As estatísticas apontam para um crescimento do PIB da Índia igual ao da China em termos percentuais durante o próximo ano. As reações dos indianos dividem-se entre um otimismo exagerado e a dúvida, pois muitos indianos estão conscientes que o crescimento económico do seu país não é tão sustentável como o do vizinho oriental.
Os especuladores indianos estão em êxtase. De acordo com os números do produto interno bruto, revistos e divulgados no início desta semana, o pais irá crescer 7,4% durante o ano – a par com a rival China. Não interessa que a maioria dos outros indicadores – desde a produção, ao comércio e ao investimento das empresas – pareçam mostrar que a economia está, na melhor das hipóteses, a sair do fundo do poço, ou que Raghuram Rajan, do banco central, tenha expressado perplexidade relativamente aos valores revistos. Para os otimistas a Índia atingiu, uma vez mais, o santo graal das economias emergentes: o crescimento “como a China”.
A Índia já passou por isto antes, claro. Tal como dezenas de outros países, do Brasil à Turquia ou até ao minúsculo Sri Lanka. Num ponto ou noutro todos publicaram taxas de crescimento acima dos 8%, conduzindo a previsões de descolagem como a que alimentou a China durante mais de três décadas. Na maioria dos casos esses sonhos fracassaram num par de anos: fundamentos fracos, exuberância irracional dos investidores e, em alguns casos, quebras de créditos ou de produtos que rapidamente perfuraram as fantasias de domínio global. De forma contrastante, enquanto a sua economia começou a abrandar – a China cresceu uma média de 8,5% nos últimos cinco anos. O seu coeficiente de Gini, indicador que mede a disparidade entre a riqueza e a pobreza da nação, melhorou para cada um dos elementos.
Ironicamente, alcançar um crescimento como o da China é muitas vezes o caminho certo para perdê-lo. Os líderes são vítimas de arrogância e complacência, promovendo os fatores que supostamente garantem uma estadia de longo prazo no topo: população jovem, recursos abundantes e o carinho inabalável de investidores. O excesso de confiança promove uma politica má e flutuante. Durante o seu primeiro mandato, o anterior governo liderado pelo Congresso da Índia também alcançou um crescimento de 8%. Durante o segundo, focou-se na partilha de riqueza através de grandes programas de transferência em vez de abrir a Índia a investimento estrangeiro, reduzindo a burocracia e desregulamentando indústrias fossilizadas. O crescimento, de acordo com fórmulas antigas, deslizou para abaixo de 5%.
Os funcionários públicos de Nova Deli a Manila deveriam aprender com a China não apenas como alcançar um crescimento forte mas, mais importante, como sustentá-lo.
A economia chinesa também enfrenta enormes desafios, claro. O Presidente Xi Jinping deverá mudar os motores do crescimento para longe das exportações e o investimento excessivo para os serviços, bem como limpar a notoriamente corrupta máquina politica de Pequim. Contudo a China tem conduzido de forma certa muitos dos elementos essenciais para elevar a qualidade do crescimento, entre os quais: manter um superávit em conta corrente, superar a inflação, aumentar a produtividade e dominar a politica.
A China revela, por exemplo, que é melhor para uma economia emergente ser um exportador líquido de capital. O défice crónico da Índia quase arrastou a economia para o despertar de uma crise da dívida em 2013. Um conjunto mais equilibrado das contas do governo protegeria a economia da turbulência do mercado caso a Europa entre em queda ou o aumento da taxa da Reserva Federal alarme os investidores. Além disso, ao mover o excedente para ativos financeiros das nações desenvolvidas, a China irá ajudar a baixar as taxas de juros de Washington a Frankfurt e a potenciar a capacidade dos consumidores ocidentais para comprar mais produtos chineses e criar mais emprego na China.
A Índia terá que fazer melhor para atacar a inflação que permanece seis vezes superior à taxa de 0,8% da China.
Uma inflação crónica significa custos mais elevados de financiamento, reduzida eficiência económica e maiores dificuldades para os mais pobres da nação. A grande parte da pressão sobre os preços da Índia deriva do lado da oferta, que limita a capacidade de Rajan para baixar as taxas. Cabe ao primeiro-ministro Narendra Modi atacar a corrupção, a ineficiência burocrática, a sobreposição de regimes fiscais e as infraestruturas em ruínas que acorrentam a Índia com elevados custos – mesmo que a maioria das outras nações da região se preocupem com a ameaça de deflação. A simples integração dos labirínticos mercados de alimentos da Índia iria contribuir para a melhoria de vida de centenas de milhões de famílias em dificuldades.
O aumento da produtividade tanto ajudaria a baixar a inflação como a melhorar a posição da Índia como um hub da capacidade de produção. Em 2014 a população em idade ativa da Índia correspondia a mais de 800 milhões – análoga à China em 1993. As estimativas preveem o seu aumento em cerca de 200 milhões ao longo das próximas duas décadas. Contudo, o piso industrial da China é cerca de 1,6 vezes mais produtivo do que o da Índia. Modi precisa de aumentar os investimentos na educação e em nova tecnologia e de remodelar leis de trabalho arcaicas se a Índia pretender diminuir essa diferença. Caso contrario, o pais irá reduzir o investimento estrangeiro e falhar na criação de empregos decentes para todos os novos trabalhadores.
Finalmente, embora eu não me junte àqueles que pensam que a Índia beneficiaria de um sistema politico mais autoritário, como a China, maior clareza e previsibilidade do governo ajudariam o pitch de Modi. As decisões politicas dispersas do governo, ao longo da última década – impondo impostos com retroativos a empresas estrangeiras, fugindo a um acordo com a Organização Mundial do Comercio, falhando repetidamente na implementação de reformas – continuarão a pairar sobre a economia em 2015. Até que estejam convencidos de que as reformas de Modi irão manter-se, os investidores irão hesitar em apostar na Índia.
Na verdade, até mesmo como o burocrata de topo do Ministério das Estatísticas da Índia observou, os novos valores não alteram a subjacente realidade económica da Índia. A posição fiscal do governo permanece tensa; as empresas estão demasiado endividadas para investir; os bancos estão sobrecarregados com maus empréstimos. Nenhuma nação pode mudar o seu caminho para a órbita da China. Se a Índia quer replicar o sucesso chinês, terá que agir mais como a China.