Como a blockchain poderá acabar com a comercialização de diamantes de sangue
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19 de Março de 2018

Empresas responsáveis pela extração e comercialização de diamantes e pedras preciosas estão a voltar-se para a tecnologia blockchain para monitorização da sua atividade.

Os mercados internacionais de diamantes e pedras preciosas têm dado passos para erradicar a comercialização de diamantes de sangue e para combater a transgressão de direitos humanos na sua atividade em décadas recentes. No entanto, mesmo com medidas como o Processo de Kimberley em marcha, a fraude e a falsificação ainda são um problema. Com essa realidade em mente, empresas como a De Beers e a Fura Gems estão a voltar-se para a tecnologia blockchain para monitorização da sua atividade.

Os diamantes de sangue, também conhecidos como diamantes de conflito, ainda são uma realidade no seio da indústria de diamantes e pedras preciosas. A sua exploração e comercialização resulta frequentemente da tomada de controlo de minas por parte de milícias, rebeldes ou tropas apoiadas por governos — que as utilizam para financiar violência contínua contra a população civil. É uma situação verificada amiúde em África, todavia também noutros continentes.

Embora a blockchain seja mais conhecida como a tecnologia subjacente às criptomoedas, pela sua capacidade para agir como livro de contas descentralizado e registar qualquer tipo de transação, são diversas as indústrias que começam a adotá-la para variados fins.

No início deste ano, a empresa De Beers (responsável pela extração e comercialização de mais de 30% da oferta mundial de diamantes) anunciou que irá criar a primeira blockchain para monitorizar pedras preciosas desde o momento em que são extraídas até serem vendidas ao consumidor final — uma medida extremamente relevante ao nível do marketing, com os consumidores cada vez mais conscientes da existência de fraudes e exigentes quanto à proveniência ética das joias.

Como a tecnologia blockchain se baseia em criptografia informática altamente sofisticada, apenas os indivíduos com permissão — neste caso aqueles que supervisionam a extração, o corte, e a venda das pedras preciosas — poderão introduzir ou editar dados na base de dados. Tal concede uma forte garantia de que as pedras certificadas como sendo de origem ética — não associadas a conflito ou a trabalho infantil — o são realmente.

E mais: a De Beers não é a única empresa a considerar a tecnologia blockchain para reforçar a informação da cadeia de fornecimento do mercado de diamantes. A start-up Everledger revelou recentemente uma plataforma de rastreabilidade dentro do mesmo âmbito e a empresa Fura Gems — especializada em outras pedras preciosas, particularmente esmeraldas e rubis — também partilhou uma iniciativa semelhante.

«Isto é usado para gerir a cadeia de fornecimento, na indústria da extração, exatamente a partir do ponto em que se extrai uma pedra — no nosso caso uma esmeralda colombiana ou um rubi moçambicano — até ao bolso do consumidor. […] E a grande vantagem de utilizar a blockchain para tal é que é tudo descentralizado — qualquer um pode observar o movimento de uma pedra em particular, ou conjunto de pedras.» — Vikram Pathak, responsável da Fura Gems pelas relações com investidores.

De acordo com Pathak esta estratégia proporciona, acima de tudo, transparência.

Mas não fica por aí. Um registo de proveniência na blockchain também ajudará a mitigar a falsificação, outro problema que afeta amplamente a indústria: tentativas de fazer passar pedras sintéticas por diamantes, esmeraldas ou rubis extraídos naturalmente.

«Seremos capazes de dizer que estes minerais foram extraídos de uma mina na Colômbia, enviados para a Índia para serem cortados e polidos e transferidos para a Suíça — de onde foram enviados para vendedores no Reino Unido e Canadá. Poderemos monitorizar o movimento dessas pedras à volta do mundo [sabendo exatamente de onde vêm.]»

Como as blockchains são (ou podem ser) acessíveis ao público, qualquer pessoa poderá verificar a proveniência das suas pedras preciosas.

«O Processo de Kimberley tem feito muito nesta área, mas ainda está bastante sujeito a atividade fraudulenta, que vemos acontecer a toda a hora. A Serra Leoa é um excelente exemplo, onde se extraem diamantes de forma ilegal e se procura defraudar o sistema com certificados falsos.»

Embora as iniciativas da De Beers e da Fura ainda se encontrem em fases iniciais, é positivo ver-se utilização prática da tecnologia blockchain para a resolução de problemas do mundo real. Se estas e outras empresas conseguirem aplicar as soluções inovadoras que preveem, veremos a tecnologia a cumprir a sua promessa.

Fonte: Forbes

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