O ataque ao dinheiro
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Há uma propensão generalizada por parte dos governos e do sistema bancário internacional para evoluir para uma economia sem dinheiro físico. Quais serão as condicionantes dessa transição?

Fiquei um pouco surpreendido com o nível relativamente baixo de resistência à propensão dos governos e do sistema bancário de evoluir rapidamente para uma sociedade sem dinheiro físico.

Quando olho para as secções de comentários de blogs e de sites de notícias, as principais respostas que encontro em relação aos receios é de que os EUA vão referir-se às palavras na nossa moeda e dizer que é uma “proposta lícita”, como se isso impedisse o seguimento daquilo que se tornou numa iniciativa global em muitos países.

Já a seguir está uma lista das razões que eu consegui encontrar para justificar porque deveríamos avançar para uma sociedade sem dinheiro físico. Estas razões são da autoria de vários países, e nem todas são dadas pelo mesmo.

Razões mencionadas

  • Luta contra o terrorismo
  • Evasão fiscal
  • Mercado negro
  • Custos de produção de dinheiro
  • Melhorar a notação de risco do país (Uruguai)
  • Encorajar a economia paralela
  • Branqueamento de capitais
  • Redução de assaltos à mão armada
  • Falsificação

Sem grandes surpresas, o maior enfâse é dado à temática do terrorismo, já que poucas pessoas estão dispostas a discutir de forma lógica sobre esse assunto devido ao elevado uso de retórica para fomentar emoções e em fazer os opositores da ideia da eliminação do dinheiro físico parecerem fracos em relação à temática ou, nalguns casos, até mesmo solidários para com ele.

Tendo isso em conta, quero analisar as implicações de se remover o dinheiro físico como meio de se realizar transações e de como os investidores as poderiam fazer então.

Transferir capital para uma conta de exploração

No que toca a um investidor, acho que é necessário tomar-se medidas para limitar o potencial de sermos sinalizados por violação nos EUA se transferirmos dinheiro para as nossas contas de corretagem para realizar uma compra.

Imagine ficar com o seu dinheiro congelado e durante um longo período de tempo não poder fazer negócios com esse capital. Teríamos de transferir mais de $10.000, o que não deveria ser um problema para nós, visto que é exigido que os bancos relatem isso às autoridades e não deve ser considerado muito arriscado.

O governo tem estado atento é àqueles que possam fazer transferências de quantias abaixo dos $10.000, o que pode ser assumido como uma pessoa ou empresa estar a tentar contornar a exigência de relato dos $10.000. Esses casos despertam mais a atenção por parte das autoridades do que os que transferem mais de $10.000.

Outro fator é a transferência de mais do que uma fonte de rendimento na sua conta em intervalos escalonados, que somados, fazem mais do que $10.000. Se o fizer, é muito provável que atraia as autoridades e seja alvo de uma investigação, por isso é algo que, se possível, deve evitar.

Não temos de esperar por uma economia totalmente isenta de dinheiro físico nos EUA, já que é uma condição sob a qual nos regemos atualmente. Mas à medida que nos aproximamos dessa probabilidade, e se ela entrar de facto em vigor, tudo isto irá intensificar mais e teremos de ser muito cautelosos ao transferir qualquer quantia, especialmente capitais de investimento que planeamos utilizar num futuro próximo. É horrível pensar não só numa grande oportunidade de negócio perdida, como também ficar com o nosso capital retido durante um longo período de tempo sem que o possamos reaver tão cedo.

Se possível, a melhor coisa a fazer é ou transferir mais de $10.000 para as nossas contas, ou se formos realizar um negócio a um valor mais baixo, transferir a quantia em porções mais pequenas. A última hipótese poderá ser eficaz se acrescentar menos que $10.000. Se a quantia que quer transferir em porções mais pequenas no final der uma quantia superior a $10.000, seria o maior erro que cometia.

Supondo que vive fora dos EUA e tem contas bancárias noutros países, deve verificar cuidadosamente o que se está a passar em relação ao dinheiro e como são efetuadas as transferências financeiras digitais. Isto é algo que se vai alastrar por todo o mundo e por isso deve ser bem controlado para nos protegermos em termos financeiros.

Implicações nos investimentos

Quanto ao modo de agir caso isto se torne efetivo, não é muito difícil de ver quais os setores que vão beneficiar mais com esta evolução de economia totalmente isenta de dinheiro físoc e de capital predominantemente digital.

Os mais óbvios que consigo ver são as transações com cartões de débito, uma vez que estas iriam disparar já que deixaria de haver outra alternativa de se fazer negócio. O que significa que a MasterCard (NYSE:MA) e a Visa (NYSE:V) veriam um autêntico aumento de rendimento e de ganhos com isso, assim como os bancos. Quanto maiores fossem os bancos, obviamente que maior seria o número de transações a acontecer e consequentemente mais rentável este impacto seria para eles. O que contaria é o número de consumidores e de contas de pequenas empresas.

Atualmente é impossível prever isso, no entanto, se contemplarmos todas as vendas de garagem ou objetos usados que há por aí mais o número enorme de pessoas que vendem bens em feiras-da-ladra e outros eventos, o número de transações com cartões de débito ou de crédito iriam explodir.

Isso leva a outra área de crescimento, que seriam empresas como a Amazon (NASDAQ: AMAZN), que criou recentemente um serviço de leitor de cartões que recebe uma pequena parte de cada transação. Também há outras empresas que oferecem serviços semelhantes. Quanto a mim não há dúvidas de que um crescente número de pessoas seguirá por esta via para estar em conformidade com uma economia cada vez mais digital e menos com dinheiro físico e, claro, se isso se tornar lei, esse número será forçado a tal.

Não existem indicações de que os cheques serão eliminados, por isso vale a pena olhar para as empresas que os fornecem, uma vez que poderão haver mais pessoas a passá-los se tiverem de decidir entre essa forma de pagamento ou os seus cartões de débito ou crédito.

Entre os fatores negativos, está por exemplo a Coinstar da Outerwall (NASDAQ: OUTR) caso não tenha mais utilização no futuro. Isso seria a gota para a empresa já em dificuldades. Quanto custaria não só em termos de rendimento, como também em termos de necessidade de retirar todas as máquinas do local onde elas se encontram?

A questão é que todo o tipo de serviço que exija a utilização de moedas ficaria sobre grande pressão, pois seria necessário que todos fossem remodelados de maneira a estarem em conformidade com as novas leis, o que significa ter de se incluir um local para se utilizar qualquer tipo de plástico para o produto. Que empresas teriam os materiais necessários para fazer isso?

Os investidores também deviam pensar em termos de quem fornece certos produtos que servem os negócios sem dinheiro físico. Quem fabrica as caixas que guardam os cheques? São empresas cotadas na bolsa ou não?

Sei que se calhar estou a antecipar-me demais, no entanto, se de facto estivermos a caminhar para uma economia sem dinheiro físico, estas serão as perguntas que precisam de ser respondidas e todos os que já tiverem respostas a elas podem safar-se muito bem na nova economia antes de os investidores menos atentos a percebam melhor.

Outras possibilidades

Tendo em conta a rapidez com a qual os outros países estão a aplicar uma série de restrições ao dinheiro físico, chega a tornar-se difícil acompanhar tudo o que está a acontecer e prever quais os eventuais efeitos adversos. Contudo, a França tem implementado algumas medidas firmes que valem a pena serem vistas caso se espalhem por outras partes do mundo.

A França não só vai instituir novas leis que proíbem os pagamentos em dinheiro vivo que ultrapassem os 1.000 euros (uma descida dos 3.000 euros), como também irá tornar obrigatório que os bancos relatem à sua agência antifraude e de branqueamento de capitais – a Tracfin – quaisquer depósitos ou levantamentos que ultrapassem os 10.000 euros por mês. É também de interesse o facto de o país não permitir que nenhum indivíduo faça conversões de capital de uma quantia acima dos 1.000 euros sem que possua um cartão que confirme e revele a sua identidade. No mínimo, o que tudo isto quer dizer é que os investidores assim como as outras pessoas terão de aprender a funcionar com uma visão a longo prazo para ter as coisas prontas quando querem utilizar o seu capital, uma vez que muitas das regras e dos regulamentos vão criar mais obstáculos para se fazer negócios e tornar as coisas menos fluídas quando forem introduzidas.

Tendo em conta que tudo está ainda em evolução, é impossível saber como as coisas irão funcionar numa base de país para país, todavia vai ficar cada vez pior. Teremos de tomar decisões e implementar estratégias baseadas na realidade.

E quanto a utilizar-se metal como dinheiro?

Não há dúvida de que muitos investidores vão começar a pensar em alternativas para as moedas, o que sugere que haverá um maior desejo em comprar moedas em ouro e prata para utilizá-las ao realizar algum negócio, ou pelo menos para proteger alguns ativos.

Para isso será necessário um depósito a nível internacional para impedir que algum país bloqueie ou proíba o movimento e utilização de moedas em ouro ou prata. Temos de começar a pensar mais como se estes termos se tornarem efetivos, já que a direção que os governos em todo o mundo querem tomar em relação ao dinheiro físico já não é ambígua. Está até a acontecer mais rápido do que aquilo que eu pensava que poderia acontecer.

Algo que se deve ter em conta em relação ao depósito é que não é algo que seja gratuito de se fazer. No passado, houve empresas que ofereceram serviços de depósitos de metais preciosos de graça, se bem que eu me manteria longe delas, pois há sempre qualquer coisa errada com um modelo empresarial que não cria lucro. É melhor encontrar instalações de depósito que cobrem pelo serviço, pois no mínimo sugerem que são legais.

Taxas bancárias negativas e acesso ao capital

A Suíça é o exemplo nacional mais recente do que podemos esperar no futuro, pois instaurou taxas bancárias negativas quando os fundos de pensões tentaram retirar dinheiro porque custava muito menos depositá-lo noutro lugar do que mantê-lo no banco, o país impôs limites que nunca existiram antes com o intuito de impedi-los de iniciar e inspirar uma corrida desenfreada aos bancos que poderia paralisar os grandes bancos.

Devemos esperar que este tipo de ações eventualmente se espalhem através de fronteiras nacionais no futuro. O que significa que teremos de seguir de perto os acordos entre os países ao decidir onde queremos guardar os nossos ativos, que se forem suficientemente significativos devem estar diversificados por vários países.

Conclusão

Esta crescente oposição ao dinheiro físico é o início daquilo que serão circunstâncias problemáticas para os investidores num futuro próximo.

Podemos vir a ser alvo de investigações por motivos tão simples como receber dividendos trimestralmente ou mensalmente, o que pode dar a parecer aos olhos das agências reguladoras destes assuntos que algo de errado se está a passar.

Qualquer bem ou serviço de valor elevado em que seja preciso dinheiro físico pode ser considerado razão para congelar uma conta ou confiscar o nosso capital se tentarmos levantá-lo.

Pense bem nisto. Atualmente possuir algum dinheiro ou capital e levantá-lo é considerado atividade suspeita.

Tal como anteriormente mencionado, haverão várias formas de se agir à medida que isto se for desvendando – e irá de certeza desvendar-se em breve. A segunda coisa a considerar é em preservar a nossa riqueza, o que torna provável termos de ter os olhos postos no ouro e prata físicos e possivelmente terras, juntamente com a porção que mantemos no mercado de ações.

Estes devem estar domiciliados em diversos países que aparentem ser resistentes ou pelo menos incorporar estas medidas numa base mais limitada.

Esteja atento à rápida evolução das economias sem dinheiro físico em vários países, e depois foque-se primeiro nas instituições emissoras de cartões como a MasterCard e a Visa como forma de agir nesta tendência em rápido crescimento. Veja também formas de encurtá-la, tal como a anteriormente mencionada Outerwall, quando parecer que as notas e moedas estão mesmo a deixar de ser utilizadas de forma permanente.

Há várias formas de se jogar este jogo à medida que isto se vai desvendando, mas estas são apenas algumas ideias para o pôr a pensar sobre o que pode ser feito para beneficiar disso ao mesmo tempo que protege a sua riqueza.

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