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A tendência deste mês para uma ligeira recuperação do preço do petróleo está a levar muitos investidores a investir nessa matéria-prima. Mas cuidado: espera-se que a oferta cresça mais do que a procura.

Quem aposta na recuperação do preço do petróleo como forma de investimento deve ter cuidado: a menos que a procura aumente, a recuperação poderá ficar em perigo.

Os presságios não são bons. O governo americano prevê que o consumo global vai ser menos de metade da taxa de 2010, altura em que o mundo estava a sair de uma anterior recessão. Segundo a Royal Dutch Shell plc, o maior produtor de energia da Europa, esse consumo é insuficiente para colmatar o facto de que há um aumento de oferta.

Na última vez que o mercado do petróleo caiu, durante a crise financeira de 2008, o apetite da China pelo produto parecia insaciável, provocando assim um aumento dos preços. Agora, a utilização de combustível por parte da população chinesa está a crescer a metade dos valores da década passada, e à medida que os preços aumentam, o deslize da produção de xisto dos EUA poderia retroceder, abafando assim os lucros.

“A recente recuperação parece ser derivada por investidores a tentar conseguir chegar ao ponto mais baixo do mercado e pela expectativa de que a produção de petróleo dos EUA atingiu um ponto de viragem”, diz Harry Tchilinguirian, diretor da estratégia de mercados de produtos de base da BNP Paribas SA sediada em Londres. “No entanto, os fundamentos económicos, particularmente nos EUA, não mudaram assim muito”.

O petróleo bruto West Texas Intermediate, o petróleo de referência dos EUA, teve um aumento de mais de $17 por barril a 17 de março depois de um decréscimo de $43,46. A WTI acrescentou à distribuição de junho 63 cêntimos ao valor de $61,38 por barril no comércio eletrónico New York Mercantile Exchange às 6:09 da manhã locais.

Procura lenta

A Administração da Informação sobre Energia informou na terça-feira passada que a procura global por petróleo irá crescer apenas de 1,3 milhões de barris por dia para 94,58 milhões no próximo ano. Em 2010 deu um salto de 2,89 milhões após a queda de preços anterior.

Nos EUA, o consumo irá crescer no próximo ano 0,4% para 19,44 milhões de barris por dia, deixando a procura a um nível mais baixo do que em 2008.

“Existem alguns recursos financeiros fortes, contudo, os dias em que se viu uma procura por petróleo maior que 1,5% num ano muito provavelmente já passaram à história”, afirmou Michael D. Cohen, um analista na Barclays Plc em Nova Iorque.

Simon Henry, diretor financeiro da Shell, disse no dia 30 de abril numa teleconferência que o aumento do consumo não chega para colmatar a lacuna que existe com o fornecimento. “Durante algum tempo, a provisão será potencialmente um pouco maior.”

Consumo chinês

A procura de combustível por parte da China irá crescer 3,1% no próximo ano, ou seja, 11,34 milhões de barris por dia, segundo o EIA (Administração de Informação sobre Energia). Essa percentagem é comparável ao salto de 11% em 2010 que ajudou os preços do petróleo bruto a aumentar de valor por 15%. Nos últimos 10 anos, o crescimento anual tem sido, em média, 5,2%.

O Fundo Monetário Internacional previu no mês passado que a economia chinesa irá expandir-se por 6,8% este ano. Tal expansão representa o passo mais lento dessa economia desde 2008.

“A economia chinesa está a vacilar e o governo está a fazer tudo por tudo para a manter em crescimento”, afirmou por telefone John Kilduf, um sócio da Again Capital LLC, uma empresa de fundos de cobertura com sede em Nova Iorque focada na área da energia. “Se as intervenções não funcionarem como esperado, a economia vai abrandar muito mais e com isso, vai fazer diminuir a procura por petróleo.”

Segundo a Goldman Sachs Group Inc., a produção global de petróleo irá crescer 1,7%, o que se traduz como 95,1 milhões de barris por dia, enquanto a procura irá aumentar apenas 1,5%, ou seja, 93,5 milhões.

Um mercado excedentário

“Apesar desta perceção de melhoria dos fundamentos económicos, o nosso abastecimento atual e o equilíbrio de procura apontam ainda para um mercado excedentário em 2015,” disseram alguns analistas da Goldman, incluindo Jeffrey Currie num relatório enviado por email a 11 de maio.

“Embora os preços baixos tenham acelerado o reequilíbrio do mercado, a recuperação é vista como sendo prematura.”

Adam Sieminski, administrador da EIA disse na terça-feira passada que a queda nos preços do petróleo desde o verão passado está a impulsionar a perspetiva da procura. A EIA referiu ainda que a produção global em 2015 e 2016 será ainda mais do que o consumo. Esse facto irá aumentar os inventários na primeira metade do ano para 1,8 milhões de barris por dia e 900.000 na segunda metade.

A produção de petróleo dos EUA irá crescer até 2020, aumentando 14% a partir deste ano, de acordo com o Annual Energy Outlook da EIA. A procura por petróleo vai ganhar menos de 3% no mesmo período.

Morgan Stanley afirmou que o recorde de queda nas plataformas de perfuração nos EUA deverá começar este mês, com os operadores já a recomeçar operações em partes da Eagle Ford e Permian no Texas. Segundo a Baker Hughes Inc, o número de sondas de perfuração desceu para 668 na semana que terminou a 8 de maio, o número mais baixo desde 2010.

A EIA prevê que a produção mensal americana irá descer no terceiro trimestre, mas que irá aumentar novamente nos últimos três meses deste ano.

“Vamos assistir a alguma recuperação na procura graças aos preços baixos a longo prazo, no entanto, a procura não vai aumentar ao mesmo nível que a oferta” disse Michael Lynch, presidente da Strategic Energy & Economic Research em Winchester, Massachusetts.

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