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21 de Agosto de 2018

Um grupo de peritos da Boston Consulting Group avançou que a tecnologia inovadora não é solução para tudo. Conheça um exemplo concreto de seguida.

A tecnologia blockchain começa a ser amplamente adotada por plataformas de câmbio, por bancos e até mesmo pela indústria das matérias-primas. Porém, um grupo de peritos relembrou que a tecnologia inovadora não é solução para tudo.

O relatório «A Reality Check for Blockchain in Commodity Trading», produzido pela empresa de consultoria de gestão Boston Consulting Group (BCG), avança que a tecnologia blockchain não é adequada para a negociação de matérias-primas — pelo menos por agora.

A negociação de matérias-primas carece de melhor padronização, eficiência e rastreamento. Porém, não é certo que a blockchain seja a aplicação capaz de atender a essas necessidades. Existem, de facto, benefícios na tecnologia blockchain, mas também desvantagens significativas.

São muitos os traders que lucram realmente com as ineficiências do mercado, com arbitragem primária — o processo de explorar a variação de preços entre bolsas/plataformas, comprando um ativo numa bolsa e vendendo-o noutra por mais. Os traders de criptomoedas também o fazem.

Recorrendo à tecnologia blockchain, as transações inscritas num registo partilhado conduziriam a preços mais padronizados e a menor arbitragem — porém, os traders dependem das diferenças de preços entre plataformas para a obtenção de lucros.

Por mais irónico que seja a BCG sente que tal torna a tecnologia blockchain desadequada para a negociação em grande escala.

Para uma solução baseada na blockchain ganhar aceitação, a maioria das transações teria de ser registada com precisão na mesma — levando a que participantes possam comparar preços e encontrar discrepâncias. Maior transparência conduzirá a preços mais justos. No entanto, tal terá impacto nos lucros dos traders que dependem das ineficiências de preço para lucrar.

E há mais. A BCG afirma que a tecnologia não é apropriada para negociação sensível ao tempo. É verdade que mercados peer-to-peer baseados em blockchains podem definir preços de forma automática — mas o registo tem de ser atualizado via consenso. Embora possa ser feito em segundos, mesmo um pequeno atraso é um grande golpe para os traders.

Os sistemas existentes foram desenvolvidos através de investimentos das empresas que os usam — empresas de investimento que gastam grandes quantias em serviços de TI para se manterem na dianteira. E, no fundo, existe pouco incentivo para abandonar esses sistemas a favor da tecnologia blockchain — nova, pouco testada e incompleta.

Os candidatos a adotantes da blockchain têm de estar cientes destas desvantagens. Muitas empresas investiram grandes quantias em sistemas de TI para gerir as complexidades da negociação de matérias-primas, ganhando vantagem competitiva sobre as suas rivais. A blockchain exigiria novo investimento — e, ao retirar complexidade, também retirará vantagem.

E ainda: estas preocupações são ampliadas quando se considera a necessidade de adoção total para que a tecnologia blockchain venha realmente a brilhar. Sim, é ótimo que a tecnologia esteja a ser usada na distribuição de bens a nível internacional, por exemplo — mas qual a utilidade se não for acessível a todos?

«A indústria terá provavelmente de agir em conjunto uma vez que os benefícios da blockchain apenas se realizarão se todos os jogadores participarem,» declarou a BCG — o que é pouco provável que aconteça em breve. Sim, aproximamo-nos a cada dia, mas apenas parece que estamos perto por toda a propagada ao seu redor.

No final, não faz mal que a blockchain não seja a melhor solução para tudo. Procurar aplicá-la a tudo apenas irá atrasar-nos, conduzindo a implementação insatisfatória e a expectativas não atendidas.

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