Encarar a economia global com uma nova mentalidade
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Como as empresas e os investidores descobriram dolorosamente em 2008, a liquidez pode ser mais elusiva precisamente quando é mais necessária.

Tanto por razões estruturais como operacionais, há muitos motivos para acreditar que a liquidez se tornará instável quando os mercados encontrarem a próxima bolsa de ar. A agitação nas últimas semanas providenciou uma ilustração vívida de que a economia global e os mercados financeiros estão a passar por duas transições.

O que é que se passa

A primeira tem que ver com a transição de um regime prolongado de volatilidade financeira reprimida para um ambiente de instabilidade crescente.

A razão principal é que os bancos centrais estão com menos vontade ou capacidade de suprimir a volatilidade. A segunda envolve a saída em curso de folhas de balanço contra-cíclicas. Face a uma regulamentação mais apertada e a um apetite muito menor da parte do mercado por desvios de ganhos a curto-prazo, os corretores mostraram que estão com muito menos vontade de aumentar os seus inventários quando o mercado tem comportamentos inesperados.

Liquidez subestimada

Mesmo assim a liquidez ainda tende a ser subapreciada pelos investidores financeiros – tanto em termos absolutos como relativos a empresas que mesmo hoje estão inclinadas a manter algum dinheiro nos seus balancetes.

Há duas razões principais para que os investidores financeiros tendam a colocar tão pouco valor na liquidez, e assim subestimarem a variedade de opções que a mesma permite.

  • Primeiro, têm sido repetidamente condicionados a acreditar que os bancos centrais entrarão em cena para normalizar os mercados – e que o fazem aos primeiros sinais de stress real.
  • Segundo, liquidez transporta um sinal negativo na medida em que normalmente involve prescindir de algum rendimento (e possivelmente apreciação do capital) potencial relativamente a outras formas em como o dinheiro poderia ser mobilizado, por exemplo investindo em obrigações de altas yields, mas sujeito a uma série de fatores de risco.

Não pretendendo questionar a validade de tais argumentos, os mesmos não deveram ser usados para ofuscar as realidades estruturais em jogo. Além disso, quanto mais os bancos centrais continuam a desempenhar o seu papel da década passada de ser quem distribui as cartas, ou seja, seguindo políticas dedicadas a reprimir a volatilidade dos mercados e artificialmente a estimular o preço dos ativos – quanto mais o risco subsequente da sua efetividade e autonomia operacional.

O mundo mudou

Isto não é para dizer que os investidores financeiros deveria apressar-se a liquidar as suas posições e ter tudo em dinheiro. Há evidências claras de que a distribuição de ganhos potenciais despe período de transição tem dois modos, como probabilidades relativamente altas tanto de finais bons como maus.

Em vez disso os investidores deveriam tentar um posicionamento de liquidez sintonizado para este tipo de distribuição, à medida que a economia global se aproxima de uma interseção de três vias, ou aquilo a que os britânicos chamam uma junção em T.

O caminho que a economia global está a seguir atualmente irá efetivamente chegar ao fim em breve, e irá transformar-se em um ou dois caminhos bastante diferentes, que representam alternativas contrastantes: um mundo materialmente melhor ou materialmente pior.

Não há nada de inevitável em relação ao caminho que se aproxima. O que é que as empresas, governos e famílias podem fazer terá uma influência importante no que atualmente são alternativas de probabilidade equilibrada. Por outras palavras, o principal catalisador para que se siga o bum caminho no cruzamento em T é uma combinação de melhores políticas.

Tal poderá acontecer se o processo de desenvolvimento de políticas em alguns países sistematicamente importantes experimentar um “momento Sputnik” que una os políticos para uma visão comum e um objetivo nacional. Tal iria permitir a implementação sustentada de reformas estruturais que favorecessem o crescimento, uma procura agregada mais equilibrada, e a renegociação de dívida pública, juntamente com uma coordenação de políticas melhorada. O desafio é garantir que o caminho seguido no cruzamento em T leve a uma melhor situação económica e financeira, e não pior. De outra forma, a economia global irá encontrar-se condenada a um crescimento ainda menor, maior desigualdade, e instabilidade dos mercados – tudo coisas que iriam colocar pressão na coesão política e social enquanto aumentariam o risco de tensões geopolíticas.

O que fazer

Permanece porém difícil predizer exatamente quando chegaremos ao tal cruzamento em T, ou que caminho deveremos seguir. Mas a situação atual tem menos que ver com o destino e mais com as alternativas que nós coletivamente acabamos por seguir, consciente ou inconscientemente. Como resultudo, uma questão central é como é que provavelmente iremos reagir quando o ambiente a que nos habituámos dá lugar a um mais incerto e o que é que poderemos fazer para aumentar a nossa probabilidade de sucesso.

Uma abordagem tentadora é esperar que outros nos tornem as coisas melhores. Explorar as pontes que os bancos centrais a tanto custo construíram e apoiados pelo sistema político, os governos podem e devem fazer muito para melhorar a distribuição de probabilidade de resultados futuros, tanto por si, através de melhor cooperação multilateral, como via parcerias público-privadas.

Mas todos nós temos um papel a desempenhar. Isto não é só uma questão governamental. Nós podemos e devemos entrar em ação, e podemos começar a fazê-lo reconhecendo as alterações que se avizinham e o que fazer em relação às mesmas.

A enfase deveria ser em desenvolver respostas para distribuições bimodais que não nos são familiares. Quando tentamos antecipar eventos futuros, a maioria de nós recorre a modelos que contêm distribuições normais previsíveis que incluem uma probabilidade dominante de determinado resultado. Mas à medida em que entramos num mundo bimodal, com as suas altas probabilidades de resultados tanto bons como maus, as nossas reações habituais serão muito menos efetivas, arriscando paralisia explícita ou inércia ativa.

Reconhecer que a mudança começou e perceber esta transição básica é o primeiro paço em direção a uma melhor navegação por entre as circunstâncias que se aproxima. É uma condição necessária, mas não é suficiente. Deverá ser suplementada pelas ferramentas apropriadas, estruturas renovadas, processos atualizados, mentalidades abertas e modificações de comportamento.

Fonte: BloombergView

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