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O que se segue para a economia global depois das dificuldades do mercado chinês?

Tem sido um mês difícil para os investidores. Como tem sido repetido até à exaustão, biliões de dólares desapareceram dos mercados globais de ações. E isso deixou muitos a questionar a subjacente saúde da economia mundial e a perguntar o que vem a seguir. No fundo, alguém que se debata com este assunto está realmente a perguntar a si próprio três perguntas inter-relacionadas:

  • Quão agudo é o abrandamento da China?
  • O que acontecerá a seguir às matérias-primas?
  • E quando é que os Estados Unidos aumentaram as taxas de juro?

A direção do mercado de ações da China é muito mais um assunto de terceira ordem - apesar de toda a atenção durante a semana passada.

Importa pouco aos investidores fora da China, visto que a posse estrangeira ainda é muito limitada - exceto talvez como um indicador de sentimentos. Importa apenas um pouco mais aos investidores chineses - que ainda são um subconjunto do povo chinês.

Certamente, as suas rotações desenfreadas não nos contam muito sobre a saúde subjacente da economia chinesa.

Abrandamento da China

Então, no que toca à primeira questão - o quão a China abrandou? O crescimento está seguramente abaixo dos níveis de dois dígitos vistos na última década. Oficialmente a economia está a crescer a uns saudáveis 7% por ano, mas muitos analistas independentes põe o número mais perto dos 5%.

Isto ainda é uma taxa de crescimento saudável para um país num estado de desenvolvimento como a China - e tendo em conta que a economia da China é agora muito maior do que era, 5% em 2015 contribui para uma procura global perto dos 10% de uma economia mais pequena no início do século.

A economia da China iria sempre abrandar, mas para perceber o pânico sobre isto (e pânico é mesmo a palavra correta) um tem que assumir uma de duas coisas:

Ou os investidores não deduziram antes que o crescimento ia mesmo abrandar, ou estão preocupados que o abrandamento seja mais agudo - algo abaixo dos 5%.

A última fase de aversão global ao risco começou com a surprendente decisão chinesa de desvalorizar a sua moeda face ao dólar.

Muitos tomaram isso como um sinal de pânico entre os legisladores chineses - uma tentativa de relançar as exportações e impulsionar o crescimento.

A decisão foi mal comunicada e coincidiu com a estreiteza (e normalmente mais volátil) dos mercados em Agosto.

Mas para o que valha, ocorre-me como uma jogada fundamentalmente sensível de parcialmente separar o renminbi (RMB) de um dólar em ascenção num período onde o dólar provavelmente continuará a crescer e outras moedas asiáticas estão fracas.

Isso não equivale a um abandono do “rebalançamento” chinês longe das exportações e investimento e na direção do consumo, mas como um passo prudente para ter mais controlo da sua própria política monetária do que ficar algemado (através de uma moeda semi-índexada) às decisões tomadas pela Reserva Federal dos Estados Unidos (também conhecido por Fed).

A má produção de dados chinesa na semana passada, reavivou esses medos sobre a extensão do abrandamento, mas outros dados (especialmente de consumo) apontam para um crescimento mais saudável.

Procura fraca de matérias-primas

Se o crescimento está a um ritmo constante de 5%, então a China tem a difícil tarefa de gerir uma transição económica e a estrutura da economia mundial começará a mudar, mas fundamentalmente o crescimento global não está em perigo. Se no entanto, está realmente 3% abaixo ou até 1%, então as recentes quedas do preço de ativo são apenas o começo.

Em segundo lugar, há a questão das matérias-primas - e especialmente do petróleo.

Os preços das matérias-primas estão no nível mais baixo desde 1999. Este é o cerne do debate entre os “deflacionistas” e os “reflacionistas”.

Para alguns, isto é um sinal de que a economia mundial está em apuros - fraca procura das matérias-primas indicando um abrandamento no crescimento.

Mas para outros, isto é apenas a história do lado da oferta - basta olhar para o petróleo, onde a produção dos Estados Unidos disparou.

E matérias-primas mais baratas criam o que pode ser um pensamento contra-intuitivo de “forças desinflacionárias para reflação" - combustível e preços dos alimentos mais baixos aumentam o rendimento disponível do agregado familiar, permitindo que mais dinheiro seja gasto noutros bens. O petróleo barato tem sido o motor de crescimento do Reino Unido e da Europa este ano.

Parece certamente que a decisão da Arábia Saudita em manter os níveis altos de produção o ano passado - visto por muitos como uma tentativa de levar os altos custosos produtores americanos de xisto para fora do mercado - falhou.

O xisto americano tem dois motores. O primeiro foi os preços altos do petróleo o que fez a produção economicamente sustentável - esse motor falhou.

Mas havia um segundo: o fácil acesso ao crédito para manter a liquidez e o crescimento financeiro. E esse motor, apesar de alguns “engasgamentos”, parece ainda funcionar.

Confrontados com preços mais baixos, os produtores americanos estão focados nos seus melhores campos aumentando a sua eficiência.

Se os preços das matérias-primas continuarem baixos então - permanecendo tudo igual - isto é um triunfo para os importadores dos países desenvolvidos e um entrave para os exportadores das economias emergentes.

Taxas de juro

Por fim, há a questão de quando o Fed irá aumentar as taxas de juro. Os mercados têm esperado que isso aconteça em Setembro - mas agora parece menos provável.

A agitação do mercado, o crescimento global mais lento, preços das matérias-primas mais fracos e um dólar mais forte (e consequentemente menos pressão inflacionária) todos dão argumentos àqueles que insistem que o Fed espere.

Por outro lado, ceder não é livre de custos.

Pode aparentar “recompensar” maus comportamentos nos mercados - o Fed tem muitas responsabilidades mas sustentar os preços das ações não é uma delas.

O banco central pode estar relutante em adiar se for visto como uma tentativa para fazer isso mesmo - o que pode encorajar a tomada de riscos excessivos no futuro.

Gerir a transição de taxas perto do zero para uma diretriz mais “normal” iria ser sempre complicado. O Fed (como outros legisladores monetários) tem apostado muito na comunicação - ao tornar claro que as taxas subirão de um modo gradual e controlado para um nível mais baixo do que procurado no passado para gerir as consequências de uma mudança de política.

Adiar agora este aumento pode prejudicar a credibilidade desse esforço de comunicação (tendo sido bem assinalado um aumento em Setembro) e tornar a eventual tarefa mais difícil.

Muitos economistas estão agora a puxar as suas estimativas deste aumento por parte do Fed para Dezembro ou até Março do próximo ano. Muito pode depender de como os mercados se desempenham nas próximas semanas.

Recessão global, improvável

Estas são as três questões reais que a economia global tem pela frente. É fácil ser-se apanhado nas movimentações dos mercados no período de um dia ou em como as moedas e os índices de ações se desempenham numa semana.

Vale sempre a pena recuar e olhar para a situação em geral.

O crescimento do Reino Unido e dos Estados Unidos é relativamente sólido - não é espetacular, mas sólido. A zona euro parece estar a montar uma fraca recuperação - apesar de melhor que noutros anos, apoiada pela agressiva política monetária.

Os baixos preços das matérias-primas são quase inequivocamente uma coisa boa para o mundo desenvolvido.

Mas ao lado dessa imagem saudável para o mundo desenvolvido está uma mais fraca para o mundo emergente.

O crescimento global ainda não voltou aos níveis antes de 2008 e talvez não volte.

O padrão de crescimento global está a mudar. Mas não parece que estejamos na iminência de uma recessão global.

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