Como seria a Europa sem o euro?
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Analisamos o impacto da moeda única e especulamos sobre como seria se ela nunca tivesse sido introduzida.

Como seria a Europa se o euro nunca tivesse nascido? Ao contrário do que aconteceu a George Bailey no clássico de 1946 “Do Céu Caiu uma Estrela”, não temos a possibilidade de voltar atrás no tempo para descobrir.

No filme, George, um homem bondoso mas com tendências suicidas, é levado pelo seu anjo da guarda para ver como o mundo seria se ele nunca tivesse existido. A cidade onde George cresceu e da qual nunca conseguiu sair fica irreconhecível. Em vez da idílica Bedford Falls, depara-se com a violenta e assolada pelo crime Pottersville.

Depois da experiência, George descobriu que a sua existência fez a diferença para o melhor.

Tal como a personagem George, o euro também deve ter feito alguma diferença. No entanto, a zona euro parece-se muito mais com a disfuncional Pottersville do que a Bedford Falls cumpridora da lei. Ainda se encontra em risco de perder a Grécia e embora a maioria dos outros países comecem a demonstrar sinais de crescimento após anos de recessão, foi graças às taxas de juro muito baixas, ao fraco euro e aos preços do petróleo extremamente baixos.

Os níveis de desemprego continuam altos em muitos países e a reputação da União Europeia tem sido prejudicada – mesmo em países responsáveis pelo seu desenvolvimento como por exemplo, a França.

“Ninguém pode dizer ao certo como é que a Europa teria evoluído se não existisse o euro”, afirmou Jean Pisani-Ferry, diretor do departamento de formulação de políticas do governo francês num artigo para o Project Syndicate, um site que publica opiniões. “Nos últimos 15 anos, o desempenho económico da zona euro foi desapontante e o seu sistema político tem de dar satisfações.”

“Ninguém pode dizer ao certo como é que a Europa teria evoluído se não existisse o euro”, afirmou Jean Pisani-Ferry, diretor do departamento de formulação de políticas do governo francês num artigo para o Project Syndicate, um site que publica opiniões. “Nos últimos 15 anos, o desempenho económico da zona euro foi desapontante e o seu sistema político tem de dar satisfações.”

Para quê o euro foi criado

Embora a criação do euro tenha sido, por um lado, um projeto político – para satisfazer os desejos de uma geração pós-Segunda Guerra Mundial de unificar um continente outrora devastado pela guerra – também foi motivada por imensos argumentos económicos, muitos dos quais eram reflexos dos receios alemães.

Por um lado, depois do último colapso do sistema das taxas de juro fixas de Bretton Woods no início dos anos 70, muita gente na Alemanha e até noutros países não confiava nas taxas de juro flexíveis, que eram vistas como sendo demasiado voláteis e imprevisíveis para comercializar. “Taxas de juro flutuantes não eram aceitáveis”, disse Pisani-Ferry numa entrevista.

Foi discutido que o mercado único europeu de bens e serviços seria eventualmente ameaçado e possivelmente destruído – e a indústria alemã danificada – por repetidas desvalorizações competitivas de países como a Itália, a Espanha e o Reino Unido. No entanto, enquanto a Espanha e a Itália não desvalorizaram a sua moeda desde os anos 90, o Reino Unido manteve uma taxa de juros flexível – sem que isso tenha ameaçado aparentemente (pelo menos até agora), o mercado único.

O euro pode muito bem ter tido êxito em evitar as taxas de juros flexíveis na Europa. Isso porque o anterior regime fiscal dominado pela Alemanha muito provavelmente não teria sobrevivido aos acontecimentos da década passada e para as outras economias europeias teria sido impossível viver segundo o rigor anti-inflacionário do banco central alemão.

O euro também foi visto como a respostas aos receios da Alemanha da “internacionalização” do marco alemão e das consequências do marco se tornar numa moeda de reserva como uma alternativa ao dólar americano. Embora fosse a maior da Europa, a economia alemã teria sido demasiado pequena para lidar com os enormes influxos do pagamento internacional, que teria inundado os mercados financeiros alemães, provavelmente levando a uma enorme sobrevalorização do marco alemão, que por sua vez teria devastado os exportadores do país. Quanto a isso, a moeda comum tem sido um sucesso: o euro assumiu o estatuto de moeda de reserva internacional – segundo os últimos dados do Banco Central Europeu, o euro constitui 22% das reservas de divisas oficiais globais, relativamente aos 63% do dólar. Contudo, a economia muito maior da zona euro tem sido muito melhor a absorver estes influxos do que a Alemanha sozinha teria sido.

Estas não foram as únicas questões económicas que levaram à criação do euro, todavia, foram os receios político-económicos alemães os principais motivos. Parece que a economia alemã foi a que mais beneficiou, incluindo por ter evitado a volatilidade da moeda e a sobrevalorização. O que não significa que a Alemanha não vá sofrer algumas perdas no sustentamento da moeda comum – especialmente nas possíveis perdas no seu empréstimo de resgate à Grécia.

De facto, do ponto de vantagem de 2015, o euro parece a solução que vai acabar por ser mais dispendiosa do que os problemas para os quais foi criado. E esta não é a primeira vez. “A principal responsabilidade dos desastres deste século não está tanto nos problemas como nas soluções”, concluiu o historiador e poeta Robert Conquest, que faleceu na semana passada, depois de escrever a história da União Soviética.

No entanto, depois de se criar a moeda comum, eliminá-la talvez provoque ainda mais problemas. Uma vez construída a Pottersville, é difícil voltar a Bedford Falls.

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