de nós que escolheram não mudar para btc1:

Seguem-se as principais objeções ao acordo:

  1. A primeira objeção é política. Embora o encontro (Consensus 2017) tenha sido denominado de “Consensus” (consenso) o mesmo apenas envolveu uma pequena amostra de CEO. O NYA foi concluído sem a contribuição dos programadores por detrás da Bitcoin, da maioria das empresas do sector ou de milhões de utilizadores.
  2. Como o SegWit e melhorias relacionadas já atualizaram a capacidade de transação de blocos de Bitcoin não se verifica necessidade urgente de aumentar a dimensão dos blocos. Os blocos estão longe de estar congestionados – logo, o objetivo secundário do NYA carece de justificação.
  3. Como os hard forks são inerentemente e inevitavelmente arriscados e disruptivos devem ser reservados para uso de emergência. A única exceção é um hard fork com apoio unânime planeado com antecedência. Forçar um hard fork apressado com apenas apoio minoritário para nenhum benefício tangível (ver ponto 2) não irá provavelmente proporcionar nada – além de caos e da criação de uma outra altcoin (S2X).
  4. Muitos programadores da Bitcoin Core poderão interromper todas as contribuições em termos de código se o S2X se tornar dominante. Todos os que tornaram as suas posições públicas indicaram a sua rejeição do S2X. Sem a competência e a experiência desses programadores, o futuro da Bitcoin é amplamente incerto.
  5. O S2X não inclui proteção abrangente anti-repetição. Isto significa que depois do fork uma transação numa blockchain poderá ser “repetida” na outra. É perigoso e poderá levar a perdas. Os utilizadores que desconhecem essa questão irão enviar quantias iguais de S2X e BTC sempre que tentarem enviar apenas de um tipo.
  6. O S2X opôs-se deliberadamente às tentativas da Bitcoin Core de evitar uma separação desordenada da rede com determinado código na versão 0,15 e posteriores.

NYA: menos que a soma das partes

Considere a lista das entidades/indivíduos signatários do Acordo de Nova Iorque. Há alguns factos interessantes a reter. Comecemos com a contagem dos signatários.

Número total de signatários do Acordo de Nova Iorque: 56

Trata-se de um número bastante impressionante à primeira vista – mas é necessária uma análise mais atenta: o número de empresas/indivíduos que retiraram as suas assinaturas ou nunca assinaram é muito maior. No entanto, não é possível determinar a lista completa de não participantes: inúmeras empresas e projetos não expressaram uma preferência. Também continua por se perceber quantos mineiros irão redirecionar as taxas de hash de grupos de mineração que não seguem a sua chain preferida.

Número total de signatários excluindo os indivíduos: 54

Do total subtraem-se ainda dois indivíduos: Gavin Andresen, antigo programador da Bitcoin Core, e Guy Corem, antigo CEO da extinta Spondoolies, fabricante de equipamento ASIC. Como nenhum dos dois é CEO ou programador ativo o seu apoio ao SegWit2x não será significativo. Como tal, devem ser descontados como não mais influentes que qualquer outro utilizador de Bitcoin.

Número total de signatários excluindo os indivíduos e a Yours: 53

A start-up Yours de Ryan X. Charles é signatária. No entanto, cerca de uma semana antes de assinar o NYA, Charles anunciou a sua decisão de mudar o seu projeto de Bitcoin para Litecoin (LTC/USD). Como tal, a Yours não tem um papel real no futuro da Bitcoin e poderá ser descartada como irrelevante.

Número total de signatários menos os acima mencionados e empresas subsidiárias: 46

Do anterior total podemos deduzir com segurança as assinaturas de todas as empresas subsidiárias – são redundantes.

  1. A Bitmain gere e fornece uma série de grupos de mineração signatários: 1Hash, BTC.com e BTC.top. Todos os detalhes de contacto destes grupos apontam diretamente para a Bitmain. A ViaBTC já quebrou os termos do NYA ao minerar Bcash e recebeu cerca de 20 milhões de ienes em financiamento da Bitmain e investidores privados.
  2. Duas subsidiárias da DCG assinaram o NYA: a Grayscale Investments e a Genesis Global Trading.
  3. A Decentral é o “hub de inovação” canadiano que desenvolve a carteira multi-moedas Jaxx. Não faz sentido contar a Decentral e a Jaxx como entidades separadas.

Número total de signatários menos os acima mencionados e as empresas que retiraram o seu apoio: 41

O SegWit.Party exibe estatísticas atualizadas ao redor do apoio ao S2X juntamente com ligações para evidência de alterações de posição. Indica que cinco signatários retiraram publicamente o seu apoio ao NYA.

Número total de signatários menos os acima mencionados e as empresas financiadas pela DCG: 16

Se subtrairmos de seguida todas as empresas que receberam financiamento do Digital Currency Group alcançamos um menos impressionante total de 16.

Uma vez que o DCG é, em muitos casos, o investidor maioritário de tais empresas, as mesmas poderão ser consideradas equivalentes a subsidiárias. Afinal, trata-se de investimento que adquire um grau de controlo, especialmente em pequenas empresas.

Esta última subtração é a mais controversa – qual a quantia de financiamento recebida? Ou seja, qual o grau de influência da DCG? Mais: algumas destas empresas poderão operar de forma inteiramente autónoma da DCG.

Como se preparar para a divisão?

Os utilizadores que vivenciaram o hard fork da Bitcoin Cash (EXANTE: Bitcoin.Cash) devem ter uma ideia do que esperar. A primeira regra: colocar as suas moedas numa carteira sob o seu controlo. Isso significa retirar as suas moedas de plataformas ou bolsas ou qualquer carteira online. Mais: assegure-se de que tem acesso às suas chaves privadas.

À medida que a data do evento se aproxima mais e mais plataformas irão divulgar declarações quanto aos seus planos para lidar com o mesmo (declaração da Coinbase e declaração da Bitfinex).

A principal diferença desta vez é que não será seguro transacionar depois da separação devido à falta de proteção contra repetição. Nesta altura, é aconselhado a todos os detentores de Bitcoin que aguardem por um plano de ação claro. Poderá ser necessária para utilizadores ou empresas a separação manual das suas moedas, embora ainda não existam orientações claras para fazê-lo. É aconselhado aos utilizadores que não negoceiem ao redor da altura da separação, aguardando pelo “all clear” antes de retomar operações normais.

Alterações ao nível da formação de blocos e da capacidade de hash

Têm circulado rumores a indicar que alguns grandes mineiros pretendem redirecionar as suas taxas de hash para o S2X – atacando a incumbente blockchain da Bitcoin. Quantas mais taxas de hash alternarem de blockchain mais lentos os blocos da outra chain serão até a dificuldade se ajustar.

Embora a remoção de significativa capacidade de hash possa resultar em transações mais lentas e taxas mais elevadas por um tempo, o mercado irá provavelmente corrigir o desequilíbrio. A situação seria semelhante ao desaparecimento da Coca-Cola do mercado: haveria falta de oferta do refrigerante até as concorrentes aumentarem as suas operações.

Então e a Bitcoin Gold?

É provável que já tenha ouvido falar na Bitcoin Gold – mas a mesma não tem nada a ver com o SegWit2x. A Bitcoin Gold é outro hard fork planeado para 25 de outubro.

Conclusão: mantenha a calma e tenha as suas chaves privadas por perto

O fork de novembro parece a mesma história de novo. Os utilizadores devem manter as suas chaves privadas à mão e evitar a realização de quaisquer transações até a costa estar livre.

O que irá acontecer à Bitcoin, ao seu preço e adoção? Ninguém pode realmente saber. É apenas mais um exercício de “mercado livre” a ser experienciado em tempo real.

Fonte: 99Bitcoins

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