Como acabar com a guerra na Síria
Raad Adayleh/AP Photo
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Perceba porque é que a divisão da Síria poderá ser a forma de eliminar os grupos terroristas e conseguir um cessar-fogo.

A crise de refugiados na Europa voltou a focar a atenção nos horrores da guerra na Síria e deve reavivar os esforços diplomáticos para a findar. Mas tais tentativas têm de se mentalizar que há uma realidade inevitável: a divisão da Síria já está a acontecer.

Este é um resultado que nenhum dos lados teria escolhido quando os manifestantes pró-democracia saíram às ruas da Síria em 2011. Mas a esta altura os países envolvidos deviam usar a divisão da Síria como uma base para reconciliar os seus interesses competitivos e quebrar o impasse internacional que alimenta os conflitos.

A agitação dos gestos diplomáticos relacionados com a Síria feitos desde Julho, quando o Irão chegou a um acordo internacional sobre o seu programa nuclear de combustíveis, não originou nada de novo.

  • A Rússia propôs formar uma coligação anti-Estado Islâmico que incluiria o presidente sírio Bashar al-Assad – e que iria ajudar Assad a manter-se o governante da Síria.
  • A Arábia Saudita sugeriu acabar com o apoio aos rebeldes, se o Irão e o Hezbollah retirassem as suas tropas da Síria – o que iria eliminar o apoio de que Assad precisa para continuar. O Irão prometeu uma proposta própria no fim deste mês.
  • Os Estados Unidos continuam a apoiar uma transição de partilha de poder que parece ser inexequível.

A renovada disponibilidade para conversações é bem-vinda, mas tem de ser baseada na realidade: nenhum lado nesta guerra está em posição de ganhar, e qualquer proposta baseada em restaurar o controlo central no país é ilusória.

Uma partição suave poderia enquadrar alguns desses círculos diplomáticos e ajudar a congelar pelo menos parte do conflito. Assad já admitiu que já não consegue controlar grande parte do país, e que em vez disso consolidou as suas forças à volta da terra mãe ainda possível de defender. Os curdos já estabeleceram controlo sobre áreas que dominam, e afastaram o Estado Islâmico.

A situação em áreas controladas pelos sunitas é muito mais complicada, mas não tão desprovida de esperança como às vezes transparece. Uma coligação de rebeldes não-islâmicos apoiada pela Jordânia, Estados Unidos, e outros aliados já se estabeleceu no sul da Síria à custa do regime e da frente Nusra ligada à al-Qaeda.

Apesar de tudo, um acordo para solidificar esta separação suave não iria acabar com a guerra imediatamente, iria simplesmente encurtá-la. Daria às forças exaustas de Assad e àqueles de uma oposição internacional aceitável – que têm suportado o peso da agressão de Assad – uma razão para honrar um cessar-fogo. Isso, por sua vez, tornaria possível que os rebeldes cooperantes depositassem a sua total atenção no reaver de território do Estado Islâmico e da Frente Nusra. Com suficiente encorajo militar, financeiro, e político dos seus patrocinadores, estes guerrilheiros seriam capazes.

Reconhecer a divisão de facto da Síria também permitiria que as potências externas garantissem os seus interesses nucleares.

  • Iria viabilizar uma versão da proposta da Rússia de recentrar a guerra no Estado islâmico, sem se tornar código para uma vitória de Assad.
  • Isso permitiria que as tropas iranianas e do Hezbollah se retirassem, satisfazendo a Arábia Saudita.
  • Também iria tornar mais coerente a política dos Estados Unidos que procura destruir o Estado Islâmico com a ajuda dos rebeldes sunitas – cuja primeira preocupação tem sido lutar contra Assad.

Não se engane: alcançar qualquer tipo de acordo seria extremamente difícil. O conflito na Síria é na sua raiz uma guerra por conveniência que opõe a Rússia e o Irão aos EUA, Turquia e Estados do Golfo – com uma carta em branco imprevisível na forma do Estado Islâmico.

A Rússia está a construir uma nova base aérea no norte da Síria, com vista a lançar os seus próprios ataques aéreos. E no interior do país, qualquer partição formal, continua a ser um conceito tóxico. Até mesmo desenhar linhas para um cessar-fogo seria preocupante, quanto mais resolver qual o lado que controla Aleppo, os subúrbios sunitas de Damasco ou a fronteira com as Colinas de Golã controladas pelos israelitas.

No entanto, mais nada resultou. Durante meses, se não anos, não foi tentado nada de realmente substancial. Enquanto isso, as bombas de barril de Assad continuam a cair sobre os civis sírios, o Estado Islâmico mantém uma base na Síria a partir do qual ameaça o Iraque, a turbulência transborda para o Líbano e Turquia, e os refugiados afogam-se no seu caminho para a Europa.

Reconhecer a realidade de uma Síria dividida seria apenas um primeiro passo. Mas pode ser a única maneira de fazer com que todos os lados comecem a trabalhar para acabar com esta guerra.

Fonte: BloombergView

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