A economia no universo de Star Wars
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Não é só uma brilhante obra de ficção científica – Star Wars também ilustra na perfeição vários princípios económicos.

O mais recente capítulo da saga “Star Wars”, “O Despertar da Força”, chegou anteontem (dia 16) a cinemas de todo o mundo. Muitos fãs fizeram fila para ver duelos de sabres de luz e acompanhar as vidas de personagens adoradas.

Mas os economistas, que conseguem transformar até as coisas mais entusiasmantes em algo chato, estarão mais interessados no estado da economia da Galáxia.

Será que a destruição da Estrela da Morte no final do sexto filme da série desencadeou uma crise financeira massiva, como especula Zachary Feinstein, um professor de engenharia financeira na Universidade de Washington em St. Louis? Que tipo de reformas estruturais poderá o novo governo galáctico adotar?

Em retrospetiva façamos então uma análise dos seis primeiros episódios da saga, em busca de amplas lições económicas.

A galáxia de “Star Wars” é tanto tecnologicamente avançada como economicamente estagnada, caracterizada por desigualdade e estruturas políticas rígidas e inadaptadas. Por outras palavras, não é completamente alienígena. Apesar de muito, muito distante, oferece três lições importantes aos residentes da Via Láctea.

Comércio

A primeira é o valor do comércio: quanto mais livre melhor. Muitos fãs ficaram desiludidos ao verificar que o acontecimento com que começou a primeira prequela (Episódio I, lançado em 1999) era uma disputa de comércio. Porém, na nossa galáxia, também os conflitos de comércio são uma rica fonte de tensão dramática. Entre as tecnologias mais importantes no universo de “Star Wars” encontra-se o hiperpropulsor, que permite aos viajantes desenvencilharem-se dos condicionantes da relatividade e percorrer distâncias fantásticas em alta velocidade. Sem o hiperpropulsor o movimento entre até os sistemas estrelares mais próximos demoraria anos ou décadas, mesmo assumindo velocidades próximas da velocidade da luz – tornando o comércio difícil e caro.

O comércio hiperpropulsionado, por outro lado, possibilita um nível mais alto de rendimentos por pessoa do que seria possível numa galáxia de autarquia planetária. Alguns planetas, tais como os que são caracterizados por uma diversidade de espécies e recursos – teriam um desempenho satisfatório numa galáxia sem comércio interplanetário. Mas aqueles como o planeta deserto Tatooine ou o planeta gelado Hoth seriam impedidos da possibilidade de fazer importações de outros mundos.

O comércio permite a planetas desolados especializarem-se na produção de matérias-primas valiosas – minerais no caso de Tatooine. Outros podem devotar a superfície inteira à agricultura ou à urbanização (a capital imperial, Coruscant, é uma cidade do tamanho de um planeta). Planetas ricos ganham em especializar-se em indústrias nas quais eles têm a maior vantagem comparativa, usando os lucros para obter os bens e servições que eles não são particularmente bons a produzir. Ao mesmo tempo, o comércio permite que planetas mais pobres exportem os recursos que tiverem de modo a poderem importar os bens necessários para os tornar habitáveis, especialmente a comida.

Os ganhos do comércio galáctico são reduzidos, contudo, pelos monopólios garantidos aos poderosos grupos industriais, tais como a Federação de Comércio, que invade o pacífico planeta Naboo no Episódio I. Os monopólios são problemáticos por vários motivos. Permitem ao monopolista cobrar um premiu, capturando benefícios que de outra forma iriam para produtores e consumidores.

Encorajam a criminalidade por aqueles que tentam furar o monopólio (como o contrabando de uma especiaria, um narcótico, por Han Solo, para o gangster Jabba). E encorajam os monopolistas a devotar recursos valiosos para conseguir as alianças políticas necessárias para os manter. Os burocratas da República, segundo o na altura senador de Naboo Sheev Palpatine, são pagos pela Federação de Comércio.

Política

Apesar da globalização, ou melhor, da galaxização, ser uma mais-valia económica, cria uma série de desafios políticos que não são fáceis de gerir. É esta a segunda lição. Dani Rodrik, um economista da Universidade de Harvard, argumenta que a globalização evita que os países mais do que dois de três objetivos desejáveis: integração económica, soberania nacional e democracia.

Os habitantes do universo Star Wars enfrentam problemas similares: o preço da participação na economia galáctica é a aceitação de regras que irritam os governos planetários. Em Episódio II, a “Confederação de Sistemas Independentes” decide separar-se da República como resposta a medidas que dizem impor um fardo económico sobre os planetas mais pobres. A Aliança Rebelde que combate o Império nos Episódios IV a VI está a tentar restaurar a democracia e a soberania planetária, apesar de tal poder danificar a integração económica possibilitada pelo governo unitário.

Onde estão os droids?

A terceira lição é para aqueles que estão a considerar várias opções de carreira numa era de máquinas inteligentes. Os humanos da saga ainda trabalham em tarefas perigosas e desagradáveis – tais como pilotar o equivalente galáctico de caças, por exemplo, e escavar em perigosas minas de especiarias – apesar das multidões de robôs inteligentes que povoam a galáxia. De facto, os robôs de Star Wars, apesar de todo o aparato tecnológico, não parecem conseguir fazer aquilo tudo o que os humanos conseguem.

Quando Obi-Wan Kenobi, um guerreiro Jedi, vê um exército de clones humanos, prestes a tornarem-se tropas de assalto, é-lhe dito que eles são “imensamente superiores aos androides, capazes de pensamento e ação independentes”. Isso é tranquilizador.

Porém, os humanos também trabalham devido às desigualdades do sistema político da galáxia. Anakin Skywalker, o Jedi com problemas emocionais que mais tarde se torna Darth Vader, aparece primeiro nas séries como um escravo em Tatooine. O filho de Anakin, Luke, apesar de não ser um escravo, recolhe humidade atmosférica em relativa pobreza, enquanto aqueles que estão no coração da galáxia vivem num ambiente de luxo. Os humanos irão trabalhar por ninharias para conseguir sobreviver. Tal poderá levá-los ao lado negro da força. Pior, poderá fazer com que espíritos inquiridores questionem o que é que causa uma distribuição tão desigual da riqueza, tornando-os nas criaturas mais assustadoras que existem: economistas.

Fonte: The Economist

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