A economia dos heróis fora-da-lei
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A ideia de tirar dos ricos e dar aos pobres, estilo Robin Hood, tem muitos adeptos entre os estudiosos de economia. Mas, sendo os benefícios sociais inquestionáveis, serão os benefícios económicos tão absolutos como aparentam?

Num mundo de desigualdade o ladrão que luta pela igualdade é uma personagem atraente. Do Robin Hood de Inglaterra ao Jesse James da América e Pancho Villa do México, muitos países tiveram os seus corajosos bandidos que tiram aos ricos para dar aos pobres.

A economia, com os pés assentes na terra, parece apoiar a sua causa: considerando que os indivíduos com maior capacidade financeira tendem a poupar mais desviar o rendimento para as pessoas sem dinheiro – que o irão gastar imediatamente – deverá impulsionar o consumo e o PIB. O cálculo eleitoral da redistribuição parece favorável também. Os mais ricos são poucos em número logo a ideia de tributar as suas mansões provavelmente irá ganhar mais votos do que perder. Mas aqueles que gostam de tributar os ricos devem ter cuidado: tais políticas, mal concebidas, podem fazer mais mal do que bem.

A ideia de que a redistribuição poderá ajudar a estimular o crescimento há muito que tem atraído adeptos. Em 1920, Arthur Cecil Pigou argumentou que que uma transferência anual de recursos dos “relativamente ricos para os relativamente pobres” aumentaria o produto nacional. Pigou discutiu três utilizações para o rendimento: consumo ou investimento pelos ricos e consumo pelos pobres. Alterar o poder de compra dos pobres pouco afetaria os gastos dos mais ricos. O resultado de tirar aos ricos, com diminuição do investimento, seria compensado pela compra de melhores alimentos, vestuário e educação para os pobres. A redistribuição aumentaria o produto.

O argumento de Pigou reside na ideia de que as famílias pobres gastariam mais se tivessem os meios e que os ricos seriam capazes de suavizar o consumo se de repente perdessem rendimento. Para investigar esta suposição, Greg Kaplan e Justin Weidner da Universidade de Princeton e Giovanni Violante da Universidade de Nova Iorque utilizaram grandes conjuntos de dados macroeconómicos para pintar o retrato do rendimento familiar e da riqueza em oito economias avançadas. Para cada agregado familiar consideraram o rendimento proveniente de salários, donativos públicos e transferências privadas como pensões de alimentos. Mediram também a riqueza líquida: dinheiro nas contas bancárias, juntamente com títulos e ações diretamente detidas e passíveis de serem rapidamente vendidas. Os investigadores procuravam famílias que não detivessem a proteção de ativos líquidos (ou facilidades de crédito) para compensar mudanças em termos de rendimento no curto-prazo. Este grupo, cujo consumo se altera na medida em que o rendimento se altera, são aqueles que vivem “com uma mão à frente e outra atrás” e seriam suscetíveis de gastar mais a partir de ganhos inesperados.

Mas o termo “uma mão à frente e outra atrás” não é tão simples como parece. Os dados mostram que a média americana detém alguma riqueza líquida em depósitos bancários, bem como riqueza ilíquida (contas de poupança reforma, casas e dívida hipotecária líquida) mas dificilmente quaisquer ações ou obrigações. Surpreendentemente, embora cerca de 30% dos agregados familiares vivam de salário a salário, dois terços destes detêm uma considerável riqueza líquida. Não se encaixam perfeitamente na bifurcação ricos-pobres de Robin Hood – o seu dinheiro mal cobre despesas – mas detêm grandes ativos ilíquidos.

As dívidas com a habitação são uma das razões pela qual as pessoas acabam sem dinheiro. Se nos concentrarmos nas residências americanas, os investigadores descobriram que daqueles que vivem com hipotecas somente 20% vive com uma mão à frente e outra atrás. Mas uma vez que a dívida se aproxima do valor da casa um número muito superior – perto de 50% - vive com restrições de rendimento. A idade é também um fator. Embora a probabilidade de pobreza real tenda a cair com a idade, considerando que os trabalhadores vão construindo proteções ao longo da vida, as hipóteses de serem ricos mas com pouco dinheiro chegam ao pico por volta dos 40 anos.

Estes resultados são importantes pois o défice de fundos afeta o comportamento. Utilizando outro conjunto de dados que rastreou 5.000 agregados familiares norte-americanos os investigadores mediram a reação a choques de rendimento no curto-prazo entre 1999 e 2011. Os resultados confirmam o palpite de Pigou. Aqueles com riqueza líquida gastam apenas 13% de ganhos inesperados; os que se encontram a viver com uma mão à frente e outra atrás gastam 24%. Os mais ricos-mas-com-restrições-de-rendimento reagem mais, gastando 30% de ganhos inesperados, sugerindo que se encontram ainda mais sem fundos.

Isso bate com um estudo realizado por James Cloyne, do Banco de Inglaterra, e Paolo Surico, da London Business School, que constatou que os britânicos com grandes dívidas imobiliárias reagem drasticamente quando os impostos são elevados ou cortados. Por outras palavras, taxar aqueles com grandes ativos ilíquidos poderá causar mais uma queda no consumo do que o esperado anteriormente.

Envelhecer de forma conservadora

Se os políticos precisam de fazer distinções mais subtis entre ricos e pobres também não deverão assumir que os cidadãos com dificuldades financeiras irão apoiar a redistribuição. Num documento de trabalho, Vivekinan Ashok e Ebonya Washington da Universidade de Yale e Ilyana Kuziemko da Universidade de Princeton explicam que o apoio à redistribuição deveria, em teoria, aumentar à medida que os ganhos de um trabalhador se situam aquém do rendimento médio de um pais. No entanto, as atitudes americanas têm mostrado o padrão oposto: o apoio à redistribuição manteve-se estável ou caiu à medida que a desigualdade aumentou.

Muito disto deve-se à idade. Aqueles abaixo dos 40 anos seguem o modelo esperado: apoiam o aumento da redistribuição em linha com a desigualdade. Aqueles com mais de 65 anos são diferentes, talvez por serem menos na categoria de mais pobres. Na década de 70, quando se iniciaram os inquéritos, eram mais favoráveis à redistribuição do que o resto da população. Em meados da década de 2000 eram muito menos favoráveis, temendo que a ajuda aos pobres representasse cortes em benefícios na saúde.

Aqueles que giram os discos fiscais devem meditar sobre estes resultados. Os mesmos sugerem que os benefícios de um pacote de estímulo fiscal seriam menores se o alvo for baseado no rendimento: a generosidade de curto-prazo deveria também ser dirigida aos ricos. Isto significa, também que a redistribuição de ricos para pobres poderá não ser uma aposta única: em particular, as taxas sobre os mais ricos deverão ser progressivamente lentas para que os mesmos possam liquidar os seus ativos em vez de cortarem no consumo. E os políticos a apostar nas suas credenciais de Robin Hood deverão ser cautelosos com os eleitores mais velhos. Eles poderão estar mais inclinados para apoiar o xerife de Nottingham.

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