Deverão os mercados ter medo da geopolítica?
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Apesar dos riscos geopolíticos os mercados têm permanecido calmos. Será que a tendência se irá manter quando a Reserva Federal aumentar as taxas de juro?

Ultimamente os investidores têm ignorado as notícias de violência e terrorismo, em grande medida porque a Reserva Federal continua a distribuir liquidez através das taxas de juros próximas do zero e compra de títulos.

O otimismo não diminuiu mesmo nos últimos dias: os ataques de Paris quase não influenciaram o índice CAC 40, e depois do abate do avião russo pela Turquia na semana passada, seguiu-se apenas uma venda de ações muito curta nos mercados internacionais. O crescimento do índice DAX não parou, mesmo quando as disputas sobre o fluxo dos refugiados na Alemanha suscitaram dúvidas quanto ao futuro político da chanceler alemã Angela Merkel.

Agora que a Reserva Federal está prestes a aumentar a sua taxa de referência pela primeira vez em nove anos, muitos preocupam-se que os mercados deixem de ser vulneráveis em relação à geopolítica. Tina Fordham, a analista principal mundial do Citigroup Inc., disse:

"O risco geopolítico atingiu o nível máximo desde os tempos da queda do muro de Berlim, e mesmo assim tal não afetou muito os mercados. A questão é se o aumento das taxas pela Fed dificultar o acesso à liquidez. Se for esse o caso, os riscos poderão ser notáveis."

Se assim for, pensa Fordham, então em 2016 o fator chave do risco para os mercados deixará de ser os problemas económicos, tais como o abrandamento da China, e passará a ser a política. Além disso, o próximo ano será marcado pelas eleições nos Estados Unidos e, talvez, pelo referendo sobre a adesão do Reino Unido à União Europeia.

Risco de instabilidade dos ativos

Segundo uma sondagem dos gerentes dos fundos, efetuada pelo Bank of America, 18% dos respondentesconsideram geopolítica a maior fonte do risco de instabilidade dos ativos, enquanto 38% apontam para a desaceleração na China e 23% receiam uma crise no mercado das obrigações dos países emergentes.

A probabilidade dos investidores finalmente chegarem a uma única opinião pode, afinal de contas, depender da capacidade dos estímulos adicionais do Banco Central Europeu protegerem os mercados sensíveis da ameaça do aumento da taxa de juros da Fed. Agora a Reserva Federal contém um montante equivalente a quase 25% do PIB norte-americano, enquanto o BCE tem aproximadamente 20% do PIB da União Europeia. Draghi pretende aumentar este número e é provável que ele o faça mais rapidamente se ampliar o seu programa de compra de ativos na próxima semana.

É a Europa que agora parece especialmente vulnerável, frisou Fordham. O analista preocupa-se com que os problemas passem a ser interligados. Muitos já veem ligações entre a migração, o terrorismo e uma provável saída do Reino Unido da União Europeia.

Markos Arana, um estrategista do Deutsche Bank AG, está mais otimista. Segundo ele, a política monetária mundial permanece extremamente suave mesmo com as taxas de juros mais altas nos EUA e afirma que há sempre alguma tensão geopolítica no mundo. Ele diz:

"Os mercados estão muito focados na Fed e no BCE. É pouco provável que tal mude em breve. Pode parecer que os riscos geopolíticos aumentaram, mas o mercado não reage a estes, e assim será adiante a não ser que realmente fiquem muito grandes."

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