O fim da era dos BRICS
Aleksei Druzhinin/TASS
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O fecho do fundo de investimento do Goldman Sachs dedicado aos BRICS assinala o fim de uma era em que se encarava o futuro desses países com otimismo.

O acrónimo BRIC (para Brasil, Rússia, Índia e China) foi tema de muitas reuniões de alto nível, representou um banco de desenvolvimento e um fundo de resgate de 100 mil milhões de dólares. Mas o Goldman Sachs, o antigo patrocinador mais ativo do investimentos nesses países, decidiu sorrateiramente terminar o seu fundo dedicado aos mesmos e incluir os ativos do mesmo no seu fundo mais abrangente de mercados emergentes.

O Banco declarou o encerramento do seu fundo BRIC à Comissão de Valores Imobiliários (U.S. Securities and Exchange Commission) ainda em setembro, mas a agência Bloomberg reparou nisso apenas neste domingo. O fundo foi fechado por causa do fraco desempenho e consistente atraso dos seus principais indicadores. O valor dos ativos sob gestão do fundo diminuiu do nível máximo de 800 milhões de dólares no final de 2010 para apenas 100 milhões.

Ao fechar o fundo, o banco pôs fim à época em que os quatro países — Brasil, Rússia, Índia e China — pareciam estar a criar uma nova ordem do mundo. O acrônimo BRIC foi inventado por Jim O’Neill, ministro das Finanças do Reino Unido e antigo chefe economista do Goldman Sachs, que notou que o crescimento do PIB real destes quatro países ultrapassava o mesmo indicador dos países desenvolvidos do Grupo dos Sete. Daí a cinco anos foi criado um fundo especial dos BRIC que investia pelo menos 80% dos seus ativos nestes países.

No entanto, não ocorreu o esperado milagre e os mercados de ações permaneceram muito voláteis, enquanto a transferência do poder económico e político para os países em desenvolvimento que era esperada há muito tempo ainda não chegou realmente a ocorrer. Segundo as últimas previsões do Fundo Monetário Internacional, a economia do Brasil abrandou neste ano 3% e a da Rússia que está a sofrer com a queda dos preços das matérias-primas e as consequências das sanções internacionais diminuiu 3,8%.

Entretanto, apesar da China estar ainda relatar dados económicos entusiasmantes, muitas pessoas duvido dos mesmos. Perguntam-se como é que é possível que a economia que durante os últimos meses passou por uma queda das importações de quase 20% pode estar a crescer cerca de 7% ao ano. Em comparação com outros países do bloco, a Índia ainda é um ‘’porto seguro’’, pois o crescimento do PIB no país não parece ser muito diferente dos 7,3% do ano passado.

O grupo BRICS, ampliado para cinco membros em 2010 com a adesão da África do Sul, constitui uma força geopolítica importante. Em 2012, durante a quarta cimeira dos BRICS na África do Sul, os países-membros apresentaram um plano de criação do banco de desenvolvimento que seria um concorrente ao Banco Mundial e FMI geridos nos EUA e na Europa, e no ano passado no Brasil foi promovida a ideia de criar um fundo de reserva que pudesse ajudar os países do bloco a efetuar pagamentos de empréstimos internacionais. Porém, cada vez mais analistas chegam à conclusão de que os interesses contraditórios dos membros do bloco, bem como as diferenças políticas, sociais e culturais não vão deixar o bloco transformar a sua força económica em influência política no cenário global.

"A união está mais focada na retórica do que nas ações concretas", escreveu Carl Meacham, o diretor do programa das Américas da instituição de pesquisa de Washington. "A falta de êxitos económicos significantes é um mau sinal para o bloco".

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