As previsões do governo são mais otimistas do que as da Comissão Europeia, FMI ou mesmo Banco de Portugal.
O governo poderá estar a ser demasiado otimista quanto às previsões económicas para o país – num país onde o pessimismo é uma característica nacional.
O ministro das Finanças, Mário Centeno, prevê um crescimento de 1,8% para 2016 e 2017 e uma aceleração até 2,1% em 2020 – o que seria o mais rápido crescimento numa década. Tal torna o governo um outlier, com uma visão muito mais otimista do que a da Comissão Europeia, do Fundo Monetário Internacional e até mesmo do Banco de Portugal.
De acordo com Filipe Garcia, economista da consultora financeira Informação de Mercados Financeiros SA: “Mais do que otimistas as previsões do governo podem ser vistas como uma ilusão (...) é muito pouco provável que estas previsões se concretizem.”
Portugal está a contar com um crescimento mais forte e com maior controlo de gastos para reduzir o seu défice orçamental para metade este ano – para 2,2% do PIB – e depois para 1,4% em 2017 – mesmo tendo restabelecido a remuneração dos funcionários públicos que tinha sido cortada durante o período de resgate.
O otimismo parece contrastar com o pessimismo sentido pela maioria da população. Uma sondagem do Eurobarómetro publicada em dezembro mostrou que os portugueses são os segundos mais pessimistas (em relação à respetiva economia) da zona euro – depois dos gregos.
As previsões do governo fazem parte de um plano orçamental de longo prazo apresentado à Comissão Europeia – que avançou que prevê um crescimento mais lento e que os riscos “se inclinam para o lado negativo”.
Portugal precisa de convencer a UE e os investidores de que continua comprometido com uma disciplina fiscal – nomeadamente para garantir acesso aos mercados.
Portugal terá de cumprir determinadas metas para “convencer os investidores a comprar dívida portuguesa de novo” – Afirmou José Maria Brandão de Brito, economista-chefe no BCP. “É importante para a credibilidade de Portugal”.
Os homólogos de Centeno na zona euro aconselharam-no a fazer planos para medidas adicionais caso se veja em apuros quanto ao cumprimento dos seus objetivos. No mês passado o governo reiterou os seus planos para virar a página sobre a austeridade restabelecendo os salários da função pública.
Mesmo após os comentários da Comissão Europeia o governo manteve a sua posição: está confiante de que irá cumprir os objetivos orçamentais. A nova previsão da UE “não justifica qualquer alteração das metas estabelecidas”.